São Paulo, sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

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Após alta do PIB, China pode cortar estímulo

Crescimento de 8,7% em 2009 supera expectativas e eleva temores de inflação e superaquecimento da economia

Partido Comunista debate dose do aperto na economia, pois medidas de desestímulo em 2008 contribuíram para a alta do desemprego no país


DE PEQUIM

O crescimento de 8,7% do PIB (Produto Interno Bruto, soma de todas as riquezas produzidas em um país) em 2009, aliado ao aumento dos preços ao consumidor de 1,9% em dezembro, elevou os temores de que o governo da China precisará apertar mais o crédito e desacelerar seu pacote de estímulo para evitar o superaquecimento da economia.
Em 2010, o PIB deve crescer entre 9,5% e 10%, segundo previsões feitas ontem pela maioria dos economistas dos grandes bancos situados em Xangai e Hong Kong.
A dosagem no aperto das políticas expansivas é a grande questão que aflige o Partido Comunista. O início da desaceleração econômica chinesa, no segundo semestre de 2008, foi causado por medidas que visavam conter a disparada de preços de imóveis nas grandes cidades e conter a inflação, que chegou a um recorde de 8,9% em fevereiro de 2008.
Para muitos analistas, as medidas para conter a economia aquecida e a inflação foram fortes demais -e ainda coincidiram com a recessão global que atingiu os três maiores mercados da China: União Europeia, Estados Unidos e Japão.
Então o PIB cresceu apenas 6,8% entre outubro e dezembro de 2008 (depois de superar 11% em 2007), e 20 milhões de chineses perderam o emprego com a crise da construção civil e a queda das exportações.
Comparado a esse trimestre sombrio, o último trimestre de 2009 teve crescimento de 10,7%. Em novembro de 2008, o governo anunciou um pacote de estímulo de US$ 585 bilhões, principalmente investidos em grandes projetos de infraestrutura, além da concessão recorde de crédito, equivalente a R$ 2,5 trilhões (ou cerca de 90% do PIB brasileiro) pelos bancos estatais.
Segundo estimativas da Academia Chinesa de Ciências Sociais, centro de estudos do governo, 90% dos que perderam o emprego já se recolocaram no mercado de trabalho. Pelas contas locais, o PIB precisa crescer ao menos 8% para gerar os 20 milhões de empregos que a China demanda anualmente -13 milhões de camponeses que partem para as cidades mais 7 milhões de recém-formados por ano.
Mas, ao contrário do pessimismo do ano passado, a China vive um momento otimista agora, a poucas semanas do Ano Novo Chinês, o principal feriado do país -e maior período de descanso em uma nação onde não há férias regulamentadas-, quando milhões compram presentes e viajam para visitar as suas famílias no interior do país.
Tigres de plástico e papel dourado enfeitam vitrines, como símbolo da sorte do animal que marca o novo ano no horóscopo chinês.

Hora de desacelerar
O sucesso da recuperação traz de volta os problemas que causaram a desaceleração: o preço do metro quadrado nas 70 maiores cidades chinesas aumentou 7,8% apenas em dezembro, e o índice de preços ao consumidor subiu 1,9%, um forte aumento comparado com o 0,6% em novembro e os nove meses de deflação anteriores. Alimentos subiram 5,2%.
"Minha maior preocupação é como controlar os aumentos de preço enquanto se promove o crescimento econômico", afirmou Ma Jiantang, diretor do Escritório Nacional de Estatísticas, em entrevista coletiva, após a divulgação dos números do crescimento do PIB, na manhã de anteontem.
"Outra preocupação que todos nós temos é que o preço dos imóveis está subindo rápido demais", completou.
"Preços de itens que importam aos consumidores, como alimentação, moradia e serviços, estão crescendo mais rápido que os salários, e isso preocupa o governo", disse o economista Ben Simpfendorfer, do Royal Bank of Scotland em Hong Kong. "Isso aumenta o temor por aperto na política."
O banco xentral já estabeleceu medidas para tentar desacelerar a economia outra vez, aumentando a exigência de reservas compulsórias para os bancos, a fim de reduzir a quantidade de capital para o crédito.
O economista Qu Hongbin, do HSBC de Hong Kong, diz acreditar que o governo precisará cancelar alguns projetos caros de infraestrutura, além de controlar o crédito para atingir a desaceleração. (RJL)


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