São Paulo, sexta, 22 de janeiro de 1999

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

REFLEXO GLOBAL
Gigantes da mídia associam crise nos mercados mundiais a incertezas sobre a situação financeira do Brasil
Imagem do país continua em queda livre

CLÓVIS ROSSI
do Conselho Editorial


Uma semana após a adoção da livre flutuação do câmbio e menos de 24 horas após uma vitória no Congresso que o próprio governo considerava crucial, a visão externa sobre o Brasil continuava a se deteriorar.
A evidência mais forte era dada pelo título da edição eletrônica do jornal de maior circulação nos EUA, "The Wall Street Journal": "Ações estão fracas na Europa enquanto persistem preocupações sobre o Brasil". O texto atribuía a performance dos mercados internacionais às incertezas sobre a estabilidade financeira no Brasil.
Outra das grandes grifes do jornalismo mundial, "The New York Times", acolhia, em sua versão eletrônica, telegrama da agência norte-americana Associated Press relatando a queda tanto das Bolsas como da moeda brasileiras.
"A culpa pelo declínio do real é das inquietudes do mercado sobre tudo, desde as altas taxas locais de juro até a especulação sobre possível desvalorização do yuan chinês", diz parte do texto.
Na Europa, a deterioração de expectativas sobre o Brasil aparecia nas manchetes econômicas da edição eletrônica do "Financial Times" britânico, uma espécie de bíblia dos mercados.
O "FT" resumia declarações feitas no Japão por Barton Biggs, presidente da firma de investimentos Morgan Stanley Dean Witter (EUA), para quem a crise cambial brasileira fará vítimas na América do Sul, "com a Argentina particularmente vulnerável".
De fato, na véspera, o governo argentino já havia sido obrigado a aumentar os juros em 50%, jogando-os para 15,7%.
É óbvio que juros mais altos reduzem o ritmo de atividade econômica, o que torna improvável que o crescimento econômico argentino este ano possa atingir os 3,5% previstos pelo governo.

Para baixo
Pior: um dos grandes motores econômicos do planeta, a UE (União Européia), também vai rever, para baixo, a expectativa de crescimento de seus 15 países, conforme antecipou Yves-Thibauld de Silguy, seu comissário para Assuntos Monetários.
"Embora a evolução da atividade econômica geral se tenha ajustado em grande medida às previsões, as perspectivas econômicas de curto prazo da UE são agora menos prometedoras do que em 1998", diz relatório da Comissão Européia.
Detalhe: o mais recente relatório da Comissão já havia rebaixado (de 2,6% para 2,4%) a expectativa de crescimento para 1999. Ou seja, a previsão era de um crescimento meio ponto percentual inferior aos 2,9% de 1998.
Outra má notícia para o Brasil: o Banco Mundial acaba de informar que são "frágeis" as perspectivas de recuperação das economias asiáticas que seguiram programas similares ao aplicado no Brasil.
Pior: cria-se um círculo vicioso, na opinião de Jean-Michel Severino, do Banco Mundial, na medida em que as economias asiáticas são suscetíveis a choques externos, como a desvalorização do real. Posto de outra forma: a desvalorização do real dificulta a recuperação asiática, o que, por sua vez, repercute em outros mercados emergentes, como o próprio Brasil.
A Tailândia, primeira vítima da crise financeira global, está há um ano e meio na terapia intensiva do FMI, o que não impediu que sua economia sofresse, em 1998, uma brutal retração (queda de 8% na produção de bens e serviços).
Como se fosse pouco, Severino prevê "considerável aumento" no desemprego este ano.



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.