|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
REFLEXO GLOBAL
Gigantes da mídia associam crise nos mercados mundiais a incertezas sobre a situação financeira do Brasil
Imagem do país continua em queda livre
CLÓVIS ROSSI
do Conselho Editorial
Uma semana
após a adoção
da livre flutuação do câmbio e
menos de 24 horas após uma vitória no Congresso que o
próprio governo considerava crucial, a visão externa sobre o Brasil
continuava a se deteriorar.
A evidência mais forte era dada
pelo título da edição eletrônica do
jornal de maior circulação nos
EUA, "The Wall Street Journal":
"Ações estão fracas na Europa enquanto persistem preocupações
sobre o Brasil". O texto atribuía a
performance dos mercados internacionais às incertezas sobre a estabilidade financeira no Brasil.
Outra das grandes grifes do jornalismo mundial, "The New York
Times", acolhia, em sua versão eletrônica, telegrama da agência norte-americana Associated Press relatando a queda tanto das Bolsas
como da moeda brasileiras.
"A culpa pelo declínio do real é
das inquietudes do mercado sobre
tudo, desde as altas taxas locais de
juro até a especulação sobre possível desvalorização do yuan chinês", diz parte do texto.
Na Europa, a deterioração de expectativas sobre o Brasil aparecia
nas manchetes econômicas da edição eletrônica do "Financial Times" britânico, uma espécie de bíblia dos mercados.
O "FT" resumia declarações feitas no Japão por Barton Biggs, presidente da firma de investimentos
Morgan Stanley Dean Witter
(EUA), para quem a crise cambial
brasileira fará vítimas na América
do Sul, "com a Argentina particularmente vulnerável".
De fato, na véspera, o governo argentino já havia sido obrigado a
aumentar os juros em 50%, jogando-os para 15,7%.
É óbvio que juros mais altos reduzem o ritmo de atividade econômica, o que torna improvável que
o crescimento econômico argentino este ano possa atingir os 3,5%
previstos pelo governo.
Para baixo
Pior: um dos grandes motores
econômicos do planeta, a UE
(União Européia), também vai rever, para baixo, a expectativa de
crescimento de seus 15 países, conforme antecipou Yves-Thibauld de
Silguy, seu comissário para Assuntos Monetários.
"Embora a evolução da atividade
econômica geral se tenha ajustado
em grande medida às previsões, as
perspectivas econômicas de curto
prazo da UE são agora menos prometedoras do que em 1998", diz relatório da Comissão Européia.
Detalhe: o mais recente relatório
da Comissão já havia rebaixado
(de 2,6% para 2,4%) a expectativa
de crescimento para 1999. Ou seja,
a previsão era de um crescimento
meio ponto percentual inferior aos
2,9% de 1998.
Outra má notícia para o Brasil: o
Banco Mundial acaba de informar
que são "frágeis" as perspectivas
de recuperação das economias
asiáticas que seguiram programas
similares ao aplicado no Brasil.
Pior: cria-se um círculo vicioso,
na opinião de Jean-Michel Severino, do Banco Mundial, na medida
em que as economias asiáticas são
suscetíveis a choques externos, como a desvalorização do real. Posto
de outra forma: a desvalorização
do real dificulta a recuperação
asiática, o que, por sua vez, repercute em outros mercados emergentes, como o próprio Brasil.
A Tailândia, primeira vítima da
crise financeira global, está há um
ano e meio na terapia intensiva do
FMI, o que não impediu que sua
economia sofresse, em 1998, uma
brutal retração (queda de 8% na
produção de bens e serviços).
Como se fosse pouco, Severino
prevê "considerável aumento" no
desemprego este ano.
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|