São Paulo, quarta-feira, 22 de fevereiro de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ANÁLISE

Abastecimento preocupa mais que preço

MAURO ZAFALON
DA REDAÇÃO

Ao mesmo tempo em que os usineiros melhoram o caixa neste início de ano com o aumento dos preços do álcool, uma forte preocupação recai sobre o setor: a do abastecimento.
O setor vem há vários anos em busca de uma sustentação para a demanda de álcool no mercado interno, o que começou a ocorrer com o lançamento dos carros bicombustíveis.
A elevação dos preços do álcool ocorre devido à conjugação de vários fatores, mas principalmente pela aceleração da demanda, tanto interna como externa.
Essa procura maior por álcool pode até gerar problemas no abastecimento, hipótese que o setor não quer nem ouvir falar, devido aos estragos ocorridos no final do Proálcool, há duas décadas.
Os problemas do setor começaram com a queda na útlima safra, que ficou em 14,4 bilhões de litros, 600 milhões de litros a menos do que o previsto.
Além disso, o consumo interno, com o avanço das vendas dos carros bicombustíveis, ficou 2% acima das previsões.
Além da demanda interna, a externa também está aquecida. As exportações de álcool saltaram do patamar de 300 milhões de litros há três anos para 2,4 bilhões de litros atualmente, segundo dados do setor.

Entressafra colabora
A pressão nos preços aumentou ainda mais porque o setor entrou na entressafra atual com baixos estoques, o que forçou as distribuidoras a antecipar as compras para garantir participação no mercado.
Esse cenário forçou o rompimento do acordo dos usineiros com o governo. Nos bastidores, o setor acha que esse acordo não deveria ter sido feito.
O rompimento do acordo e a elevação de preços não garantem, no entanto, um cenário tranqüilo para o consumidor. Os preços vão continuar subindo e o cenário de março e abril deve ser ainda mais crítico do que o deste mês.
A redução dos preços deve ocorrer somente com a entrada plena da safra, após abril. Até lá, existe a previsão de antecipação da safra, que pode gerar 900 milhões de litros.
O problema dessa antecipação da safra é que ela depende ainda de fatores climáticos favoráveis. Do contrário, mesmo com a elevação dos preços não compensa aos produtores essa antecipação porque a cana-de-açúcar não está no ponto ideal e a produtividade é menor.
Essa pressão dos preços vai continuar refletindo no bolso dos consumidores e será repassada para os índices de inflação nas próximas semanas.
A partir de maio, no entanto, se a safra caminhar bem, os preços despencam, como sempre ocorre nesse período do ano.


Texto Anterior: Com mudança, gasolina pode subir até 2,6%
Próximo Texto: Combustíveis: Acordo com governo está desfeito, diz usineiro
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.