São Paulo, quarta-feira, 22 de fevereiro de 2006

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REFLEXOS

Mudanças de preços serão pouco significativas, dizem especialistas

LUCIANA BRAFMAN
DA SUCURSAL DO RIO

JANAINA LAGE
DA FOLHA ONLINE, NO RIO

A redução do álcool anidro na mistura da gasolina vendida nos postos vai resultar em aumento de preços ao consumidor. A alta, porém, será pouco significativa e temporária, de acordo com a maioria dos analistas de mercado ouvidos pela Folha.
Isso porque, apesar de mais cara, a gasolina deve forçar, num segundo momento, uma queda no preço do álcool, resultado de um movimento de regulação de mercado por meio de ajuste entre oferta e demanda.
"Haverá impacto nos preços, mas não será nada substancial", afirmou Luiz Otávio Broad, analista da corretora Ágora Sênior. Segundo Broad, a alta inicial deve ser compensada por uma queda no preço do álcool, já que haverá redução da demanda por esse combustível. "Aí, a gasolina volta a cair nas bombas."
O analista Luiz Caetano, da Banif Primus Corretora, também afirmou que a mudança não será significativa na bomba. "Quando o preço do álcool subiu, não necessariamente houve grande impacto no preço da gasolina". Para Caetano, o preço do álcool tende a cair e deve compensar o maior percentual de gasolina.
O especialista Adriano Pires, do CBIE (Centro Brasileiro de Infra-Estrutura), disse que a alta é inevitável, a não ser que o governo abra mão de parte da Cide (Contribuição de Intervenção sobre o Domínio Econômico), atualmente em R$ 0,28 por litro de gasolina vendida nas refinarias.
Já Gina Montone, do ABN AMRO Real, não projeta uma alta nas bombas. "A Petrobras vai vender mais no mercado doméstico, que remunera melhor do que o de exportação. A oferta brasileira de gasolina é maior do que o consumo, por isso o excedente é exportado. O consumo nacional vai aumentar, mas existe oferta para isso, então não vai ter pressão de aumento", afirmou.
No que depender da Petrobras, não haverá mesmo pressão de aumento, pelo menos nas refinarias, de acordo com o diretor financeiro e de relações com investidores da Petrobras, Almir Barbassa. Ele afirmou que não há motivos para mexer nos preços do diesel e da gasolina.
"Não identificamos nenhum elemento que nos leve a fazer o reajuste. A variação que houve na taxa cambial no final do último trimestre já foi desfeita e hoje temos até um ganho para o real -mas ainda não é suficiente, no conjunto das variações, para nos levar a alterar o painel de preços no mercado doméstico. Os principais derivados, diesel e gasolina, estão num patamar adequado", disse Barbassa, durante teleconferência ontem pela manhã, quando apresentou os resultados da Petrobras para investidores e analistas do mercado de capitais.

Questão ambiental
De acordo com nota divulgada pela Cetesb (Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental), a redução do teor de álcool de 25% para 20% na gasolina distribuída no país deve representar um aumento nas emissões de monóxido de carbono e de hidrocarbonetos, podendo representar uma piora no ar de São Paulo.
Na nota, o presidente da agência ambiental paulista, Rubens Lara, diz que a alteração nos índices de emissão ocorrerá, principalmente, com os veículos carburados, que não dispõem da tecnologia de injeção eletrônica.
Para Carlos Rittel, coordenador da campanha de meio ambiente do Greenpeace, a decisão do Ministério deve ser analisada de forma mais abrangente e não apenas em relação ao nível de emissão de gases na atmosfera.
"A decisão é ruim porque vai aumentar a poluição nas grandes cidades. Se diminui a quantidade desse combustível misturado à gasolina, os gases serão mais poluentes. Mas não é só isso. Temos de pensar também na sustentabilidade das plantações de cana."


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