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OPINIÃO ECONÔMICA
Os juros já podem ter uma queda significativa
JULIO GOMES DE ALMEIDA
Não houve discordância
quanto a um ponto central
no seminário promovido no último dia 16 em São Paulo e que reuniu economistas, políticos e empresários para debater o tema
"Política Monetária e Crescimento Econômico no Brasil": as taxas
de juros podem e devem cair no
país. Em outras palavras, ninguém discordou da tese de que os
juros estão em patamar errado,
embora cada um dos seis palestrantes (dentre outros, os ex-presidentes do Banco Central Ibrahim Eris e Armínio Fraga) tivesse
a sua própria avaliação quanto à
magnitude do erro, assim como
quanto às medidas de ajuste da
política monetária que se fazem
necessárias para facilitar o processo de queda das taxas de juros.
Ou seja: a redução dos juros pode ser feita incondicionalmente,
sendo, porém, mais consistente se
for acompanhada de outras medidas. O Iedi vem alertando precisamente sobre esse ponto, vale dizer, que a queda da taxa de juros
pode ter início desde já, sem condicionalidades, pois importantes
mudanças na economia a tornaram muito menos propensa a surtos inflacionários. Vamos citar
apenas alguns dentre muitos
exemplos.
No nível empresarial, os avanços quanto à produtividade, à logística e à gestão permitem que o
setor produtivo tenha muito
maior flexibilidade no ajuste de
capacidade produtiva, o que o
torna capaz de abastecer os mercados de bens e serviços mesmo
na hipótese de significativa reativação da demanda. No nível macroeconômico, os elevados superávits comerciais e a acumulação
de reservas dos últimos anos já
permitem baixos níveis de risco,
para os quais, cedo ou tarde, deverá convergir a taxa de juros interna.
Contudo, é necessário assegurar
que a redução da nossa taxa de juros para um nível semelhante ao
das economias emergentes de
maior êxito econômico (em torno
a 2% a 5% reais) tenha sustentação a médio e longo prazos e, para
isso, será preciso que o país venha
a promover uma expressiva redução do gasto público que atualmente já supera 40% do PIB e que
vem crescendo a uma taxa muito
alta (10% em termos reais). O
agravante em nossa situação é
que não devemos seguir à risca
certos exemplos de ajuste público
em países desenvolvidos apontados como modelos de referência,
pois, ao contrário desses casos, o
Brasil não pode sacrificar os gastos sociais. Teremos que ser mais
criativos e, como alternativa aos
cortes dramáticos na área social,
devemos dar grande ênfase ao desenvolvimento gerencial do setor
público, à supressão de privilégios
e ao combate à informalidade,
além de aprofundar as reformas
(da previdência, tributária etc.).
Ademais, será importante fazer
com que a capacidade de produção cresça à frente do consumo. O
objetivo é aumentar a taxa de investimento da economia e afastar
de vez o fantasma inflacionário
derivado de uma insuficiente evolução da capacidade produtiva
diante de uma reativação da demanda. Um programa de investimento é sugerido para incentivar
por pelo menos três anos o investimento privado por meio da redução dos elevados custos tributário e de financiamento do investimento que vigoram no Brasil. E,
ao nível do setor público, são imprescindíveis um programa de
sustentação dos recursos para inversões em infra-estrutura, educação e inovação, além de ações
para desenvolver a regulação para
atrair investimentos privados em
infra-estrutura.
Maior arrojo na redução da taxa
de juros o que é perfeitamente
factível nas condições atuais e a
execução de planos audaciosos de
ajuste do setor público e de retomada de investimentos serão as
garantias de que a economia enfim deixará para trás o longo período de sacrifícios impostos pelos juros excessivos para retomar
o caminho do desenvolvimento.
Julio Gomes de Almeida é diretor-executivo do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial).
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