São Paulo, quarta-feira, 22 de fevereiro de 2006

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VAREJO

Alta foi de 5% em 2005, diz a Abras; marcas próprias e de 2ª linha ajudam

Supermercado eleva vendas, mas de itens mais baratos

ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Os supermercados venderam 5% mais mercadorias em 2005 na comparação com o ano anterior, o que permite afirmar que o brasileiro comprou mais produtos alimentícios, de higiene, beleza e limpeza no ano passado.
O Estado de São Paulo, exceto o interior, teve desempenho inferior à média nacional: o aumento nas vendas foi de 3,5%, abaixo do registrado no Nordeste, Sul e Centro-Oeste.
Para 2006, há forte expectativa de expansão também de um dígito, por conta da possível melhora na demanda doméstica a partir de março.
Os dados foram apresentados ontem pela Abras (Associação Brasileira de Supermercados), em pesquisa encomendada à consultoria ACNielsen, especializada em consumo.
Não é possível comparar o resultado do ano passado com taxas históricas de outros períodos porque o levantamento tem apenas dois anos. É possível concluir, no entanto, que esse aumento no consumo não é reflexo da melhora expressiva no poder de compra da população, afirma a associação do setor.
"O que aconteceu é que o brasileiro comprou mais produtos mais baratos. Por isso o volume comercializado aumentou", disse João Carlos de Oliveira, presidente da Abras.

Marcas próprias
Na prática, é um movimento muito parecido com aquele vivido pela indústria e pelo varejo em 2003. Naquele ano, quando a renda sofreu forte baque e os juros e o câmbio sofreram altas, o consumidor apertou o cinto e, com o mesmo salário, comprou mais mercadorias para a casa.
Naquele ano, como em 2005, não houve mágica, explica a Abras. A demanda maior, que puxou esse resultado para cima no ano passado, ficou concentrada principalmente nos produtos em promoção, nas mercadorias chamadas "marcas próprias" (que têm o nome da loja estampado na embalagem) e nas marcas de segunda linha de grandes fabricantes (aquelas lançadas recentemente a preços competitivos).
O consumo voltado para esses segmentos é resultado de um período de vacas magras, em que o rendimento da população não deslanchou.
Em certas regiões, como São Paulo, andou muito em linha com o resultado pífio da média nacional. Segundo o IBGE, o rendimento médio real do brasileiro subiu 2% no ano passado, enquanto o número de vagas abertas avançou apenas 1%.
Em 2005, o volume de vendas foi puxado pelo consumo maior de perecíveis industrializados (frios, produtos em lata), com alta de 9% em relação a 2004. A seguir, no ranking dos melhores desempenhos estão os itens de bazar (têxteis) e a mercearia salgada (salgadinhos, pães).
Na avaliação dos especialistas da ACNielsen, esse resultado mais forte em perecíveis resume de forma clara como o brasileiro se comportou no ano passado quanto aos desejos de compra.
"Fomos analisar os dados com a consultoria e aí percebemos que isso não quer dizer que o brasileiro comprou mais queijo e presunto. Ele foi comprar a mortadela, mais barata, que não deixa de ser um perecível, mas tem preço menos salgado", diz o presidente da Abras.

Geografia do consumo
Para 2006, a entidade acredita que uma eventual recuperação na renda tenda a levar o consumidor a optar por produtos de maior valor agregado e passe, aos poucos, a abandonar essa cesta de mercadorias com itens mais modestos.
No entanto a Abras reforça que "isso é na teoria". Segundo Oliveira, "como o consumidor vai se comportar ainda é uma grande dúvida".
Na análise realizada pela ACNielsen, é possível ainda ver o desempenho na demanda por regiões no país. Os Estados do Nordeste tiveram forte aumento na quantidade de itens vendidos. A alta em relação a 2004 foi de 8,7%.
De acordo com a Federação do Comércio do Maranhão, essa alta é reflexo, em boa parte, da força do Bolsa-Família, projeto social do governo federal que destina recursos para a população pobre. Como essa ação social tem mais peso em regiões com população de menor renda, quando o projeto se expande o consumidor local acaba comprando mais.
Entre as regiões com pior resultado está a que compreende os Estados de Minas Gerais, Espírito Santo e interior do Rio de Janeiro. Nesses locais, na média geral de 2005 houve aumento de 2% na venda de mercadorias em comparação com o ano anterior.
Em linhas gerais, ao se comparar todos os desempenhos por áreas analisadas pela consultoria, a região de São Paulo (com alta de 3,5%) teve o terceiro pior resultado entre as áreas analisadas.


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