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País anuncia que "zerou" dívida externa
Em meio à crise financeira global, BC antecipa anúncio de que ativos brasileiros no exterior superam dívidas em US$ 4 bi
Fato inédito na história do país, Meirelles vê "marco expressivo" que sinaliza maior estabilidade da economia brasileira
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Na tentativa de mostrar que
o Brasil está bem preparado para enfrentar as turbulências do
cenário internacional -e que,
por isso, mereceria mais confiança do mercado financeiro e
de agências de classificação de
risco-, o Banco Central anunciou ontem que o país "zerou"
sua dívida externa pela primeira vez na história.
Segundo o BC, os ativos que
governo e setor privado possuíam no exterior ao final de janeiro já superavam o valor de
todo o endividamento contraído em outros países. Isso significa que o Brasil seria capaz de
pagar toda a dívida externa
usando só as aplicações que
tem no exterior, o que sinaliza
menor dependência dos fluxos
internacionais de capital.
Em tese, mesmo que o país
deixasse repentinamente de
receber dólares do exterior, um
calote na dívida externa poderia ser evitado utilizando-se recursos que governo e empresas
já possuem atualmente.
Segundo relatório publicado
pelo BC na internet, em janeiro
os ativos brasileiros no exterior
superavam a dívida externa em
cerca de US$ 4 bilhões, revertendo o quadro observado até
dezembro do ano passado,
quando, ao contrário, o endividamento era maior do que as
aplicações em US$ 4,4 bilhões.
Ainda de acordo com o texto,
"diante de um cenário internacional caracterizado por aumento considerável na incerteza, pela volatilidade dos mercados financeiros e a desaceleração da atividade econômica, a
melhoria desses indicadores
tende a mitigar, embora sem
anular por completo, o impacto
de eventos externos adversos".
Originalmente, os dados da
dívida externa de janeiro seriam divulgados pelo BC apenas na semana que vem, mas a
publicação de alguns dados foi
antecipada. Coincidentemente
ou não, um dia antes desse
anúncio circulavam no mercado financeiro rumores sobre a
possível melhora na nota atribuída ao Brasil por agências de
classificação de risco -para alguns analistas, o fim da dívida
externa líquida pode ajudar o
país a receber essa nota mais alta, o "grau de investimento",
um atestado de bom pagador
que pode trazer mais investimentos.
Por meio de nota, o presidente do BC, Henrique Meirelles,
comemorou: "É um marco expressivo de nossa história. Essa
melhora significa que estamos
superando gradativamente um
longo período caracterizado
por vulnerabilidades e crises".
Um dos itens que mais pesaram na redução da dívida externa líquida foi o aumento das reservas internacionais, principal
ativo brasileiro no exterior. No
final de 2002, essas reservas estavam em US$ 16,3 bilhões, e a
dívida externa líquida era de
US$ 165 bilhões.
De 2003 para cá, porém, o
crescimento da economia
mundial ajudou a impulsionar
as exportações brasileiras, que
ser tornaram grande fonte de
divisas do país. Aproveitando
essa elevada entrada de capital,
o BC passou a comprar dólares
no mercado de câmbio para reforçar as reservas em moeda
estrangeira, que, no final do
mês passado, já haviam chegado a US$ 187,5 bilhões.
Além disso, parte dos dólares
adquiridos também foi usada
para antecipar o pagamento de
várias parcelas da dívida externa. Em 2005, foram pagos com
dois anos de antecedência US$
15,5 bilhões que o Brasil devia
ao FMI (Fundo Monetário Internacional). Quase US$ 10 bilhões em títulos emitidos após
a renegociação do calote da dívida externa decretado nos
anos 1980 também foram pagos 19 anos antes de seu vencimento naquele ano.
Um ano depois, em 2006, o
governo também quitou sua dívida de US$ 2,6 bilhões com o
chamado Clube de Paris, nome
dado a um grupo informal de
países desenvolvidos que, ao
longo da segunda metade do século 20, concedeu empréstimos a países em dificuldades financeiras. Com isso, acabaram
de ser pagos todos os compromissos assumidos após a renegociação da moratória.
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