São Paulo, sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Microsoft afirma que abrirá códigos do sistema Windows

Empresa decide compartilhar informações técnicas de programas para ganhar clientes

Site da empresa deverá oferecer o acesso aos dados; medida poderá amenizar atrito com a União Européia, que vê danos à concorrência

JULIO WIZIACK
DA REPORTAGEM LOCAL

A Microsoft deu um passo histórico ontem ao anunciar que está abrindo boa parte dos códigos e dos protocolos do Windows, o sistema operacional que roda em 95% dos computadores do mundo.
Da sede da companhia, em Redmond, nos EUA, o presidente Steve Ballmer, os vice-presidentes Bob Muglia e Brad Smith e o chefe de Arquitetura de Software, Ray Ozzie, anunciaram que, a partir das próximas semanas, quem quiser ter acesso às 30 mil páginas técnicas do Windows poderá acessá-las pelo site da empresa.
"Essa mudança significa um passo importante na forma como fornecemos as informações de nossos produtos e serviços," afirma Ballmer. "Entendemos que em uma era de convergência tecnológica devemos compartilhar as informações", diz.
Segundo Ballmer, a Microsoft divide informações há mais de 33 anos com seus parceiros e distribuidores ao redor do mundo, inclusive no Brasil. O objetivo com a mudança é permitir que eles possam criar novas frentes de negócios.
"Abrindo nossos produtos, permitimos que surjam oportunidades de inovações e de serviços de maior valor agregado", afirma Ray Ozzie.
De acordo com Ballmer, o segredo do Windows ainda ficará mantido a sete-chaves. Para os parceiros da Microsoft, aquelas empresas que já fazem parte da cadeia de venda e distribuição, os códigos poderão ser acessados sem cobrança de royalties ou de taxas.
Quem for explorar comercialmente as informações e não pertencer ao grupo de parceiros terá de pagar. "Não será o preço de uma licença, mas uma pequena taxa", diz Ballmer.
As mudanças valerão para os seguintes produtos da Microsoft: Windows Vista, incluindo o .NET Framework, Windows Server 2008, SQL Server 2008, Office 2007, Exchange Server 2007, Office SharePoint Server 2007. As versões atualizadas desses programas também serão abertas.
O prazo para a liberação desses conteúdos está previsto para durar quatro meses, terminando em junho.

Em busca de resultados
Analistas estrangeiros afirmam que o novo modelo de negócio da Microsoft se explica pela pressão da UE (União Européia), que acusa a empresa de eliminar a concorrência.
"Não acho que eles tomariam uma decisão como essa sem que a UE os pressionasse um pouco", afirma Walter Pritchard, analista da Cowen & Co.
Apesar disso, a comissão antitruste da UE afirmou ontem que o esforço da Microsoft não encerra a questão. A empresa ainda enfrenta riscos de penalidades por supostamente impedir a concorrência. Para evitar o pior, a Microsoft concordou, em 2007, em deixar seus programas compatíveis com fontes abertas, como o Linux. Antes isso não acontecia, o que garantia a exclusividade de seus produtos e serviços.
Outros especialistas acreditam que a pressão da UE contou, mas, na prática, valeu o senso de oportunidade. "Essa também foi uma decisão de negócio", afirma Nicholas Economides, professor da New York University. "Parte do mercado pede pela interoperabilidade."
A interoperabilidade é uma tendência que exige dos desenvolvedores de software produtos que "conversem" entre si.
Segundo Maurício Cacique, presidente da Associação de Parceiros da Microsoft no Brasil, a partir de agora, as chances de ganhar novos clientes são maiores. "Estimaria um acréscimo mínimo de 10% no total de clientes que podemos atender com essas novas possibilidades", afirma.


Texto Anterior: Energia: Exportação para Argentina tem limites, afirma Dilma Rousseff
Próximo Texto: Mudança garantirá mais liberdade para usuário comum, afirmam especialistas
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.