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Banco vê erro em debate sobre taxa de juros
Sociedade deve atacar "a causa, e não o sintoma", do "spread" elevado, afirma o presidente da Febraban, Fabio Barbosa
Para executivo, Brasil será um dos poucos países com crescimento durante a crise; mas, mesmo assim, haverá
mudanças após turbulência
TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL
O presidente da Febraban,
Fabio Barbosa, não nega que os
"spreads" [diferença entre as
taxas de juros do dinheiro captado pelo banco e repassado ao
consumidor] sejam altos no
país -"não sou louco de ir contra uma evidência"-, mas diz
que há muita desinformação e
gente querendo jogar "gasolina" no debate. Barbosa defende
que a discussão mude o foco do
lucro dos bancos e vá para as razões do problema. "O "spread"
pode melhorar? Não tenho dúvidas. Desde que se trabalhe
nas causas, e não no sintoma."
FOLHA - O que bancos, governo e
consumidor podem fazer para reduzir os "spreads"?
FABIO BARBOSA - A questão é entender por que ele é mais alto
do que em outros países. Tenho
repetido que a razão é porque
temos impostos na intermediação financeira que não existem
em outros países, não temos cadastro positivo, temos crédito
direcionado que sobrecarrega
as operações de mercado, temos compulsório elevado, temos um monte de insegurança
jurídica quanto a disputas demoradas no Judiciário. O crédito mais barato no mundo é o
imobiliário. No Brasil, representa 3% do PIB, no Chile, 60%.
Óbvio que no Chile o "spread"
[médio] acaba sendo mais baixo do que no Brasil, entre outras razões, por essa. Se os
"spreads" tivessem subido para
que os bancos auferissem mais
lucros, então está faltando a
consequência disso: os ganhos
foram menores [em 2008].
Existem causas para que os
"spreads" sejam mais elevados
no Brasil. Se nós trabalharmos
no sintoma, não vamos fazer
nada; se trabalharmos nas causas, vamos. Agora, isso requer
um estudo aprofundado. Cada
uma dessas razões pode ter
uma medida endereçada.
FOLHA - O que já aprendemos sobre "spread" e expansão do crédito?
BARBOSA - Anos atrás, o governo trabalhou e criou o crédito
consignado, reformou as garantias jurídicas do crédito
imobiliário e de veículos. O
Brasil não tinha moeda 14 anos
atrás. O crescimento do crédito
se deu após a estabilização, que
permitiu um alongamento dos
prazos. A gente está em um caminho muito rápido e não quer
crescer mais que isso. Até porque o país não tem poupança.
Para que eu empreste para você, outro precisa poupar. Por
que não tem crédito imobiliário? Porque é muito longo, o arcabouço jurídico não era bom,
as garantias não eram adequadas, os juros eram muito altos.
FOLHA - Como proceder então?
BARBOSA - Quero abrir um diálogo, conversar com os vários
setores e ver o que pode ser feito. Tenho batido na questão do
cadastro positivo, que terá efeito no médio prazo, e não no dia
seguinte. Vai ter de ser constituído, entendido, estudado. E
tem também a tributação da intermediação financeira. Não
estou falando para baixar o imposto. O que não pode falar é:
quero "spread" baixo e colocar
imposto no "spread". Vamos
trabalhar para ter um diagnóstico adequado e tomar decisões
em cima disso. Acredito que
uma decisão é tão boa quanto
as informações nas quais se baseou. Informações boas tenderão a levar a boas decisões.
FOLHA - A bancarização ajudou a
elevar os "spreads"? A expansão do
crédito está ameaçada?
BARBOSA - Não acredito. Se o
país continuar crescendo, não.
Quanto mais abrangente for o
público tomador de empréstimo, mais alto é o "spread". Por
que isso? Porque os bancos começaram trabalhando com
uma base muito restrita [de
clientes] há dez anos. À medida
que populariza o crédito, você
entra em camadas de risco em
que seu conhecimento é menor. É inevitável que o "spread"
suba. E, apesar de o prazo ter
aumentado e novas classes tomadoras terem sido atendidas,
o "spread" caiu. É fácil baixar o
"spread": se eu emprestar dinheiro só para cliente de risco
zero, o "spread" cai.
FOLHA - Há uma demonização dos
bancos? O senhor vê um debate
ideológico no país?
BARBOSA - Há uma situação
mundial em que os bancos estão parando de emprestar. A
questão não é só o custo elevado, mas a paralisação no crédito
e os bancos buscando recursos
na sociedade -não gosto de falar no governo- para sobreviver. De repente, a gente coloca
os bancos no Brasil -que continuam emprestando e não estão
pedindo dinheiro- no mesmo
patamar! A diferença aqui é que
temos um sistema financeiro
sólido. É isso o que faz com que
o país possa olhar para planos
de investimento, crescimento
das vendas da indústria automobilística... O sistema financeiro sólido é um ativo da sociedade brasileira, é um ativo seu,
meu, de todos nós. Por alguma
razão que não entendo qual, resolveram achar que ele [banco]
é o vilão. Cada vez que converso
com alguém sinto a necessidade que as pessoas têm de colocar mais gasolina. Não tem que
colocar gasolina, vamos melhorar. O "spread" pode melhorar?
Não tenho dúvidas. Desde que
se trabalhe nas causas.
FOLHA - Por que essa campanha?
BARBOSA - Buscam uma coisa
sem saber bem o quê. [Dizem
que] bancos estão empoçando
liquidez; não houve empoçamento de liquidez, até porque
banco perde dinheiro se tomar
dinheiro no mercado e comprar título público -ao contrário do que se fala, comprar dinheiro a 102% e 103% do CDI e
aplicar em CDI não dá dinheiro. Segundo, [dizem] que os
bancos criaram uma crise de
derivativos; não aconteceu.
Terceiro, os bancos pararam de
emprestar; os balanços de todas as instituições mostram
que estão crescendo os empréstimos. Quarto, [a discussão
dos] "spreads". Estamos seguindo mais uma pista que não
vai nos levar a lugar nenhum.
FOLHA - Há o temor de o governo
tomar alguma medida para conter
os "spreads", como fez com o tabelamento das tarifas?
BARBOSA - Não estou preocupado que o governo venha a tomar medidas erradas porque,
muito pelo contrário, está tomando decisões corretas. Colocou mais dinheiro para o
BNDES fazer empréstimos, diminuiu o compulsório quando
foi necessário, fez leilões de linha de comércio [exterior], reduziu o IPI dos automóveis. Estão tomando medidas pontuais
que estão sendo acertadas. Há
um barulho exagerado na busca
de algumas soluções fáceis. Não
existem soluções fáceis, existem soluções complexas para
problemas complexos. No caso
da crise internacional, depois
de oito meses, ninguém foi capaz de reverter esse quadro
mesmo com os trilhões de dólares que foram mobilizados.
FOLHA - Já podemos ver o país
após a crise financeira?
BARBOSA - O Brasil vive uma situação ímpar porque será um
dos únicos com crescimento.
Daí achar que as coisas vão funcionar do jeito que funcionavam antes, não tem. Um pouco
dessa especulação é porque as
pessoas querem que as coisas
sejam como antes da crise. Elas
não serão. A crise é uma realidade, é relevante, impacta o
Brasil. Vai ser é muito menor
[aqui]. Qual o problema então?
FOLHA - Tem havido esse diálogo
com o governo?
BARBOSA - Tem havido. O governo tem conversado e procurado entender [os bancos].
Tanto que faço questão de dizer
que não foram tomadas medidas [equivocadas]. Tem um barulho grande. Não tenho nenhuma reclamação em relação
ao governo. Mantenho também
diálogo com a Fiesp [indústria
paulista], a Anfavea [montadoras] e todos o setores da sociedade para que possamos trabalhar nas causas, e não simplesmente olhar os sintomas e buscar soluções simples.
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