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SP será "arena" da disputa bancária, diz BB
Com compra da Nossa Caixa, diretor diz que banco "veio brigar'; uma das estratégias tem sido investir na folha da rede de servidores
Instituição inicia em março
a conversão de agências
da Nossa Caixa; para BB,
apesar da tecnologia, ter agências ainda é importante
TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL
Encarregado de comandar o
Banco do Brasil em São Paulo,
Dan Conrado afirma que o Estado será "arena" da maior disputa por clientes já travada pelos bancos no país. O BB vai iniciar em março a conversão de
todas as antigas agências da
Nossa Caixa em unidades suas.
O caminho escolhido para
abrir espaço no Estado foi a rede de servidores: desembolsou,
no fim do ano, R$ 726 milhões
para tirar do Itaú a folha de pagamentos da Prefeitura de São
Paulo e adiantou R$ 1,3 bilhão
para ter mais dois anos de exclusividade com a folha do Estado, que terminaria em 2012.
Em entrevista à Folha, Conrado afirma que, apesar do
avanço da tecnologia, ainda é
importante para os bancos terem uma boa rede de agências.
FOLHA - Como o BB se reorganizou
para competir em São Paulo?
DAN CONRADO - A estrutura do
BB em São Paulo estava muito
aquém do potencial do Estado.
Nós já estávamos bem posicionados no restante do país, mas
aqui não tínhamos vindo brigar. Éramos o quarto ou quinto
banco. Não ameaçava nem estava no jogo. Com a Nossa Caixa, passamos a ter o maior número de agências. Aqui é a arena. Agora temos um nível de
atendimento tão bom quanto
os outros e custo competitivo.
Na capital, a gente tem um dever de casa para fazer. Vamos
abrir muitas agências aqui.
FOLHA - É importante ter agência,
mesmo com toda a tecnologia?
CONRADO - Sim. É por isso que
todos os meus concorrentes estão abrindo agência em São
Paulo. Talvez a geração de nossos filhos não precise mais de
agência. Mas há uma massa de
clientes com alto poder aquisitivo que prefere agência. Para a
pequena e a microempresa, não
há tecnologia para resolver tudo o que precisa pela internet.
Às vezes, a conta-corrente do
dono é o capital de giro da empresa. Precisa ter um nível de
orientação para que ele possa
crescer. E você só faz isso na
agência. A estrutura física será
importante para as pessoas que
saíram das classes D e E.
FOLHA - Como está a integração?
CONRADO - Conseguimos fazer
muita coisa com um nível baixíssimo de estresse. Trocamos
mais de 2 milhões de cartões
que não tinham chip. Era a
maior taxa de fraude do mercado. Agora, migramos a área de
fundos com mais de 500 mil
clientes. Também resolvemos
muitos problemas do dia a dia,
que são aquelas coisas bem banais que causam transtorno na
vida do cliente. Num dia de pagamento da Nossa Caixa, metade das transações não era processada. Isso gerava um caos.
Conseguimos 99% de transações aceitas. Muitas agências
da Nossa Caixa não têm ar-condicionado. Temos 50 pontos
caóticos por causa disso. O ar-condicionado vai dar conforto
para clientes e funcionários.
FOLHA - Quando as agências da
Nossa Caixa vão virar BB?
CONRADO - Não dá para converter 560 agências para o padrão
BB de um dia para o outro. Há
todo um estudo de layout em
processo. Há engenheiros e arquitetos andando por todo lado. O primeiro teste de tombamento [conversão] de agência
será em breve. Não muda a cara
da agência, só a tecnologia. Cada unidade é feita de uma vez.
FOLHA - O cliente percebe algo? Ele
sabe que houve mudança?
CONRADO - Ele vai saber porque
tem um impacto nele: vamos
precisar trocar prefixos e números de conta. Mas o cliente
não vai ser pego de surpresa.
FOLHA - A marca Nossa Caixa vai
desaparecer? Quando?
CONRADO - Isso é superdelicado. Fizemos muitas pesquisas.
Quando você vai para o interior
do Estado, existe uma relação
muito próxima do cliente. Na
capital, você descobre que tem
pessoas que adoram a Nossa
Caixa, mas tem conta em outro
banco. A gente perguntou por
quê. Ele respondia que a Nossa
Caixa não tinha produtos nem
serviços. Perguntamos se ele
voltaria se a gente tivesse esses
produtos. Ele dizia que sim.
FOLHA - Quais são esses produtos?
CONRADO - Um cliente da Nossa Caixa de férias no Ceará não
tinha onde sacar dinheiro. Ninguém tomava crédito nas máquinas nem na internet. Quando abrimos, fizemos R$ 59 milhões em empréstimos. No primeiro mês que vendemos nosso seguro de automóveis aqui,
triplicamos as vendas.
FOLHA - Como está o ânimo dos
funcionários da Nossa Caixa?
CONRADO - Uma coisa legal que
a gente fez foi mesclar pessoal
dos dois bancos. Fizemos uma
reunião no começo do ano com
1.500 gerentes do BB e da Nossa Caixa. Queríamos passar a
mensagem de que a nossa briga
é com os outros bancos. Todo
mundo saiu entendendo a importância do projeto do BB e
sabendo qual é o seu papel nele.
A gente fez só uma manhã para
não matar o sábado. Foi tudo
muito light. O que está acontecendo já tem um peso muito
grande; se a gente não colocar
com leveza e respeito, não consegue engajar as pessoas.
FOLHA - Funcionários reclamaram
do PDV. Como foi a adesão?
CONRADO - Isso, para nós, é um
processo crítico. A expectativa
dos funcionários era muito
ruim. Pensavam que seriam todos demitidos. Isso não ocorreu até porque não podemos
abrir mão de gente. A ansiedade é natural porque há a lembrança de outros processos
complicados no Estado. O PDV
teve adesão de 1.328 pessoas,
40% dos elegíveis. Das pessoas
da administração, 60% já têm
cargo novo. Tem um pessoal
que, se optasse pela carreira do
BB, teria redução de salário.
Muitos não optaram e continuam aqui; a gente respeita.
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