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FINANCIAMENTO
Novos contratos cresceram 549% no ano passado; volume de recursos liberados para o setor subiu 223%
BNDES empresta mais para montadoras
CHICO SANTOS
DA SUCURSAL DO RIO
As montadoras de veículos,
quase todas estrangeiras, tiveram
em 2003, primeiro ano da gestão
do nacionalista Carlos Lessa à
frente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), um crescimento de
549% nas contratações de novos
empréstimos e de 223,5% na liberação de recursos do banco estatal
em relação a 2002.
As contratações passaram de R$
357 milhões para R$ 2,317 bilhões.
Do total, apenas R$ 126,2 milhões
(5,4%) foram para empresas nacionais, as montadoras de ônibus
Busscar e Marcopolo.
As liberações (desembolsos) de
recursos contratados antes ou durante o ano de 2003 somaram R$
1,884 bilhão, contra R$ 582,3 milhões do ano anterior. Nos dois
primeiros meses deste ano, as
montadoras receberam R$ 577
milhões, ou 11,2% do total liberado (R$ 5,137 bilhões).
Para exportação
Do total liberado, cerca de R$ 1,4
bilhão foi para operações de financiamento ao pré-embarque
de veículos produzidos para exportação, uma modalidade de capital de giro até então pouco usual
para grandes empresas.
Em novembro do ano passado,
a direção do banco explicou que
esses financiamentos ao pré-embarque eram uma "experimentação" que estava sendo feita, sem
detalhar sua natureza nem as condições de financiamento.
O BNDES inclui na estatística de
empréstimos para o setor da indústria automotiva os financiamentos para fabricação de peças e
acessórios. Considerados isoladamente, os empréstimos (liberações) às montadoras (sem a indústria de autopeças) foram os
que mais cresceram em comparação a todos os setores.
Alta de 91%
Quando computado o setor automotivo como um todo (incluindo os fabricantes de autopeças),
as liberações de recursos para a
indústria de veículos e componentes alcançaram R$ 2,647 bilhões no ano passado, crescendo
91% sobre o total do ano anterior.
O crescimento de todo o setor
automotivo só foi menor do que o
dos financiamentos para aquisição de embarcações, que cresceram 150%, passando de R$ 245
milhões em 2002 para R$ 613 milhões no ano passado.
Em valores absolutos, os empréstimos para veículos e componentes ficaram em quarto lugar
na relação dos setores que mais
receberam dinheiro do BNDES
em 2003. Quando a conta inclui
apenas as montadoras, a colocação cai para quinto lugar, atrás de
setores que são tradicionais tomadores de recursos do banco.
O primeiro lugar foi mantido
pelo setor denominado "fabricação de outros equipamentos de
transporte", no qual os aviões da
Embraer representam a maioria
absoluta, com R$ 5,755 bilhões,
quase R$ 1 bilhão abaixo do número de 2002 (R$ 6,594 bilhões).
Receberam também mais recursos que as montadoras os setores de produção e distribuição de
eletricidade, gás e água (R$ 3,394
bilhões); transporte terrestre
(aquisição de veículos, com R$
2,862 bilhões); e alimentos/bebidas (R$ 1,960 bilhão). Os empréstimos do BNDES em 2003 somaram R$ 31,535 bilhões, ante R$
30,366 bilhões em 2002.
Em relação ao total contratado
em 2003, a Volkswagen foi a
maior beneficiária entre as fábricas de automóveis, com R$ 720,8
milhões. A DaimlerChrysler ficou
em segundo lugar, com R$ 544,7
milhões, e a Ford em terceiro,
com R$ 512,6 milhões.
Os empréstimos do BNDES a
montadoras estrangeiras de veículos foram objeto de polêmica
durante todo o período de governo do ex-presidente Fernando
Henrique Cardoso (1995-2002).
Somente entre 1998 e 2000, elas
receberam R$ 3,478 bilhões. O caso mais falado foi o do empréstimos de R$ 912 milhões feito para
que a Ford instalasse na Bahia
uma fábrica que antes seria construída no Rio Grande do Sul.
A principal crítica aos empréstimos era a de que as montadoras
eram empresas internacionais
poderosas e, como tais, capazes
de trazer recursos de fora do país,
deixando o dinheiro do BNDES
para aqueles setores com pouco
ou nenhum acesso ao mercado financeiro internacional.
A resposta do BNDES sempre
foi a de que não podia, por determinação constitucional, discriminar empresas pela origem do capital. O banco dizia também que
as montadoras eram pólos de
atração de atividade industrial e
que, sem seu financiamento, fábricas que se instalaram no Brasil
poderiam ter ido para outro lugar.
O atual presidente do BNDES,
Carlos Lessa, também já disse que
não iria discriminar empresas pela origem do capital. Isso não impediu que, na definição das novas
políticas de empréstimos, fosse
estabelecido que as empresas estrangeiras pagarão juros maiores
que as nacionais.
Pelas novas regras, as empresas
de capital estrangeiro pagarão até
5,5% ao ano acima da taxa básica
do banco -a TJLP (taxa de juros
de longo prazo)-, enquanto que
as nacionais pagarão, no máximo,
4,5% acima da TJLP.
A Folha pediu na manhã da sexta-feira que a direção do BNDES
comentasse os números referentes aos empréstimos às montadoras. Às 20h05, a assessoria de imprensa do banco informou que
não havia sido possível contatar a
pessoa responsável para responder as perguntas formuladas pelo
jornal.
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