São Paulo, segunda-feira, 22 de março de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

FINANCIAMENTO

Novos contratos cresceram 549% no ano passado; volume de recursos liberados para o setor subiu 223%

BNDES empresta mais para montadoras

CHICO SANTOS
DA SUCURSAL DO RIO

As montadoras de veículos, quase todas estrangeiras, tiveram em 2003, primeiro ano da gestão do nacionalista Carlos Lessa à frente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), um crescimento de 549% nas contratações de novos empréstimos e de 223,5% na liberação de recursos do banco estatal em relação a 2002.
As contratações passaram de R$ 357 milhões para R$ 2,317 bilhões. Do total, apenas R$ 126,2 milhões (5,4%) foram para empresas nacionais, as montadoras de ônibus Busscar e Marcopolo.
As liberações (desembolsos) de recursos contratados antes ou durante o ano de 2003 somaram R$ 1,884 bilhão, contra R$ 582,3 milhões do ano anterior. Nos dois primeiros meses deste ano, as montadoras receberam R$ 577 milhões, ou 11,2% do total liberado (R$ 5,137 bilhões).

Para exportação
Do total liberado, cerca de R$ 1,4 bilhão foi para operações de financiamento ao pré-embarque de veículos produzidos para exportação, uma modalidade de capital de giro até então pouco usual para grandes empresas.
Em novembro do ano passado, a direção do banco explicou que esses financiamentos ao pré-embarque eram uma "experimentação" que estava sendo feita, sem detalhar sua natureza nem as condições de financiamento.
O BNDES inclui na estatística de empréstimos para o setor da indústria automotiva os financiamentos para fabricação de peças e acessórios. Considerados isoladamente, os empréstimos (liberações) às montadoras (sem a indústria de autopeças) foram os que mais cresceram em comparação a todos os setores.

Alta de 91%
Quando computado o setor automotivo como um todo (incluindo os fabricantes de autopeças), as liberações de recursos para a indústria de veículos e componentes alcançaram R$ 2,647 bilhões no ano passado, crescendo 91% sobre o total do ano anterior.
O crescimento de todo o setor automotivo só foi menor do que o dos financiamentos para aquisição de embarcações, que cresceram 150%, passando de R$ 245 milhões em 2002 para R$ 613 milhões no ano passado.
Em valores absolutos, os empréstimos para veículos e componentes ficaram em quarto lugar na relação dos setores que mais receberam dinheiro do BNDES em 2003. Quando a conta inclui apenas as montadoras, a colocação cai para quinto lugar, atrás de setores que são tradicionais tomadores de recursos do banco.
O primeiro lugar foi mantido pelo setor denominado "fabricação de outros equipamentos de transporte", no qual os aviões da Embraer representam a maioria absoluta, com R$ 5,755 bilhões, quase R$ 1 bilhão abaixo do número de 2002 (R$ 6,594 bilhões).
Receberam também mais recursos que as montadoras os setores de produção e distribuição de eletricidade, gás e água (R$ 3,394 bilhões); transporte terrestre (aquisição de veículos, com R$ 2,862 bilhões); e alimentos/bebidas (R$ 1,960 bilhão). Os empréstimos do BNDES em 2003 somaram R$ 31,535 bilhões, ante R$ 30,366 bilhões em 2002.
Em relação ao total contratado em 2003, a Volkswagen foi a maior beneficiária entre as fábricas de automóveis, com R$ 720,8 milhões. A DaimlerChrysler ficou em segundo lugar, com R$ 544,7 milhões, e a Ford em terceiro, com R$ 512,6 milhões.
Os empréstimos do BNDES a montadoras estrangeiras de veículos foram objeto de polêmica durante todo o período de governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (1995-2002).
Somente entre 1998 e 2000, elas receberam R$ 3,478 bilhões. O caso mais falado foi o do empréstimos de R$ 912 milhões feito para que a Ford instalasse na Bahia uma fábrica que antes seria construída no Rio Grande do Sul.
A principal crítica aos empréstimos era a de que as montadoras eram empresas internacionais poderosas e, como tais, capazes de trazer recursos de fora do país, deixando o dinheiro do BNDES para aqueles setores com pouco ou nenhum acesso ao mercado financeiro internacional.
A resposta do BNDES sempre foi a de que não podia, por determinação constitucional, discriminar empresas pela origem do capital. O banco dizia também que as montadoras eram pólos de atração de atividade industrial e que, sem seu financiamento, fábricas que se instalaram no Brasil poderiam ter ido para outro lugar.
O atual presidente do BNDES, Carlos Lessa, também já disse que não iria discriminar empresas pela origem do capital. Isso não impediu que, na definição das novas políticas de empréstimos, fosse estabelecido que as empresas estrangeiras pagarão juros maiores que as nacionais.
Pelas novas regras, as empresas de capital estrangeiro pagarão até 5,5% ao ano acima da taxa básica do banco -a TJLP (taxa de juros de longo prazo)-, enquanto que as nacionais pagarão, no máximo, 4,5% acima da TJLP.
A Folha pediu na manhã da sexta-feira que a direção do BNDES comentasse os números referentes aos empréstimos às montadoras. Às 20h05, a assessoria de imprensa do banco informou que não havia sido possível contatar a pessoa responsável para responder as perguntas formuladas pelo jornal.


Texto Anterior: Painel S.A.
Próximo Texto: Mais de 8% dos repasses são feitos pelo setor
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.