São Paulo, segunda-feira, 22 de março de 2004

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CAIS PARADO

Estivadores apedrejam sindicato; Requião fala em "formação de quadrilha"

Racha acirra impasse em Paranaguá

Maurílio Cheli/Folha Imagem
Fila de caminhões para descarregar grãos em Paranaguá; 105 mil toneladas aguardam liberação


JOSÉ MASCHIO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM LONDRINA

O porto de Paranaguá, no Paraná, ficou parado ontem pelo terceiro dia seguido, atingindo um total de 105.000 toneladas não embarcadas, com 46 navios à espera para serem carregados.
O movimento é organizado pelo sindicatos dos operadores e agentes marítimos (que representam os exportadores) do Paraná.
O governador Roberto Requião (PMDB) acusou as empresas operadoras portuárias de utilizarem a greve como "pano de fundo" para tentar a privatização do porto.
Anteontem à noite, estivadores descontentes com a executiva do Sindicato dos Estivadores de Paranaguá depredaram a sede do sindicato. O pivô da cisão entre estivadores e os diretores da entidade foi o fato de o sindicato ter assinado uma nota -juntamente com políticos e os sindicatos dos Operadores Portuários e das Agências de Navegação Marítima- defendendo a intervenção do governo federal no porto.
O episódio mostra uma clara ruptura em Paranaguá. De um lado, caminhoneiros, estivadores e a administração do porto. Do outro, políticos locais e os sindicatos das empresas que operam na exportação pelo porto.
Na nota divulgada na noite de sábado, 16 entidades de Paranaguá exigem "uma firme ação do governo, até mesmo com a intervenção na administração do porto, para permitir a retomada da sua operação normal".
Essas entidades acusam ainda a administração do porto, que tem como superintendente o irmão do governador, Eduardo Requião, de má gestão e de desenvolver "uma crise logística".
O governador rebateu que não "passa por sua cabeça que o presidente Lula vá atender a esse absurdo e intervir em um porto público para atender a anseios dos que querem a privatização".
De acordo com Requião, as informações de que o porto de Paranaguá estaria perdendo dinheiro por causa da paralisação dos embarques são uma "falácia".
"Quem está perdendo são as próprias operadoras, que armaram um complô contra a moralização no porto. Isso porque vamos acabar com os privilégios dos grupos multinacionais", afirma.
A Agência Folha apurou que o governo paranaense está irritado com os ministros Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento) e Roberto Rodrigues (Agricultura), que estariam trabalhando para que o governo federal intervenha na administração do porto.
Requião afirmou que hoje ingressará na Justiça contra os diretores do Sindicato dos Operadores Portuários de Paranaguá por crime contra a organização do trabalho. "Vou pedir o enquadramento dos diretores também por formação de quadrilha." Os diretores não foram localizados ontem pela Agência Folha para comentar a declaração.

Vida na fila
Os caminhoneiros, que aguardam em uma fila de 6.000 caminhões, receberam ontem alimentação do governo estadual. A Defesa Civil distribuiu água e arroz carreteiro para os caminhoneiros e instalou sanitários portáteis ao longo da BR -277, onde os caminhões estão estacionados.
Caminhoneiros e estivadores devem fazer um protesto conjunto hoje. Eles reivindicam o pagamento de R$ 0,40 por tonelada a cada hora que ficarem parados.


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