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Kirchner ataca
empresa privada e tem apoio popular
DE BUENOS AIRES
No dia 22 de fevereiro, o presidente argentino Néstor
Kirchner usou grande parte de
seu discurso para criticar o serviços prestados pela concessionária Aguas Argentinas para
depois concluir que o problema era a falta de rigor do Estado: "Onde estava a dirigência
argentina, os que conduziam o
Estado, os que controlavam?"
O caso não é isolado. Já foi assim com o preço dos combustíveis, com o combate da inflação e, recentemente, com a carne.
Desde o ano passado, com
ameaça de inflação, que fechou
2005 em 12,3%, Kirchner começou a fazer discursos contra
empresas que aumentaram os
preços e pressionavam a alta do
índice.
Primeiro fez duras críticas à
petrolífera anglo-holandesa
Shell. Com o incentivo presidencial, grupos de piqueteiros
ligados à Casa Rosada fizeram
uma série de protestos em postos e instalações da empresa.
Mais recentemente, atacou supermercadistas por "inflarem"
os valores dos produtos.
A retórica tem efeito. Pesquisas privadas de redes de supermercados apontam "danos" de
imagem cada vez que o presidente fala -Kirchner tinha
mais de 60% de aprovação nas
últimas sondagens e é apontado como tendo "capacidade de
liderança", mesmo depois da
crise de 2001, que exacerbou o
sentimento de repúdio aos políticos e gerou lemas como
"que se vayan todos".
Mesmo atacados, no final do
ano passado, os supermercadistas sentaram com o governo
e acertaram um congelamento
de preços de uma lista de produtos por um ano, revisados a
cada dois meses. O mesmo
acordo foi conseguido para o
gás.
Mas o calcanhar de Aquiles
da estratégia é a carne. Aumentou mais de 20% no ano passado e quase 27% só neste ano.
Há duas semanas, o governo
proibiu a exportação de carne,
à exceção dos cortes de alta
qualidade para Europa e acordos bilaterais (principais compradores), para aumentar a
oferta interna do produto.
A medida foi anunciada logo
depois de um duro discurso de
Kirchner, que afirmou que não
se exportaria "às custas da fome e do bolso dos argentinos".
Como os preços ainda não
cederam, o presidente foi ainda
mais longe. Na semana passada, convocou os argentinos a
não comprarem carne. Na Casa
Rosada e em órgãos públicos
nacionais, baixou-se norma
proibindo a compra de carne
vermelha.
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