São Paulo, quarta-feira, 22 de março de 2006

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Kirchner ataca empresa privada e tem apoio popular

DE BUENOS AIRES

No dia 22 de fevereiro, o presidente argentino Néstor Kirchner usou grande parte de seu discurso para criticar o serviços prestados pela concessionária Aguas Argentinas para depois concluir que o problema era a falta de rigor do Estado: "Onde estava a dirigência argentina, os que conduziam o Estado, os que controlavam?"
O caso não é isolado. Já foi assim com o preço dos combustíveis, com o combate da inflação e, recentemente, com a carne.
Desde o ano passado, com ameaça de inflação, que fechou 2005 em 12,3%, Kirchner começou a fazer discursos contra empresas que aumentaram os preços e pressionavam a alta do índice.
Primeiro fez duras críticas à petrolífera anglo-holandesa Shell. Com o incentivo presidencial, grupos de piqueteiros ligados à Casa Rosada fizeram uma série de protestos em postos e instalações da empresa. Mais recentemente, atacou supermercadistas por "inflarem" os valores dos produtos.
A retórica tem efeito. Pesquisas privadas de redes de supermercados apontam "danos" de imagem cada vez que o presidente fala -Kirchner tinha mais de 60% de aprovação nas últimas sondagens e é apontado como tendo "capacidade de liderança", mesmo depois da crise de 2001, que exacerbou o sentimento de repúdio aos políticos e gerou lemas como "que se vayan todos".
Mesmo atacados, no final do ano passado, os supermercadistas sentaram com o governo e acertaram um congelamento de preços de uma lista de produtos por um ano, revisados a cada dois meses. O mesmo acordo foi conseguido para o gás.
Mas o calcanhar de Aquiles da estratégia é a carne. Aumentou mais de 20% no ano passado e quase 27% só neste ano. Há duas semanas, o governo proibiu a exportação de carne, à exceção dos cortes de alta qualidade para Europa e acordos bilaterais (principais compradores), para aumentar a oferta interna do produto.
A medida foi anunciada logo depois de um duro discurso de Kirchner, que afirmou que não se exportaria "às custas da fome e do bolso dos argentinos".
Como os preços ainda não cederam, o presidente foi ainda mais longe. Na semana passada, convocou os argentinos a não comprarem carne. Na Casa Rosada e em órgãos públicos nacionais, baixou-se norma proibindo a compra de carne vermelha.


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