São Paulo, quarta-feira, 22 de março de 2006

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COMUNICAÇÕES

Pressão por padrão europeu traz preocupação

Em anúncio, emissoras pedem TV digital japonesa com urgência

DANIEL CASTRO
COLUNISTA DA FOLHA

Em anúncio a ser publicado amanhã nos principais jornais do país, as redes de TV aberta farão sua primeira manifestação pública conjunta defendendo a adoção no Brasil do padrão de modulação de TV digital japonês. No comunicado, as TVs também pedem urgência no anúncio do vencedor, pelo governo, que inicialmente estava marcada para fevereiro. A Folha publicou, há duas semanas, que o governo já se decidiu pelo padrão japonês.
As redes decidiram fazer um manifesto conjunto em reunião ontem de manhã na Globo em São Paulo. Há seis anos os radiodifusores defendem o padrão de TV digital japonês, mas sempre se manifestaram isoladamente.
Os donos de emissoras decidiram fazer o comunicado porque detectaram que, nos últimos dias, cresceu a pressão dos defensores do sistema europeu sobre o governo. As redes temem que os europeus se comprometam a instalar uma fábrica de semicondutores (chips) no país e que isso leve o governo a adotar sua tecnologia.
A fábrica de semicondutores é uma das contrapartidas negociadas pelo governo. Europeus e japoneses, por enquanto, só afirmaram estudar a questão, que exige investimentos de US$ 2 bilhões.
Além dos padrões japonês e europeu, está na disputa também, mas praticamente sem chances, a tecnologia americana.
As TVs defendem o padrão japonês porque ele é o mais recente (e, portanto, mais "evoluído"). Ele permite que as redes transmitam simultaneamente em altíssima definição para televisores fixos, em resolução standard para aparelhos em movimento (carros, ônibus) e em baixa definição para telefones celulares usando uma faixa de freqüência de 6 MHz (megahertz), que é o espaço do espectro eletromagnético que elas ocupam atualmente.
Ou seja, as TVs poderão transmitir para celulares diretamente, sem que seu sinal passe por operadoras de telefonia móvel.
Embora a tecnologia européia também permita transmissão simultânea em alta definição e para celulares, não é esse o modelo de exploração que foi adotado na Europa. Lá, o espaço ocupado por um canal analógico foi dividido em quatro, ou seja, transformou-se em quatro "emissoras" sem alta definição. E não há transmissão direta das TVs para celulares.
Esse modelo favorece as telefônicas, que poderiam usar parte dos canais de UHF e VHF para transmitir conteúdo pago. Esse é o grande temor das TVs: a concorrência com as teles e o risco de perder a possibilidade de transmitirem em altíssima definição.
No comunicado, as redes defendem uma união da modulação japonesa com "aperfeiçoamentos criados por cientistas nacionais", o que, para elas, forma o "único sistema que garantirá, gratuitamente, a todos os brasileiros, todos os benefícios da TV digital".
A nota afirma que "o que está em jogo" é "qual é o melhor modelo de televisão para o Brasil", numa defesa de uma solução que traga às redes o menor impacto, mantendo o atual modelo de negócios, sem o compartilhamento do espectro de UHF e UHF com novos operadores, como as teles.
Por fim, o texto prega decisão urgente afirmando que a TV digital vem sendo estudada desde 1998. "Essa decisão é urgente. Não faltam elementos para a tomada de decisão. Não faz sentido que a TV livre e gratuita fique condenada ao atraso tecnológico."


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