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COMUNICAÇÕES
Pressão por padrão europeu traz preocupação
Em anúncio, emissoras pedem TV digital japonesa com urgência
DANIEL CASTRO
COLUNISTA DA FOLHA
Em anúncio a ser publicado
amanhã nos principais jornais do
país, as redes de TV aberta farão
sua primeira manifestação pública conjunta defendendo a adoção
no Brasil do padrão de modulação de TV digital japonês. No comunicado, as TVs também pedem urgência no anúncio do vencedor, pelo governo, que inicialmente estava marcada para fevereiro. A Folha publicou, há duas
semanas, que o governo já se decidiu pelo padrão japonês.
As redes decidiram fazer um
manifesto conjunto em reunião
ontem de manhã na Globo em
São Paulo. Há seis anos os radiodifusores defendem o padrão de
TV digital japonês, mas sempre se
manifestaram isoladamente.
Os donos de emissoras decidiram fazer o comunicado porque
detectaram que, nos últimos dias,
cresceu a pressão dos defensores
do sistema europeu sobre o governo. As redes temem que os europeus se comprometam a instalar uma fábrica de semicondutores (chips) no país e que isso leve o
governo a adotar sua tecnologia.
A fábrica de semicondutores é
uma das contrapartidas negociadas pelo governo. Europeus e japoneses, por enquanto, só afirmaram estudar a questão, que exige
investimentos de US$ 2 bilhões.
Além dos padrões japonês e europeu, está na disputa também,
mas praticamente sem chances, a
tecnologia americana.
As TVs defendem o padrão japonês porque ele é o mais recente
(e, portanto, mais "evoluído").
Ele permite que as redes transmitam simultaneamente em altíssima definição para televisores fixos, em resolução standard para
aparelhos em movimento (carros,
ônibus) e em baixa definição para
telefones celulares usando uma
faixa de freqüência de 6 MHz
(megahertz), que é o espaço do espectro eletromagnético que elas
ocupam atualmente.
Ou seja, as TVs poderão transmitir para celulares diretamente,
sem que seu sinal passe por operadoras de telefonia móvel.
Embora a tecnologia européia
também permita transmissão simultânea em alta definição e para
celulares, não é esse o modelo de
exploração que foi adotado na
Europa. Lá, o espaço ocupado por
um canal analógico foi dividido
em quatro, ou seja, transformou-se em quatro "emissoras" sem alta definição. E não há transmissão
direta das TVs para celulares.
Esse modelo favorece as telefônicas, que poderiam usar parte
dos canais de UHF e VHF para
transmitir conteúdo pago. Esse é
o grande temor das TVs: a concorrência com as teles e o risco de
perder a possibilidade de transmitirem em altíssima definição.
No comunicado, as redes defendem uma união da modulação japonesa com "aperfeiçoamentos
criados por cientistas nacionais",
o que, para elas, forma o "único
sistema que garantirá, gratuitamente, a todos os brasileiros, todos os benefícios da TV digital".
A nota afirma que "o que está
em jogo" é "qual é o melhor modelo de televisão para o Brasil",
numa defesa de uma solução que
traga às redes o menor impacto,
mantendo o atual modelo de negócios, sem o compartilhamento
do espectro de UHF e UHF com
novos operadores, como as teles.
Por fim, o texto prega decisão
urgente afirmando que a TV digital vem sendo estudada desde
1998. "Essa decisão é urgente. Não
faltam elementos para a tomada
de decisão. Não faz sentido que a
TV livre e gratuita fique condenada ao atraso tecnológico."
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