São Paulo, domingo, 22 de março de 2009 |
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ALBERT FISHLOW Veni, Vidi, Vici
O PRESIDENTE Luiz Inácio Lula da Silva veio a Washington na semana retrasada para uma visita ao presidente Obama na Casa Branca. Aparentemente, o encontro foi "uma maravilhosa confluência de mentes". Os dois homens simbolizam, cada qual, as impressionantes mudanças acontecidas na história do Brasil e dos Estados Unidos nos últimos 50 anos. Determinar se essa circunstância conduzirá a avanços mais substantivos na combinação dos interesses bilaterais, regionais e mundiais dos dois países só vai se tornar claro ao longo dos próximos anos. De imediato, os Estados Unidos estão comprometidos, acima de tudo, com a tentativa de reanimar sua economia enfraquecida. O que desejam muito é o apoio brasileiro na reunião do G20 (Grupo dos 20), que acontecerá em abril. É por isso que Larry Summers estava entre os norte-americanos presentes ao encontro, e foi esse o motivo para o acordo imediato de colaboração estreita com o Brasil, em antecipação da reunião. Os Estados Unidos desejam que a União Europeia assuma um compromisso mais firme de elevação da demanda mundial agregada. Japão e China já cederam quanto a isso, e o Brasil está de acordo. Em troca, os Estados Unidos parecem preparados para elevar substancialmente os recursos do FMI (Fundo Monetário Internacional), a fim de permitir que este forneça assistência aos países em desenvolvimento, concedendo a Brasil, China e Índia, entre outros, um papel maior na gestão da instituição. Os EUA parecem igualmente preparados para iniciar seriamente a tarefa de regulamentar mais o seu setor financeiro, incluindo os fundos de hedge, mas deseja, para isso, mais independência do que prefeririam os europeus e os brasileiros. Mais tarde, ainda em abril, virá mais uma conferência de cúpula, esta entre os países do hemisfério Ocidental. A Alca (Área de Livre Comércio das Américas), para construir uma zona de livre comércio que se estenda do Canadá ao cabo Horn, já não consta da agenda. O que assumiu seu lugar é o crescimento econômico, que deve cair de uma expansão de 3,9% para uma retração de 2,2% em 2009. Também existe tensão crescente causada pela guerra das drogas no México e pelas questões de imigração. O Brasil agora está bem posicionado para assumir um papel de liderança, na região e na reunião. Alguns avanços modestos devem ser possíveis, o que conduziria Venezuela, Bolívia, Equador e até mesmo Cuba a termos melhores de relacionamento com os Estados Unidos, agora que o presidente Bush se foi. Mas nem Lula nem Obama devem conceder grande peso à região, no que tange ao futuro; muito importantes para o futuro serão o relacionamento bilateral e as relações mundiais de ambos os países, muito mais do que qualquer política regional coerente. Para o Brasil, isso significa discutir seriamente o álcool e os futuros biocombustíveis que o substituirão, bem como as novas descobertas de petróleo no pré-sal que requererão grande investimento para desenvolver. Isso significa uma retomada da Rodada Doha de negociações comerciais e um futuro em curto prazo de agricultura menos subsidiada, nos países desenvolvidos. Também significa um papel central nas novas negociações internacionais sobre a mudança climática mundial e o ambiente. E significa atenção ao desejo brasileiro de uma cadeira permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas. Trata-se de questões vitais -todas as quais de fato mundiais- das quais dependerá o futuro relacionamento entre o Brasil e os Estados Unidos. Tradução de PAULO MIGLIACCI ALBERT FISHLOW, 73, é professor emérito da Universidade Columbia e da Universidade Berkeley. Escreve quinzenalmente, aos domingos, nesta coluna. Texto Anterior: Colapso da infraestrutura trava a safra Próximo Texto: Vinicius Torres Freire: A proteção social de Lula e a crise Índice |
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