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Comércio sem dólar no Mercosul patina
Um ano e meio após lançamento de sistema que permite transações entre Brasil e Argentina em moeda local, adesão ainda é baixa
Entre os entraves apontados por especialistas, está
a taxa utilizada pelos
bancos para fazer a
conversão do real para o peso
EDUARDO CUCOLO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Um ano e meio depois de ser
lançado pelos governos do Brasil e da Argentina, o sistema
que permite operações comerciais entre os dois países sem a
utilização do dólar enfrenta um
momento de estagnação.
Além da baixa adesão por
parte de exportadores e importadores, a iniciativa só tem funcionado em uma das pontas do
comércio entre os dois países.
De acordo com o Banco Central, 99% das operações realizadas até agora são de exportações do Brasil para a Argentina.
No sentido contrário, praticamente não há negócios.
O SML (Sistema de Pagamentos em Moeda Local), que
começou a vigorar em outubro
de 2008, permite a importadores e exportadores brasileiros e
argentinos realizar pagamentos e recebimentos em suas respectivas moedas por meio de
uma instituição bancária.
A expectativa do governo
brasileiro era que entre 10% e
20% das operações de comércio entre os dois países pudessem ser feitas em moeda local
por meio do SML. No primeiro
ano de funcionamento, o sistema alcançou participação de
3% no segmento e, desde setembro passado, esse percentual se estagnou.
Para especialistas do setor,
essa situação não deve mudar
no curto prazo. Entre os entraves apontados, está a taxa utilizada pelos bancos para fazer a
conversão do real para o peso.
Entre as montadoras, líderes
da balança comercial entre os
dois países, por exemplo, não
foi registrado nenhum negócio
sem o uso do dólar.
A maioria dos exportadores
prefere fazer negócios em dólar
porque umas das principais
fontes de financiamento do setor, o ACC (Adiantamento de
Contrato de Câmbio), exige um
contrato de câmbio. Além disso, o SML não se aplica a operações com prazo de pagamento
acima de um ano.
O SML também tira do exportador a opção de manter
seus dólares depositados fora
do país para fazer pagamentos
externos de matéria-prima ou
empréstimo, por exemplo. As
empresas também perdem a
possibilidade de trazer esse dinheiro para o país no momento
em que julguem mais vantajoso
fazer a conversão, o que pode
acrescentar receitas cambiais
aos seus negócios.
"São restrições que excluem
as grandes empresas. Com isso,
esse mercado fica restrito aos
pequenos e médios exportadores", diz o vice-presidente da
AEB (Associação de Comércio
Exterior do Brasil), José Augusto de Castro.
Uma das vantagens do comércio em moeda local, em tese, é a redução de custos com a
conversão de moedas e com a
dispensa do contrato de câmbio, algo estimado em 4% do total. Como não há uma relação
direta entre o real e o peso, no
entanto, as cotações são calculadas com base na paridade de
cada moeda com o dólar e os
bancos que fazem essas operações embutem os custos e riscos cambiais nessa taxa. "No final, o exportador acaba recebendo menos do que se utilizasse o dólar", diz o diretor-executivo da corretora NGO,
Sidnei Nehme.
Outro obstáculo ao sistema,
diz o consultor Angelo Luiz Lunardi, da associação Aduaneiras, é a falta de confiança no peso argentino. Segundo Lunardi,
o risco da operação está sempre
relacionado à moeda do exportador. "O importador no Brasil,
quando vai comprar pelo SML,
vai correr o risco dessa moeda
[o peso]. É mais confortável
correr o risco entre o dólar e o
real", afirma.
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