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Doleiro mantém informante na PF
Polícia tem indícios de que Marco Antonio Cursini soube da ordem de prisão contra ele e, por isso, conseguiu escapar
Cursini é apontado pela PF como o doleiro do escritório de "private banking" do Credit Suisse em SP e era alvo da Operação Kaspar
MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL
A Polícia Federal e o Ministério Público Federal já têm indícios de que o doleiro Marco Antonio Cursini e seu filho Caio
Vinicius escaparam de ser presos na última terça-feira porque houve vazamento de informações da Operação Kaspar.
Os indicadores de vazamento
são tão fortes que a PF teve de
adiar uma vez a operação. Na
última segunda-feira, dois advogados mencionaram à Folha
que a operação ocorreria no dia
seguinte, como aconteceu.
Cursini é apontado pela PF
como o doleiro oficial do escritório de "private banking" do
Credit Suisse em São Paulo, como a Folha revelou em setembro do ano passado.
Investigações apontaram no
ano passado que o Credit Suisse abria contas na Suíça para
brasileiros que quisessem enviar dólares sem conhecimento
da Receita Federal.
Como os clientes não saíam
do Brasil, o Credit encaminhava o cliente ao doleiro para que
ele fizesse a remessa.
A Operação Kaspar prendeu
22 doleiros que trabalhavam
para o Credit na última terça. A
PF tem indicações de que Cursini comandava a rede, a qual
movimentava mensalmente
cerca de US$ 30 milhões (pouco mais de R$ 60 milhões). A
maioria dos clientes do Credit
são empresários que usam caixa dois para não pagar todos os
impostos. A operação recebeu
esse nome em alusão à Suíça:
"kaspar" é o primeiro capitão
da guarda suíça responsável
pela segurança do papa.
A PF tem certeza de que houve vazamento de informações e
de que conseguiu prender um
advogado que repassava informações aos doleiros, chamado
José Eduardo Savóia.
O advogado, segundo escutas
telefônicas feitas pela PF, obtinha informações dentro da
própria polícia e as repassava a
Cursini e seu grupo. Savóia tem
outros doleiros como cliente,
mas não advoga para Cursini.
Dados sigilosos dos inquéritos
também eram passados aos doleiros que podiam ser prejudicados com a informação.
O que intriga os policiais é
que a Delefin (Delegacia de Repressão aos Crimes Financeiros) é considerada uma delegacia modelo na Polícia Federal.
O titular da Delefin, Roberto
Troncon, é considerado até por
seus detratores um delegado
discreto e preparadíssimo. Entre seus subordinados, há delegados que fazem mestrado em
economia para investigar melhor os crimes financeiros -caso de Ricardo Saadi, responsável pela Operação Kaspar.
Dúvidas sobre o crime
Sem conhecer todo o teor da
investigação da PF sobre o advogado preso, o presidente da
seção paulista da OAB (Ordem
dos Advogados do Brasil), Luiz
Flávio Borges d'Urso, diz ter
dúvidas sobre a existência de
crime no caso de Savóia.
D'Urso diz não ver crimes
nos fatos de o advogado revelar
dados sigilosos dos inquéritos
nem alertar clientes de que a
PF fará eventuais prisões.
"O particular que recebe a informação de que o Zé da Silva
vai ser preso e o avisa não comete crime, na minha interpretação. Não existe crime por avisar alguém de que determinada
prisão vai ocorrer", afirma.
Pode ocorrer crime, segundo
ele, se o advogado corromper
algum agente público para obter a informação.
A Folha não conseguiu localizar eventuais advogados do
advogado preso pela PF.
O Credit Suisse diz que seu
escritório de "private banking"
nunca violou as leis brasileiras.
Segundo a sua assessoria, o
"private banking" é uma unidade de negócios autônoma, sem
ligações com o banco de investimentos de mesmo nome.
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