São Paulo, domingo, 22 de abril de 2007

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Doleiro mantém informante na PF

Polícia tem indícios de que Marco Antonio Cursini soube da ordem de prisão contra ele e, por isso, conseguiu escapar

Cursini é apontado pela PF como o doleiro do escritório de "private banking" do Credit Suisse em SP e era alvo da Operação Kaspar

MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL

A Polícia Federal e o Ministério Público Federal já têm indícios de que o doleiro Marco Antonio Cursini e seu filho Caio Vinicius escaparam de ser presos na última terça-feira porque houve vazamento de informações da Operação Kaspar.
Os indicadores de vazamento são tão fortes que a PF teve de adiar uma vez a operação. Na última segunda-feira, dois advogados mencionaram à Folha que a operação ocorreria no dia seguinte, como aconteceu.
Cursini é apontado pela PF como o doleiro oficial do escritório de "private banking" do Credit Suisse em São Paulo, como a Folha revelou em setembro do ano passado.
Investigações apontaram no ano passado que o Credit Suisse abria contas na Suíça para brasileiros que quisessem enviar dólares sem conhecimento da Receita Federal.
Como os clientes não saíam do Brasil, o Credit encaminhava o cliente ao doleiro para que ele fizesse a remessa.
A Operação Kaspar prendeu 22 doleiros que trabalhavam para o Credit na última terça. A PF tem indicações de que Cursini comandava a rede, a qual movimentava mensalmente cerca de US$ 30 milhões (pouco mais de R$ 60 milhões). A maioria dos clientes do Credit são empresários que usam caixa dois para não pagar todos os impostos. A operação recebeu esse nome em alusão à Suíça: "kaspar" é o primeiro capitão da guarda suíça responsável pela segurança do papa.
A PF tem certeza de que houve vazamento de informações e de que conseguiu prender um advogado que repassava informações aos doleiros, chamado José Eduardo Savóia.
O advogado, segundo escutas telefônicas feitas pela PF, obtinha informações dentro da própria polícia e as repassava a Cursini e seu grupo. Savóia tem outros doleiros como cliente, mas não advoga para Cursini. Dados sigilosos dos inquéritos também eram passados aos doleiros que podiam ser prejudicados com a informação.
O que intriga os policiais é que a Delefin (Delegacia de Repressão aos Crimes Financeiros) é considerada uma delegacia modelo na Polícia Federal. O titular da Delefin, Roberto Troncon, é considerado até por seus detratores um delegado discreto e preparadíssimo. Entre seus subordinados, há delegados que fazem mestrado em economia para investigar melhor os crimes financeiros -caso de Ricardo Saadi, responsável pela Operação Kaspar.

Dúvidas sobre o crime
Sem conhecer todo o teor da investigação da PF sobre o advogado preso, o presidente da seção paulista da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), Luiz Flávio Borges d'Urso, diz ter dúvidas sobre a existência de crime no caso de Savóia.
D'Urso diz não ver crimes nos fatos de o advogado revelar dados sigilosos dos inquéritos nem alertar clientes de que a PF fará eventuais prisões.
"O particular que recebe a informação de que o Zé da Silva vai ser preso e o avisa não comete crime, na minha interpretação. Não existe crime por avisar alguém de que determinada prisão vai ocorrer", afirma.
Pode ocorrer crime, segundo ele, se o advogado corromper algum agente público para obter a informação.
A Folha não conseguiu localizar eventuais advogados do advogado preso pela PF.
O Credit Suisse diz que seu escritório de "private banking" nunca violou as leis brasileiras. Segundo a sua assessoria, o "private banking" é uma unidade de negócios autônoma, sem ligações com o banco de investimentos de mesmo nome.


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