|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ARTIGO
Reservas escassas de recursos podem travar expansão global
Estoques baixos indicam que era das commodities baratas acabou para sempre
PAUL KRUGMAN
DO "NEW YORK TIMES"
NOVE ANOS atrás, a
"Economist" publicou
grande reportagem sobre o petróleo, que na época era
vendido por US$ 10 o barril. A
revista avisou que essa situação
poderia não durar muito tempo. Sugeriu que, em lugar disso,
o preço poderia cair para US$ 5.
De qualquer maneira, disse a
revista, o mundo "está diante
da perspectiva de petróleo em
abundância e a preço baixo durante o futuro previsível".
Na semana passada, o preço
do barril chegou a US$ 117.
Não se trata só de dizer que o
petróleo desmentiu a complacência de alguns anos atrás. Os
preços dos alimentos também
subiram, assim como os de metais básicos. E o aumento mundial nos preços dos commodities está trazendo de volta pergunta que não ouvíamos com
freqüência desde os anos 1970:
as reservas limitadas de recursos naturais vão representar
um obstáculo ao crescimento
econômico futuro do mundo?
A resposta que se dá a essa
pergunta depende em grande
medida do que se acredita que
esteja motivando a alta nos preços dos recursos. Há três pontos de vista distintos sobre isso.
O primeiro diz que a razão
principal é a especulação: que
os investidores, interessados
em obter retornos altos num
período de juros baixos, investiram pesado em futuros de
commodities, gerando alta nos
preços. Segundo essa visão, a
bolha deve se romper em algum
momento não distante.
A segunda explicação é que
os preços crescentes dos recursos devem-se a questões fundamentais -especialmente à demanda dos chineses-, mas que, com o tempo, vamos perfurar mais poços, plantar mais
hectares, e o aumento da oferta
reduzirá os preços outra vez.
O terceiro ponto de vista reza
que a era das commodities baratas acabou para sempre -que
estão se esgotando o petróleo, a
terra na qual ampliar a produção de alimentos e, de modo geral, as reservas exploráveis do
planeta.
Minha opinião fica em algum
lugar entre a segunda e a terceira explicações.
Algumas pessoas inteligentes -entre as quais George Soros- pensam que vivemos uma
bolha de commodities. A objeção que faço a esse argumento
é: onde estão os estoques?
Normalmente, a especulação
empurra os preços dos commodities para cima, motivando o
armazenamento deles. Mas
não se vêem sinais desse armazenamento: os estoques de alimentos e metais encontram-se
em seus níveis historicamente
mais baixos e os de petróleo estão apenas normais.
O melhor argumento em defesa da segunda explicação, a de
que o arrocho dos commodities
é real, mas temporário, está na
semelhança entre o que estamos vendo hoje e a crise dos recursos vivida nos anos 1970.
O que os americanos mais recordam sobre a década de 1970
são a alta dos preços do petróleo e as filas nos postos de combustíveis. Mas também houve
grave crise global de alimentos,
que provocou dor nas filas dos
caixas dos supermercados e
ajudou a causar períodos devastadores de fome generalizada em países mais pobres.
Olhando em retrospectiva, o
boom de commodities de 1972-75 foi provavelmente fruto do
rápido crescimento mundial,
que superou a oferta, aliado aos
efeitos de problemas climáticos e do conflito do Oriente
Médio. O período difícil chegou
ao fim, novas extensões de terra começaram a ser cultivadas,
fontes de petróleo foram encontradas no golfo do México e
no mar do Norte, e os recursos
voltaram a custar pouco.
Desta vez, porém, pode ser
diferente. As preocupações sobre o que acontece quando uma
economia global em constante
crescimento se choca com os limites de um planeta finito
soam mais próximas da verdade hoje do que nos anos 1970.
Para começar, não prevejo
que o crescimento da China vá
diminuir no futuro próximo. É
um contraste grande com o que
aconteceu nos anos 1970, quando o crescimento no Japão e na
Europa, os emergentes da época, diminuiu, aliviando a pressão sobre os recursos.
Enquanto isso, está se tornando mais difícil encontrar
recursos. As grandes descobertas petrolíferas, em especial,
passaram a ser poucas e raras.
E o mau tempo que prejudica
a produção agrícola desta vez
está começando a configurar-se como algo mais fundamental
e permanente que o El Niño e
La Niña, que prejudicaram as
plantações 35 anos atrás. A
Austrália passa pelo décimo
ano de estiagem que, cada vez
mais, parece constituir-se numa manifestação de mudanças
climáticas de longo prazo.
Suponhamos que estejamos
de fato topando com os limites
do planeta. O que isso significa?
Mesmo que se verifique que
de fato chegamos ao pico da
produção petrolífera mundial,
ou quase, isso não quer dizer
que um dia digamos "oh, meu
Deus! O petróleo acaba de se
esgotar!" e assistamos à civilização desabar em anarquia ao
estilo "Mad Max".
Mas os países ricos vão enfrentar a pressão constante da
alta dos preços das commodities sobre suas economias, dificultando a elevação de seu padrão de vida. E alguns países
pobres passarão a viver perigosamente perto do abismo -ou
cairão nele.
Não olhe agora, mas é possível que os bons tempos tenham
ficado para trás.
PAUL KRUGMAN , economista, é colunista do
"New York Times" e professor na Universidade
Princeton (EUA).
Tradução de CLARA ALLAIN
Texto Anterior: Canaviais crescem com avanço sobre pastos Próximo Texto: Maiores países da Europa serão mais afetados, afirma FMI Índice
|