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Estrangeiro retoma especulação com juro
Bancos veem a volta de fundos agressivos, que emprestam dinheiro no exterior para investir com retorno maior no Brasil
Diferença de juros entre Brasil e EUA, que chega
a dez pontos percentuais,
e menor instabilidade no câmbio estimulam investidor
TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL
Sete meses após o agravamento da crise, o mercado brasileiro voltou a sentir a volta do
investidor estrangeiro de perfil
agressivo, especialmente os
fundos de hedge americanos,
que buscam ganhos em curto
prazo com os juros ainda altos e
ações baratas no Brasil.
Segundo bancos estrangeiros, esse investidor está agora
menos alavancado e volta de
forma tímida, com volumes
bastante inferiores aos vistos
até meados do ano passado. O
objetivo é ganhar com a diferença de rentabilidades no Brasil, em relação ao dinheiro captado dos clientes e mesmo emprestado em seus países de origem, o chamado "carry trade".
Só que essas operações -especulativas porque trabalham
com projeções de cenários- só
fecham se a moeda brasileira tiver trajetória estável ou ascendente, como perdurou até meados de 2008. Com alta volatilidade, o eventual ganho com juro maior -hoje de dez pontos
percentuais acima de EUA, Europa e Japão- pode ser corroído em poucos dias pelo câmbio.
"É verdade que esse investidor está voltando. Mas em proporção muito menor do que se
via. O juro no Brasil ainda é
muito alto. Tem um "carry trade" pesado para fazer aqui", disse Pedro Lorenzini, diretor de
tesouraria do Citibank.
A volta do estrangeiro é notada pela entrada, ainda modesta,
de recursos na primeira metade deste mês, que levou o dólar
a recuar até 6,7% e a bater em
R$ 2,17 na última quinta. Na
Bovespa, as aplicações líquidas
de estrangeiros já somam R$
2,96 bilhões em abril. Segundo
o BC, os estrangeiros trouxeram nos primeiros sete dias
úteis do mês US$ 287 milhões
-mais do que os US$ 62 milhões de todo o mês de março.
A consultoria EPFR global,
que mede o fluxo de dinheiro
entre os fundos, aponta a entrada de US$ 255 milhões no Brasil em abril -no ano, a captação
já chega a US$ 1,36 bilhão.
Na ponta oposta, houve venda maciça de títulos dos EUA,
cujos papéis de dez anos tiveram o retorno elevado de 2,5%
a quase 3% ao ano em menos de
30 dias -a taxa sobe conforme
cai a procura. Em abril, os fundos de renda fixa de países desenvolvidos tiveram saques de
US$ 18,1 bilhões, enquanto
US$ 3 bilhões migraram para a
renda fixa de alta performance,
incluindo emergentes como o
Brasil, segundo a EPFR.
De acordo com Sidnei Nehme, especialista em câmbio, os
fundos estrangeiros mudaram
de lado na BM&F na semana
passada, passando a apostar na
valorização do real. Na Bolsa, as
apostas na alta do dólar caíram
de US$ 3,3 bilhões para US$
275 milhões, de 1º a 15 de abril.
"Se esse movimento se acentuar, poderá agilizar a valorização do real", disse Nehme.
Com a alta do real, o "carry
trade" ganha duas vezes: o juro
maior e o câmbio de saída.
Para Carlos Rocha, responsável pela gestão de fundos do
JPMorgan, a volta do especulador estrangeiro ainda é incipiente, apesar da diminuição
do risco cambial e da melhora
da confiança externa.
"A gente vê o investidor estrangeiro entrando de volta, fazendo operações, mas ainda esporádicas. Apesar de a volatilidade do câmbio estar mais baixa, o mercado ainda chacoalha
muito mais do que em 2007. O
"carry trade" não está tranquilo
com esse nível de volatilidade.
Ele começa a ficar mais viável.
O arbitrador entrava para ganhar um diferencial de juros de
dez pontos e podia perder isso
em três dias no câmbio -essa
arbitragem com taxa de juros
deixava de fazer sentido; agora,
começa a fazer sentido."
Lorenzini diz que o mercado
vive um dilema sobre se o fundo do poço já passou ou se a melhora não passa de um soluço.
"Se você acredita que é o início
do fim da crise e tem um pouco
de capital para apostar, começa
a fazer um pouco aqui e ali [de
"carry trade']. A gente sente alguns estrangeiros indo para a
renda fixa. Quando entra em
renda fixa, fatalmente faz "carry
trade" porque carrega um custo
de capital mais baixo, seja ele
de EUA, Japão ou Europa."
Para Keith Gardner, responsável por emergentes da Legg
Mason, maior gestora de renda
fixa do mundo, a redução dos
juros no Brasil não deve desestimular a entrada de estrangeiros. "Muitas pessoas reduziram
suas posições em "carry trade"
no Brasil por causa das incertezas sobre o ciclo global. Mas o
Brasil está mais estável do que
muitos imaginavam. O país
continuará sendo um dos mais
atraentes para investimento
em portfólio, inclusive pela liquidez, que é uma das maiores
do mundo", disse.
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