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FMI estima em US$ 4,1 tri as perdas financeiras
Até agora apenas US$ 1 trilhão foi reconhecido como prejuízo definitivo
Fundo afirma que pode ser
necessário estatizar bancos;
Geithner diz que maioria das
instituições dos EUA tem
capital para seguir operando
FERNANDO CANZIAN
ENVIADO ESPECIAL A WASHINGTON
O FMI (Fundo Monetário
Internacional) agora calcula
em até US$ 4,1 trilhões o total
de perdas que as instituições financeiras globais terão de cobrir até o final de 2010 para
continuarem viáveis. Desse total, só US$ 1 trilhão já foi reconhecido pelas instituições como perdas definitivas.
Mesmo assim, o secretário
do Tesouro dos EUA, Timothy
Geithner, disse ontem que "a
vasta maioria" dos bancos no
país têm hoje o capital "necessário" para continuar operando. Depois de forte queda na segunda-feira, as ações dos bancos reagiram, e a Bolsa de Valores de Nova York subiu 1,63%.
Mas o FMI não acredita em recuperação no curto prazo.
As perdas potenciais totais
equivalem a 7% de todos os créditos bancários e financeiros
pendentes nos Estados Unidos
(US$ 26,5 trilhões), na Europa
(US$ 23,8 trilhões) e no Japão
(US$ 7,3 trilhões).
O Fundo prevê que o sistema
financeiro cortará mais o volume de empréstimos a empresas
e consumidores caso não consiga cobrir esses rombos. Isso dificultaria ainda mais a saída da
atual recessão, considerada a
maior desde a Grande Depressão, na década de 1930.
Para conseguir os US$ 4,1 trilhões em capital, equivalentes a
mais de três anos do PIB brasileiro, o Fundo diz que pode ser
necessária a estatização de alguns bancos.
Ao garantir a sobrevivência
da instituições via Estado, diz o
FMI, investidores privados podem se sentir encorajados a injetar capital nos bancos, acelerando o processo de fechamento dos rombos.
Pouco mais de 60% das perdas se concentram apenas nos
bancos. Seguradoras, fundos de
pensão e outras instituições
respondem por outros 34%.
Foi a primeira vez em que o
FMI calculou perdas potenciais somando EUA, Europa e
Japão. Os EUA concentram
cerca de dois terços delas.
"Medidas extraordinárias
para recuperar a confiança nos
mercados foram tomadas. Muito mais talvez seja necessário.
Alguns sinais de recuperação
não são totalmente seguros, e
não podemos deixar essa oportunidade escapar pelos dedos",
afirmou José Viñals, diretor do
FMI, no lançamento do "Relatório sobre a Estabilidade Financeira Global".
Dinheiro público
Do total de US$ 4,1 trilhões,
segundo o FMI, só US$ 1 trilhão
já foi totalmente reconhecido
pelos bancos até o momento
como perdas reais. Ou seja, há
US$ 3,1 trilhões a serem eventualmente cobertos. E grande
parte do US$ 1 trilhão já reconhecido foi coberta com dinheiro público -que deve ser
eventualmente devolvido.
A grande questão agora é onde conseguir o resto dinheiro.
Há mais de um mês, o governo dos EUA lançou um programa para encorajar investidores
privados a injetar capital nos
bancos. Eles o fariam comprando os chamados ativos "tóxicos" que entopem suas carteiras (o que travou o mercado de
crédito e dificulta a saída da
atual recessão).
Mas, até agora, não houve nenhuma operação do tipo.
Os ativos "tóxicos" são justamente a principal origem das
perdas potenciais de US$ 4,1
trilhões e são resultado de créditos e empréstimos bancários
malfeitos ou sem lastro a investidores e clientes dos bancos.
Em alguns casos, US$ 1 em ativos reais chegou a financiar
US$ 34 em novos empréstimos.
Por isso, o Fundo diz que a
estatização "por tempo determinado" de bancos "pode ser
necessária". "Funcionaria como um catalisador para encorajar o investidor privado a injetar capital nesses bancos, acelerando o processo de cobertura das perdas", disse Viñals.
O governo dos EUA já injetou
cerca de US$ 570 bilhões em dinheiro público nos bancos e
tem outros US$ 130 bilhões
aprovados pelo Congresso. Em
tese, pode solicitar mais US$
700 bilhões, se necessário.
No início de maio, o Tesouro
fará conhecer o resultado dos
chamados "testes de estresse"
realizados nos 19 bancos que
mais receberam fundos públicos. Dependendo dos resultados, poderão ter mais, ou devolver o que já receberam.
Quatro dos principais bancos
que receberam dinheiro público (Bank of America, Citibank,
Goldman Sachs e Wells Fargo)
divulgaram recentemente balanços referentes ao primeiro
trimestre de 2009. Todos mostraram lucros surpreendentes.
Uma análise mais acurada
dos balanços, porém, mostrou
que grande parte dos "lucros"
não passou de operações contábeis, como calcular "ganhos"
sobre seus títulos no mercado
que poderiam ser recomprados, e até mesmo mudança no
chamado ano fiscal.
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