São Paulo, quarta-feira, 22 de abril de 2009

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FMI estima em US$ 4,1 tri as perdas financeiras

Até agora apenas US$ 1 trilhão foi reconhecido como prejuízo definitivo

Fundo afirma que pode ser necessário estatizar bancos; Geithner diz que maioria das instituições dos EUA tem capital para seguir operando

FERNANDO CANZIAN
ENVIADO ESPECIAL A WASHINGTON

O FMI (Fundo Monetário Internacional) agora calcula em até US$ 4,1 trilhões o total de perdas que as instituições financeiras globais terão de cobrir até o final de 2010 para continuarem viáveis. Desse total, só US$ 1 trilhão já foi reconhecido pelas instituições como perdas definitivas.
Mesmo assim, o secretário do Tesouro dos EUA, Timothy Geithner, disse ontem que "a vasta maioria" dos bancos no país têm hoje o capital "necessário" para continuar operando. Depois de forte queda na segunda-feira, as ações dos bancos reagiram, e a Bolsa de Valores de Nova York subiu 1,63%. Mas o FMI não acredita em recuperação no curto prazo.
As perdas potenciais totais equivalem a 7% de todos os créditos bancários e financeiros pendentes nos Estados Unidos (US$ 26,5 trilhões), na Europa (US$ 23,8 trilhões) e no Japão (US$ 7,3 trilhões).
O Fundo prevê que o sistema financeiro cortará mais o volume de empréstimos a empresas e consumidores caso não consiga cobrir esses rombos. Isso dificultaria ainda mais a saída da atual recessão, considerada a maior desde a Grande Depressão, na década de 1930.
Para conseguir os US$ 4,1 trilhões em capital, equivalentes a mais de três anos do PIB brasileiro, o Fundo diz que pode ser necessária a estatização de alguns bancos.
Ao garantir a sobrevivência da instituições via Estado, diz o FMI, investidores privados podem se sentir encorajados a injetar capital nos bancos, acelerando o processo de fechamento dos rombos.
Pouco mais de 60% das perdas se concentram apenas nos bancos. Seguradoras, fundos de pensão e outras instituições respondem por outros 34%.
Foi a primeira vez em que o FMI calculou perdas potenciais somando EUA, Europa e Japão. Os EUA concentram cerca de dois terços delas.
"Medidas extraordinárias para recuperar a confiança nos mercados foram tomadas. Muito mais talvez seja necessário. Alguns sinais de recuperação não são totalmente seguros, e não podemos deixar essa oportunidade escapar pelos dedos", afirmou José Viñals, diretor do FMI, no lançamento do "Relatório sobre a Estabilidade Financeira Global".


Dinheiro público
Do total de US$ 4,1 trilhões, segundo o FMI, só US$ 1 trilhão já foi totalmente reconhecido pelos bancos até o momento como perdas reais. Ou seja, há US$ 3,1 trilhões a serem eventualmente cobertos. E grande parte do US$ 1 trilhão já reconhecido foi coberta com dinheiro público -que deve ser eventualmente devolvido.
A grande questão agora é onde conseguir o resto dinheiro.
Há mais de um mês, o governo dos EUA lançou um programa para encorajar investidores privados a injetar capital nos bancos. Eles o fariam comprando os chamados ativos "tóxicos" que entopem suas carteiras (o que travou o mercado de crédito e dificulta a saída da atual recessão).
Mas, até agora, não houve nenhuma operação do tipo.
Os ativos "tóxicos" são justamente a principal origem das perdas potenciais de US$ 4,1 trilhões e são resultado de créditos e empréstimos bancários malfeitos ou sem lastro a investidores e clientes dos bancos. Em alguns casos, US$ 1 em ativos reais chegou a financiar US$ 34 em novos empréstimos.
Por isso, o Fundo diz que a estatização "por tempo determinado" de bancos "pode ser necessária". "Funcionaria como um catalisador para encorajar o investidor privado a injetar capital nesses bancos, acelerando o processo de cobertura das perdas", disse Viñals.
O governo dos EUA já injetou cerca de US$ 570 bilhões em dinheiro público nos bancos e tem outros US$ 130 bilhões aprovados pelo Congresso. Em tese, pode solicitar mais US$ 700 bilhões, se necessário.
No início de maio, o Tesouro fará conhecer o resultado dos chamados "testes de estresse" realizados nos 19 bancos que mais receberam fundos públicos. Dependendo dos resultados, poderão ter mais, ou devolver o que já receberam.
Quatro dos principais bancos que receberam dinheiro público (Bank of America, Citibank, Goldman Sachs e Wells Fargo) divulgaram recentemente balanços referentes ao primeiro trimestre de 2009. Todos mostraram lucros surpreendentes.
Uma análise mais acurada dos balanços, porém, mostrou que grande parte dos "lucros" não passou de operações contábeis, como calcular "ganhos" sobre seus títulos no mercado que poderiam ser recomprados, e até mesmo mudança no chamado ano fiscal.


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