São Paulo, quarta-feira, 22 de abril de 2009

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País não ameaça indústria brasileira, diz novo embaixador

RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM

O presidente Lula visita a China em maio e, segundo o novo embaixador do país no Brasil, "abre uma nova etapa de oportunidades de investimentos entre os dois países".
Apesar da retórica de "parceria estratégica", os investimentos bilaterais são mínimos e ainda há muitas barreiras para produtos brasileiros no mercado do gigante chinês.
Qiu Xiaoqi chegou há um mês a Brasília e diz que a China não é uma "ameaça" aos empresários brasileiros e que é um país aberto. "Os dois países estão crescendo e são complementares. O Brasil tem recursos naturais de que a China precisa e o Brasil precisa das manufaturas chinesas, que são bem recebidas", disse à Folha.
Ele não quis discutir a proposta brasileira de abandonar o dólar nas transações comerciais bilaterais, usando apenas reais e yuans, "pois são necessários muitos estudos nessa área para saber se é viável".
Como é comum na diplomacia chinesa, o embaixador se especializou em uma área do mundo -Ibero-América- e há 30 anos desempenha funções em países como Cuba, Peru, Chile e Bolívia, além de ter sido diretor-geral da América Latina na chancelaria. Era embaixador da China na Espanha e acaba de trocar Madri por Brasília. Em espanhol, conversou com a Folha.

 

FOLHA - A Fiesp já acusou a China de começar a desviar os produtos que não consegue vender nos EUA ou na Europa para o Brasil a preços irreais. A China não teme uma guerra comercial?
QIU XIAOQI
- Não há motivos para preocupação. A China está disposta a resolver questões comerciais, que sempre devem ser em benefício recíproco. A China não é ameaça para nada.
No intercâmbio comercial, os dois lados podem ganhar.
O comércio bilateral, segundo as estatísticas chinesas, já é de US$ 50 bilhões. Um terço do comércio da China com a América Latina acontece com o Brasil. É o principal sócio da China na região.

FOLHA - Apesar do discurso de parceria, os investimentos da China no Brasil são mínimos. Por que a China tem investido tanto na África e em outros países e não no Brasil?
QIU
- O vice-presidente Xi Jinping esteve no Brasil em fevereiro, assinando diversos convênios bilaterais e de investimentos como o da Petrobras.
China e Brasil são economias importantes e complementares. O Brasil é rico em recursos naturais e tem necessidades que a China pode suprir. O Brasil precisa das manufaturas chinesas, que são bem recebidas. Há mais condições de investimentos nos dois lados, os governos das duas partes podem promover mais investimentos.
A visita do presidente Lula em maio a Pequim será outra oportunidade.
A economia chinesa cresce rápido, mas também com dificuldades pela desaceleração global. Mas temos projetos de estímulo para superar isso.

FOLHA - O presidente chinês, Hu Jintao, esteve no Brasil no final de 2004 e prometeu investimentos de US$ 70 bilhões no Brasil e na Argentina. Nem 1% desse montante ainda foi investido. O que emperra os investimentos?
QIU
- Há desconhecimento mútuo entre os dois países, a América Latina está longe da China, temos que superar essa barreira. Primeiro, os dois países têm que se fazer conhecer. Empresas chinesas sempre esperam compras em boas condições para investir. Precisamos investir em promoção.

FOLHA - Menos de 40 empresas brasileiras estão estabelecidas na China e boa parte tem apenas um pequeno escritório. Parece que também não é fácil investir na China.
QIU
- Acho que as empresas brasileiras devem ser mais audazes, mais valentes, na hora de investir na China. A China é muito aberta para investimentos estrangeiros, muito vantajosa. O mercado chinês é muito aberto ao que vem de todo o mundo. Temos uma economia de mercado socialista. Se o mercado não está aberto, é ruim para o nosso desenvolvimento. Queremos ser competitivos globalmente.

FOLHA - Mas há barreiras tarifárias e burocracias que impedem a entrada da carne de frango, de porcos, do álcool combustível e de outros produtos brasileiros competitivos.
QIU
- Como acontece no comércio, essas questões devem ser discutidas, negociadas pelos dois países. Mas, repito, a China é aberta.

FOLHA - Em que outras áreas Brasil e China podem se aproximar?
QIU
- Em assuntos internacionais somos parecidos. A crise fortaleceu posições coordenadas e ambos queremos reformas do sistema financeiro internacional, mais supervisão e lutamos contra o protecionismo comercial.
O Brasil é o mais sólido país da América Latina em pesquisa científica, de alta tecnologia. Podemos ter mais intercâmbio nessa área, que é de todo interesse para o meu país.


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