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País não ameaça indústria brasileira, diz novo embaixador
RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM
O presidente Lula visita a
China em maio e, segundo o novo embaixador do país no Brasil, "abre uma nova etapa de
oportunidades de investimentos entre os dois países".
Apesar da retórica de "parceria estratégica", os investimentos bilaterais são mínimos e
ainda há muitas barreiras para
produtos brasileiros no mercado do gigante chinês.
Qiu Xiaoqi chegou há um
mês a Brasília e diz que a China
não é uma "ameaça" aos empresários brasileiros e que é um
país aberto. "Os dois países estão crescendo e são complementares. O Brasil tem recursos naturais de que a China precisa e o Brasil precisa das manufaturas chinesas, que são
bem recebidas", disse à Folha.
Ele não quis discutir a proposta brasileira de abandonar o
dólar nas transações comerciais bilaterais, usando apenas
reais e yuans, "pois são necessários muitos estudos nessa
área para saber se é viável".
Como é comum na diplomacia chinesa, o embaixador se
especializou em uma área do
mundo -Ibero-América- e há
30 anos desempenha funções
em países como Cuba, Peru,
Chile e Bolívia, além de ter sido
diretor-geral da América Latina na chancelaria. Era embaixador da China na Espanha e
acaba de trocar Madri por Brasília. Em espanhol, conversou
com a Folha.
FOLHA - A Fiesp já acusou a China
de começar a desviar os produtos
que não consegue vender nos EUA
ou na Europa para o Brasil a preços
irreais. A China não teme uma guerra comercial?
QIU XIAOQI - Não há motivos para preocupação. A China está
disposta a resolver questões comerciais, que sempre devem
ser em benefício recíproco. A
China não é ameaça para nada.
No intercâmbio comercial, os
dois lados podem ganhar.
O comércio bilateral, segundo as estatísticas chinesas, já é
de US$ 50 bilhões. Um terço do
comércio da China com a América Latina acontece com o Brasil. É o principal sócio da China
na região.
FOLHA - Apesar do discurso de parceria, os investimentos da China no
Brasil são mínimos. Por que a China
tem investido tanto na África e em
outros países e não no Brasil?
QIU - O vice-presidente Xi Jinping esteve no Brasil em fevereiro, assinando diversos convênios bilaterais e de investimentos como o da Petrobras.
China e Brasil são economias
importantes e complementares. O Brasil é rico em recursos
naturais e tem necessidades
que a China pode suprir. O Brasil precisa das manufaturas chinesas, que são bem recebidas.
Há mais condições de investimentos nos dois lados, os governos das duas partes podem
promover mais investimentos.
A visita do presidente Lula
em maio a Pequim será outra
oportunidade.
A economia chinesa cresce
rápido, mas também com dificuldades pela desaceleração
global. Mas temos projetos de
estímulo para superar isso.
FOLHA - O presidente chinês, Hu
Jintao, esteve no Brasil no final de
2004 e prometeu investimentos de
US$ 70 bilhões no Brasil e na Argentina. Nem 1% desse montante ainda
foi investido. O que emperra os investimentos?
QIU - Há desconhecimento
mútuo entre os dois países, a
América Latina está longe da
China, temos que superar essa
barreira. Primeiro, os dois países têm que se fazer conhecer.
Empresas chinesas sempre
esperam compras em boas condições para investir. Precisamos investir em promoção.
FOLHA - Menos de 40 empresas
brasileiras estão estabelecidas na
China e boa parte tem apenas um
pequeno escritório. Parece que também não é fácil investir na China.
QIU - Acho que as empresas
brasileiras devem ser mais audazes, mais valentes, na hora de
investir na China. A China é
muito aberta para investimentos estrangeiros, muito vantajosa. O mercado chinês é muito
aberto ao que vem de todo o
mundo. Temos uma economia
de mercado socialista. Se o
mercado não está aberto, é
ruim para o nosso desenvolvimento. Queremos ser competitivos globalmente.
FOLHA - Mas há barreiras tarifárias
e burocracias que impedem a entrada da carne de frango, de porcos, do
álcool combustível e de outros produtos brasileiros competitivos.
QIU - Como acontece no comércio, essas questões devem
ser discutidas, negociadas pelos dois países. Mas, repito, a
China é aberta.
FOLHA - Em que outras áreas Brasil
e China podem se aproximar?
QIU - Em assuntos internacionais somos parecidos. A crise
fortaleceu posições coordenadas e ambos queremos reformas do sistema financeiro internacional, mais supervisão e
lutamos contra o protecionismo comercial.
O Brasil é o mais sólido país
da América Latina em pesquisa
científica, de alta tecnologia.
Podemos ter mais intercâmbio
nessa área, que é de todo interesse para o meu país.
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