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Verba para frigorífico ameaça Amazônia
Estudo aponta que grandes grupos, responsáveis por 40% dos investimentos do BNDES em toda a indústria, avançam na região
Ministério do Meio Ambiente diz negociar que
socorro a empresas seja
condicionado à aquisição
de bovinos de origem legal
MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Beneficiários de quase metade dos investimentos do
BNDES (Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e
Social) na indústria no ano passado (R$ 5,9 bilhões) e de um
pacote igualmente bilionário
de socorro anunciado na última
quinta-feira, os frigoríficos estimulam o avanço da fronteira
agrícola na Amazônia.
A atuação dos frigoríficos foi
mapeada em estudo da ONG
Amigos da Terra. No trabalho,
os frigoríficos aparecem ao
mesmo tempo como "causa e
consequência" do crescimento
da pecuária na Amazônia Legal,
atividade que mais devasta a
floresta. A região já é responsável por 40% do rebanho bovino
do país e banca parte das exportações brasileiras de carne.
Consultado sobre as conclusões do relatório, o ministro
Carlos Minc (Meio Ambiente)
afirmou que negocia com a
equipe econômica condicionar
o socorro financeiro aos frigoríficos a restrições ao gado de origem ilegal, mas empresários do
setor negam que seja possível
cumprir esse tipo de exigência.
"Vou combinar com o Guido
Mantega [ministro da Fazenda] os detalhes nos próximos
dias", disse Minc. "Não dá para
ter condicionante", disse Roberto Giannetti da Fonseca,
presidente da Abiec, associação
que representa os grandes frigoríficos: "Acabar com o abate
de gado de origem ilegal [na
Amazônia] é um objetivo desejável, mas é impraticável".
Quatro grandes frigoríficos
nacionais -Bertin, JBS Friboi,
Marfrig e Independência- lideram a lista das operações diretas do BNDES com a indústria em 2008. Juntos, receberam investimentos de R$ 4,7
bilhões. Com as demais empresas do setor, os investimentos
alcançaram, no ano passado,
R$ 5,9 bilhões -40% do total
contratado pela indústria.
Esse valor não leva em conta
operações indiretas do BNDES
-via outros agentes financeiros, empréstimos de fluxos de
caixa e refinanciamentos de dívidas-, cujos desembolsos à indústria somaram R$ 39 bilhões,
segundo informação do banco.
Concentração
Intitulado "A Hora da Conta:
Pecuária, Amazônia e Conjuntura", o relatório da Amigos da
Terra constata que os grandes
grupos frigoríficos, que não
atuavam na Amazônia até poucos anos atrás, já detêm 60%
das 73 unidades industriais
com registro no SIF (Serviço de
Inspeção Federal) da região.
Um percentual ainda maior
de grandes frigoríficos foi identificado entre as indústrias instaladas nos 43 municípios líderes do ranking dos maiores desmatadores da Amazônia. "Pode-se constatar que, dos 16 frigoríficos instalados nesses municípios, todos com SIF, 10 pertencem aos grandes grupos",
diz o relatório. Está fora dessa
conta a unidade do grupo Bertin em Tucumã, no Pará, por
exemplo, que recebe carne do
município de São Félix do Xingu, líder do desmatamento.
A chegada dos grandes frigoríficos à Amazônia acompanhou o aumento das exportações brasileiras de carne.
Na Amazônia, uma região
equivalente a duas vezes e meia
o Estado de São Paulo é de pastagens. Uma parcela pequena
-menos de 6% das linhas de
crédito destinadas à pecuária-
destina-se à recuperação das
pastagens, daí a grande extensão de pastos degradados.
A produtividade da pecuária
é outro problema na região, onde a média é de pouco mais de
uma cabeça por hectare, extensão equivalente a 10 mil metros
quadrados ou pouco mais do
que a área de um campo de futebol. É menos da metade da
média considerada ideal.
O rebanho nos Estados da
Amazônia Legal, de 70 milhões
de cabeças, cresceu, nos últimos dez anos, quase três vezes
acima da média nacional. Essa
expansão foi estimulada pelo
baixo preço da terra. Um hectare para pastagem em Barretos
(SP) é quatro vezes mais caro
do que no sul do Pará.
O preço baixo que atraiu os
pecuaristas é resultado da falta
de regularização das terras na
região, onde apenas 4% das
propriedades privadas têm cadastro, segundo o Incra. Sem títulos de terras, pecuaristas
tampouco dispõem de atestado
de regularidade ambiental.
Apesar de burlar a legislação, a
pecuária na Amazônia é bancada majoritariamente por crédito de instituições públicas: 81%,
estima o relatório.
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