São Paulo, quinta-feira, 22 de abril de 2010

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FMI vê economia brasileira "no limite"

Fundo aponta demanda "em estágio avançado" e espera medidas para desacelerar crescimento de 5,5% neste ano para 4,1% em 2011

Documento fala em "ponto de virada" para economias que podem ficar "superaquecidas'; estimativa do órgão é que mundo cresça 4,2% neste ano

FERNANDO CANZIAN
ENVIADO ESPECIAL A WASHINGTON

O FMI (Fundo Monetário Internacional) vê a economia brasileira "próxima ao limite de sua capacidade". Por isso, espera que o crescimento do país se desacelere no ano que vem na comparação com 2010.
A queda seria de um ritmo previsto de 5,5% neste ano para 4,1% no próximo. O alvo da desaceleração, que deve ser provocada por medidas de contenção do governo, é conter pressões inflacionárias crescentes.
Segundo Petya Koeva, chefe-adjunta da área de Estudos Econômicos Globais do Fundo, em muitos aspectos o Brasil adotou antes de vários países medidas de estímulo fiscal a partir do final de 2008 para dirimir os efeitos da crise.
"O fato é que a demanda no país está em um estágio avançado, e o que se espera é uma retirada desses estímulos", disse a economista durante o lançamento do relatório "Panorama da Economia Global".
O documento do FMI fala em "ponto de virada" (ou seja, de retirada de estímulos e possível aumento de juros pelo BC) para economias que correm o risco de ficar "superaquecidas".
"À medida que o espaço para o aumento da produção diminui e pressões inflacionárias se tornam maiores, alguns países com regimes de metas de inflação [Brasil] parecem mais próximos desse ponto de virada do que outros [Colômbia e México]", afirma o relatório.
Se o ano terminasse hoje, a inflação no Brasil estaria acima do centro da meta de 4,5% estipulada pelo BC para 2010. Com a tendência de aceleração dos preços, o mercado conta com o aumento da taxa básica no fim do mês e com a retirada de estímulos adotados no passado.
O crescimento de 5,5% previsto para o Brasil neste ano é superior à média esperada para a América Latina (4%) e para o mundo como um todo (4,2%).

É maior também que o da Rússia (4%). Mas ficará muito aquém dos outros países que formam o chamado Bric (Índia, com 8,8%; e China, 10%).
Segundo o Fundo, os EUA, maior economia do mundo, devem crescer 3,1% neste ano. Os países que têm o euro como moeda, 1%, e o Japão, 1,9%.
Na média, as economias avançadas, maiores protagonistas da crise de 2008-2009, devem crescer só 2,3% neste ano. Os emergentes, 6,3%.

Equilíbrio
Em 2010, haverá quase um equilíbrio entre países emergentes e ricos no PIB global, com um peso de 46% e 54%, respectivamente. A contribuição específica do Brasil será de 2,9% no total. A dos EUA, de 20,5%, e a da China, 12,5%.
No lançamento do relatório, o economista-chefe do FMI, Olivier Blanchard, frisou que o maior risco para a economia global é o endividamento dos países desenvolvidos. Eles estouraram suas contas no maior patamar desde a Segunda Guerra para combater a crise.
Entre os emergentes, o principal risco é uma entrada "excessiva" de capitais, especialmente especulativos, que podem criar "bolhas" nos preços de ativos (ações e imóveis). Anteontem, o FMI descartou que esse seja o caso do Brasil.
Blanchard afirma que a economia global pode ainda demandar anos para se reequilibrar, até que os países avançados cresçam mais rápido.
A chave para isso, diz, é os emergentes manterem seus mercados internos aquecidos, e suas moedas, valorizadas.
Isso os levaria a ter mais apetite por importações dos países ricos -muitos ainda com níveis de ociosidade recorde na capacidade de produção.
De certo modo, isso já vem ocorrendo. Nos últimos 12 meses, por exemplo, as importações do Brasil de vários produtos aumentaram quase 50% e o real se valorizou em 27%.
Uma cesta de dez moedas asiáticas também se valorizou em 19% ante o dólar no período. Mas o grande empecilho para esse reequilíbrio se acelerar continua sendo a China. As autoridades chinesas relutam em apreciar o yuan, como vêm cobrando vários países.


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