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FMI vê economia brasileira "no limite"
Fundo aponta demanda "em estágio avançado" e espera medidas para desacelerar crescimento de 5,5% neste ano para 4,1% em 2011
Documento fala em "ponto de
virada" para economias que
podem ficar "superaquecidas';
estimativa do órgão é que
mundo cresça 4,2% neste ano
FERNANDO CANZIAN
ENVIADO ESPECIAL A WASHINGTON
O FMI (Fundo Monetário
Internacional) vê a economia
brasileira "próxima ao limite de
sua capacidade". Por isso, espera que o crescimento do país se
desacelere no ano que vem na
comparação com 2010.
A queda seria de um ritmo
previsto de 5,5% neste ano para
4,1% no próximo. O alvo da desaceleração, que deve ser provocada por medidas de contenção do governo, é conter pressões inflacionárias crescentes.
Segundo Petya Koeva, chefe-adjunta da área de Estudos
Econômicos Globais do Fundo,
em muitos aspectos o Brasil
adotou antes de vários países
medidas de estímulo fiscal a
partir do final de 2008 para dirimir os efeitos da crise.
"O fato é que a demanda no
país está em um estágio avançado, e o que se espera é uma
retirada desses estímulos", disse a economista durante o lançamento do relatório "Panorama da Economia Global".
O documento do FMI fala em
"ponto de virada" (ou seja, de
retirada de estímulos e possível
aumento de juros pelo BC) para
economias que correm o risco
de ficar "superaquecidas".
"À medida que o espaço para
o aumento da produção diminui e pressões inflacionárias se
tornam maiores, alguns países
com regimes de metas de inflação [Brasil] parecem mais próximos desse ponto de virada do
que outros [Colômbia e México]", afirma o relatório.
Se o ano terminasse hoje, a
inflação no Brasil estaria acima
do centro da meta de 4,5% estipulada pelo BC para 2010. Com
a tendência de aceleração dos
preços, o mercado conta com o
aumento da taxa básica no fim
do mês e com a retirada de estímulos adotados no passado.
O crescimento de 5,5% previsto para o Brasil neste ano é
superior à média esperada para
a América Latina (4%) e para o
mundo como um todo (4,2%).
É maior também que o da
Rússia (4%). Mas ficará muito
aquém dos outros países que
formam o chamado Bric (Índia,
com 8,8%; e China, 10%).
Segundo o Fundo, os EUA,
maior economia do mundo, devem crescer 3,1% neste ano. Os
países que têm o euro como
moeda, 1%, e o Japão, 1,9%.
Na média, as economias
avançadas, maiores protagonistas da crise de 2008-2009,
devem crescer só 2,3% neste
ano. Os emergentes, 6,3%.
Equilíbrio
Em 2010, haverá quase um
equilíbrio entre países emergentes e ricos no PIB global,
com um peso de 46% e 54%,
respectivamente. A contribuição específica do Brasil será de
2,9% no total. A dos EUA, de
20,5%, e a da China, 12,5%.
No lançamento do relatório,
o economista-chefe do FMI,
Olivier Blanchard, frisou que o
maior risco para a economia
global é o endividamento dos
países desenvolvidos. Eles estouraram suas contas no maior
patamar desde a Segunda
Guerra para combater a crise.
Entre os emergentes, o principal risco é uma entrada "excessiva" de capitais, especialmente especulativos, que podem criar "bolhas" nos preços
de ativos (ações e imóveis). Anteontem, o FMI descartou que
esse seja o caso do Brasil.
Blanchard afirma que a economia global pode ainda demandar anos para se reequilibrar, até que os países avançados cresçam mais rápido.
A chave para isso, diz, é os
emergentes manterem seus
mercados internos aquecidos, e
suas moedas, valorizadas.
Isso os levaria a ter mais apetite por importações dos países
ricos -muitos ainda com níveis
de ociosidade recorde na capacidade de produção.
De certo modo, isso já vem
ocorrendo. Nos últimos 12 meses, por exemplo, as importações do Brasil de vários produtos aumentaram quase 50% e o
real se valorizou em 27%.
Uma cesta de dez moedas
asiáticas também se valorizou
em 19% ante o dólar no período. Mas o grande empecilho para esse reequilíbrio se acelerar
continua sendo a China. As autoridades chinesas relutam em
apreciar o yuan, como vêm cobrando vários países.
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