São Paulo, quarta, 22 de abril de 1998

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LUÍS NASSIF
O candidato a trator

Questão central para os próximos meses será a definição do novo operador político do governo. A morte de Sérgio Motta e, agora, o enfarto do deputado federal Luiz Eduardo Magalhães criam complicações imprevistas nessa área.
Estrela ascendente no ministério de Fernando Henrique Cardoso, o ministro dos Transportes, Eliseu Padilha, é um dos candidatos possíveis a trator e coordenador político do governo.
Deputado federal pelo PMDB gaúcho, é figura polêmica, como Motta, e igualmente eficiente na articulação política.
Teve uma carreira pública meteórica. Foi prefeito de Tramandaí, no Rio Grande do Sul. Já em 1991 ajudou a barrar o avanço do quercismo no municipalismo, derrotando Lincoln Magalhães na eleição para o Conselho Brasileiro de Integração Municipal -que englobava sete entidades municipalistas.
Mais tarde, foi candidato a deputado federal e coordenador das campanhas de Antônio Britto ao governo gaúcho e de Pedro Simon e José Fogaça ao Senado. Na vida profissional, foi sócio de Nelson Jobim em um escritório de advocacia.
Eleito Britto, Padilha aceitou -a contragosto, segundo ele- o cargo de secretário do Trabalho, Cidadania e Assistência Social. Também aí, demonstrou poder de articulação tornando-se presidente do Fórum Nacional dos Secretários do Trabalho.
No governo gaúcho implementou os Centros Regionais de Atenção às Crianças e Adolescentes, instituições com centros esportivos e educacionais, próximos às famílias dos menores, substituindo o sistema anacrônico da Febem.
Instituído o modelo, pegou o boné, pediu licença e seguiu para Brasília, para cumprir seu mandato de deputado federal.
Articulador parlamentar
No Congresso, cumpriu carreira surpreendentemente rápida como articulador parlamentar. De cara, apresentou-se ao partido e aceitou o cargo de plantão de liderança de seu partido, uma função espinhosa que exige reuniões todas as quartas-feiras com os 98 deputados federais.
Nesse trabalho, juntou-se a um grupo de deputados -Michel Temer, Gidel Vieira Lima, José Henrique e Wagner Rossi- que se insurgiu contra os caciques do partido.
O grupo conseguiu dominar os principais cargos do partido e, depois, eleger Temer presidente da Câmara. Consolidado e vitorioso, o grupo foi suficientemente habilidoso para uma reaproximação com os antigos caciques do partido.
Essa estratégia permitiu a vitória da tese do apoio à reeleição de FHC na convenção do PMDB. Foi a vitória mais estrepitosa e polêmica.
Após o deputado quercista Marcelo Barbieri ter informado que pretendia trazer as hostes do quercista MR-8 para apoiar a tese da candidatura própria na convenção do partido, o grupo concluiu que a tática de intimidação poderia colocar em risco o resultado da convenção.
Foi a partir de sua análise que o ex-ministro da Justiça Iris Rezende e o deputado distrital Luiz Estevão encheram o plenário de jagunços e lutadores profissionais, numa manobra eficiente, mas que não dignifica a vida pública nacional.
No plano institucional, a obra mais evidente de Padilha foi a desregulamentação do setor de transportes interestadual, com concessões evidentes aos cartéis do setor -embora o ministro garanta que o decreto criou instrumentos suficientes para quebrar o cartel.
É nome polêmico, a se averiguar. É trator, como Motta. Resta saber se tem as virtudes públicas demonstradas pelo ministro falecido.

E-mail: lnassif@uol.com.br



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