São Paulo, quarta-feira, 22 de maio de 2002

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FINANÇAS

Em abril, juro médio dos emergentes era de 3,8%, contra 9,6% no Brasil; país está entre os líderes do ranking há quatro anos

BC decide taxa hoje, mas juro real já subiu

ISABEL CAMPOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Mesmo depois dos dois cortes de juros básicos deste ano e da posterior estabilização da meta da taxa de juros definida pelo Banco Central os juros reais continuam subindo e estão à beira de atingir os dois dígitos. A taxa básica de juros real é a taxa básica do Banco Central, descontada a inflação. Isso significa que, sem o BC tomar atitude alguma, o governo está pagando juros maiores para financiar sua dívida. Hoje o BC divulga se muda ou não sua meta de juros básicos para a economia.
Segundo pesquisa da consultoria Global Invest, que abrange 40 países, no final de abril o juro real no Brasil era de 9,6% ao ano, contra os 8,9% do final de 2001. Essa taxa só é menor que a da Polônia.
De acordo com Fernando Pinto Ferreira, diretor da Global Invest, mesmo que o Banco Central opte por uma redução dos juros nos próximos meses, a tendência é que a taxa real no Brasil continue crescendo e leve o país para o primeiro lugar do ranking no final de junho ou julho.
A metodologia da Global Invest leva em consideração as taxas básicas de juros nominais praticadas nos últimos 12 meses, descontadas da inflação do mesmo período. Como existe uma expectativa de inflação declinante e de pouca alteração na Selic, em junho ou julho a taxa real no Brasil deverá chegar a 10% ao ano. A última vez em que o país esteve em primeiro lugar no ranking e com dois dígitos de taxa de juros foi em janeiro de 2001.

Brasil, sempre na liderança
A taxa real brasileira, além de estar entre as mais elevadas, também está destoando do rumo que os juros têm tomado em outros países emergentes. Enquanto a nossa taxa está subindo, a dos demais está caindo.
No final de abril, a taxa média de juro real praticada entre os 23 países emergentes que entram no levantamento da Global foi de apenas 3,8% ao ano. Esse número é o menor já registrado pela pesquisa em seus quatro anos de existência. A taxa básica nominal dessa categoria também está no ponto mais baixo: 10,3% ao ano.
Outro dado que chama a atenção é que nenhum país, além do Brasil, tem ocupado ininterruptamente os primeiros lugares no ranking nos quatro anos da pesquisa. "Nesse período, a melhor posição que ocupamos foi um quarto lugar", afirma Ferreira.
A análise que Ferreira faz é que, enquanto em outros países uma política de juros elevados só é utilizada esporadicamente, para defender a economia por períodos curtos, no Brasil, tornou-se um instrumento permanente de controle monetário.
Já na Polônia, além de o país ter superado um período de deflação, o juro básico nominal tem sofrido cortes significativos. Há um ano, era de 17,2% ao ano; em abril, de 10,2%. "A taxa real da Polônia só está tão alta porque o seu resultado está sendo influenciado pelos elevados juros praticados até o fim de 2001", explica Ferreira.
Neste ano, a taxa básica nominal da Polônia mais alta foi de 10,8% ao ano. Já no Brasil, oscilou entre 19% e 18,5% ao ano.
De acordo com Ferreira, Colômbia, Indonésia, Tailândia, Malásia, Hungria, África do Sul e República Tcheca são exemplos de países com fundamentos piores do que os do Brasil, mas que praticam juros mais baixas.



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