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LIVRE COMÉRCIO
Secretário da Unctad rechaça orientação tarifária sobre Alca
Crítica de Ricupero irrita governo
MARCIO AITH
DE WASHINGTON
O governo brasileiro irritou-se
com as críticas feitas pelo secretário-geral da Unctad (Conferência
das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento), Rubens
Ricupero, à orientação tarifária
adotada pelo Itamaraty para começar as negociações da Alca
(Área de Livre Comércio das
Américas).
O principal negociador comercial brasileiro, o embaixador Clodoaldo Hugueney, disse ontem
que Ricupero "equivocou-se" e
usou "informações erradas" ao
dizer que, por ordem do governo,
o Itamaraty comprometeu-se recentemente a iniciar as negociações para a formação de uma zona de livre comércio usando um
patamar baixo de tarifas.
As críticas de Ricupero foram
feitas em artigo publicado na Folha no domingo e numa entrevista publicada no jornal "Valor".
Segundo o secretário-geral da
Unctad, os negociadores brasileiros cederam exageradamente ao
adotar o nível de tarifas efetivamente cobrado pelo país como
patamar inicial das discussões.
Para Ricupero, o Brasil deveria
ter adotado as tarifas consolidadas na OMC (Organização Mundial de Comércio) para cada produto, que são muito mais altas e
dariam ao governo mais margem
de manobra nas negociações.
"Em lugar de partir de 35% (justamente os produtos que queremos ou precisamos proteger
mais), seremos forçados a começar, digamos, de 12% ou 10%", escreveu Ricupero, em artigo publicado no último domingo. "Em
outras palavras, estamos entregando de mão beijada (lembram-se do famoso gesto atribuído a
Mangabeira durante a visita do
general Eisenhower?) de 23 a 25
pontos percentuais!"
Segundo Ricupero, a decisão do
governo foi adotada por pressão
do Ministério da Fazenda em
uma disputa interna do governo.
Ricupero sugeriu ainda que o Itamaraty, a quem cabe a negociação
da Alca, estaria dividido, mas foi
obrigado a aceitar a orientação.
A Folha apurou que o artigo de
Ricupero foi mal recebido pelo
Palácio do Planalto e irritou o ministro da Fazenda, Pedro Malan.
Ontem, pela primeira vez, uma
autoridade respondeu publicamente a Ricupero. "O artigo está
errado", disse Hugueney, em resposta à Folha. Segundo o negociador brasileiro, Ricupero errou
porque o Brasil não teria ainda se
comprometido com a tarifa básica das negociações no âmbito da
Alca. O assunto, segundo ele, teria
apenas sido decidido dentro do
Mercosul. "Somente em abril de
2003 o Mercosul irá notificar sua
tarifa básica nas negociações da
Alca", disse, afirmando ainda que
o novo governo brasileiro terá algum tempo para decidir o que fazer dentro do Mercosul e também
no âmbito da Alca.
"Quando eu assumi o cargo, essa decisão já havia sido tomada
dentro do Mercosul. O Mercosul
mudou de posição (de tarifa consolidada para tarifa aplicada) no
ano passado, mas comunicará sua
tarifa básica nas conversas da Alca em abril do ano que vem."
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