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LUÍS NASSIF
O envelhecimento
da patente
A patente foi o motor das
inovações no século 20.
Provavelmente será o maior
obstáculo às inovações no século 21. É a conclusão a que se chega à medida que se avança nas
análises sobre as estruturas de
trabalho em rede, propiciadas
pela propagação da internet.
Os EUA entenderam a importância da patente quando empresários inovadores criaram linhas de navios movidos a motor. Pagaram o preço do pioneirismo, quebraram e viram o
mercado ser ocupado pelos que
vieram depois da estrada aplainada.
Havia um claro desestímulo à
inovação, já que as idéias inovadoras, por inovadoras, tinham maior dificuldade em serem aceitas de cara. A patente
foi a maneira de estimular a
inovação, garantindo ao inventor a defesa necessária para investir e ousar.
Com o avanço do trabalho
em rede, a situação hoje em dia
é outra: as patentes acabam se
constituindo em barreiras à
inovação. A grande corporação
investe pesadamente em pesquisa, obtém as patentes. Tem
defesas naturais contra os entrantes, por meio do desenvolvimento de processos de fabricação, da consolidação de marca
e de sair na frente.
Ao mesmo tempo, o avanço
do trabalho em rede permite a
um conjunto grande de cientistas e desenvolvedores trabalhar
em conjunto e agregar aprimoramentos e inovações aos produtos já existentes. Mas esse
processo é barrado pela existência de patentes.
Hoje em dia, talvez a comunidade que mais intensamente se
valha da rede para trabalhos
conjuntos é a científica. No entanto toda essa energia criativa,
disseminada, colaborativa acaba emperrando nas barreiras
criadas pelas patentes.
A explosão da indústria química norte-americana foi possível quando a Segunda Guerra
Mundial implodiu com o domínio que os alemães tinham sobre as patentes do setor. Por si,
esse exemplo seria suficiente para demonstrar o obstáculo que
as patentes criaram para a inovação e a competição mundiais.
Justamente por isso, dentro
das "boas práticas" que os países desenvolvidos recomendaram aos países em desenvolvimento, no Consenso de Washington, estava a questão do
respeito às patentes, como elemento essencial para estimular
as pesquisas nos próprios países
emergentes. Anos atrás, aqui
mesmo na coluna, me lembro
de ter defendido essa posição.
O sistema de software livre, o
trabalho em rede, coloca em xeque definitivamente essa verdade. Não significa que o Brasil tenha condições de romper com
acordos de patentes unilateralmente. Significa que é questão
de tempo para que esse instituto
envelheça e seja considerado
como o grande entrave à inovação em nível mundial.
Anacondas e Vampiros
A Polícia Federal e procuradores levaram um ano trabalhando em sigilo nas operações
Anaconda e Vampiro. É gritante o contraste com os procuradores obcecados pela mídia,
que saem indiciando meio
mundo ou divulgando dados
antes de consolidar as provas.
Já caiu a ficha da corporação
de que as ameaças à sua autonomia são resultado direto da
irresponsabilidade desses procuradores de papel, cujo único
objetivo é aparecer na mídia.
E-mail - Luisnassif@uol.com.br
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