São Paulo, sexta-feira, 22 de maio de 2009

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Empresas nunca ganharam tanto, diz Lula

Presidente pede ousadia no comércio exterior e critica "trambique" de companhias com derivativos

MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A ISTAMBUL

Uma provocação e uma crítica. Assim o presidente Luiz Inácio Lula da Silva definiu os disparos que fez ontem contra o empresariado brasileiro, em visita a Istambul (Turquia). Ele criticou aqueles que aplicaram em derivativos, que chamou de "trambique", e provocou os que não têm ousadia para buscar novos mercados no exterior.
Ao falar sobre as origens da crise financeira mundial a um grupo de empresários turcos e brasileiros, o presidente atacou a ganância de empresas brasileiras, que decidiram especular em vez de lucrarem apenas com a produção.
"Se tem uma coisa que nenhum empresário brasileiro pode se queixar nos meus seis anos de mandato é que nunca se ganhou tanto dinheiro como no meu governo", disse Lula.
O presidente repetiu as críticas que costuma fazer à falta de regulação no mercado financeiro, que permitiu a bancos dos países desenvolvidos alavancar seus investimentos de forma especulativa e descontrolada. Para ele, o lado bom da crise é que, com ela, "a máscara caiu", revelando a necessidade de maior intervenção estatal.
Em seguida, disparou contra as empresas que aplicaram em derivativos (operações financeiras para assumir, limitar ou transferir riscos) e apostaram no câmbio. Na plateia, havia representantes de pelo menos duas companhias que fizeram esse tipo de operação, Sadia e Embraer. Ambos preferiram não reagir aos ataques.
"Nós temos um sistema financeiro sólido, mas descobrimos na crise que alguns empresários estavam aplicando nos chamados derivativos. Ou seja, já não se contentavam em ganhar o que estavam ganhando e acharam que era possível ganhar um pouco mais, fazendo trambique", disse Lula.
Apesar das críticas às empresas que usaram os derivativos, o governo Lula tem ajudado, principalmente por meio do BNDES, as grandes companhias que apontaram as maiores perdas com esse tipo de operação -caso de Aracruz, Votorantim Celulose e Sadia.
Para o presidente, não teria havido crise sem os abusos cometidos no sistema financeiro. "Não era normal nós termos a crise que tivemos se não fosse o trambique no sistema financeiro", disse. "Algumas pessoas resolveram ganhar dinheiro especulando, quando poderiam ter ganho dinheiro investindo na produção de uma camisa, de um sapato, de uma meia."

Crescimento
O presidente não quis fazer previsões sobre o crescimento da economia neste ano, mas descartou um número negativo. "O crescimento não vai ser aquilo que a gente previa quando fizemos o Orçamento, mas não vamos entrar em recessão. Ao contrário do mundo, que está tendo crescimento negativo, o nosso será positivo", disse.
Após almoço com os empresários, o presidente tentou explicar aos jornalistas que as críticas não eram generalizadas e que sua intenção foi a de provocar os empresários a serem mais ousados na busca de novos mercados internacionais e criticar os que preferiram o "trambique" da especulação.
"Os empresários brasileiros estão aprendendo a fazer negócios", disse o presidente.


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