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Empresas nunca ganharam tanto, diz Lula
Presidente pede ousadia no comércio exterior e critica "trambique" de companhias com derivativos
MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A ISTAMBUL
Uma provocação e uma crítica. Assim o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva definiu os
disparos que fez ontem contra
o empresariado brasileiro, em
visita a Istambul (Turquia). Ele
criticou aqueles que aplicaram
em derivativos, que chamou de
"trambique", e provocou os que
não têm ousadia para buscar
novos mercados no exterior.
Ao falar sobre as origens da
crise financeira mundial a um
grupo de empresários turcos e
brasileiros, o presidente atacou
a ganância de empresas brasileiras, que decidiram especular
em vez de lucrarem apenas
com a produção.
"Se tem uma coisa que nenhum empresário brasileiro
pode se queixar nos meus seis
anos de mandato é que nunca
se ganhou tanto dinheiro como
no meu governo", disse Lula.
O presidente repetiu as críticas que costuma fazer à falta de
regulação no mercado financeiro, que permitiu a bancos
dos países desenvolvidos alavancar seus investimentos de
forma especulativa e descontrolada. Para ele, o lado bom da
crise é que, com ela, "a máscara
caiu", revelando a necessidade
de maior intervenção estatal.
Em seguida, disparou contra
as empresas que aplicaram em
derivativos (operações financeiras para assumir, limitar ou
transferir riscos) e apostaram
no câmbio. Na plateia, havia representantes de pelo menos
duas companhias que fizeram
esse tipo de operação, Sadia e
Embraer. Ambos preferiram
não reagir aos ataques.
"Nós temos um sistema financeiro sólido, mas descobrimos na crise que alguns empresários estavam aplicando nos
chamados derivativos. Ou seja,
já não se contentavam em ganhar o que estavam ganhando e
acharam que era possível ganhar um pouco mais, fazendo
trambique", disse Lula.
Apesar das críticas às empresas que usaram os derivativos, o
governo Lula tem ajudado,
principalmente por meio do
BNDES, as grandes companhias que apontaram as maiores perdas com esse tipo de
operação -caso de Aracruz,
Votorantim Celulose e Sadia.
Para o presidente, não teria
havido crise sem os abusos cometidos no sistema financeiro.
"Não era normal nós termos a
crise que tivemos se não fosse o
trambique no sistema financeiro", disse. "Algumas pessoas resolveram ganhar dinheiro especulando, quando poderiam
ter ganho dinheiro investindo
na produção de uma camisa, de
um sapato, de uma meia."
Crescimento
O presidente não quis fazer
previsões sobre o crescimento
da economia neste ano, mas
descartou um número negativo. "O crescimento não vai ser
aquilo que a gente previa quando fizemos o Orçamento, mas
não vamos entrar em recessão.
Ao contrário do mundo, que está tendo crescimento negativo,
o nosso será positivo", disse.
Após almoço com os empresários, o presidente tentou explicar aos jornalistas que as críticas não eram generalizadas e
que sua intenção foi a de provocar os empresários a serem
mais ousados na busca de novos mercados internacionais e
criticar os que preferiram o
"trambique" da especulação.
"Os empresários brasileiros
estão aprendendo a fazer negócios", disse o presidente.
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