São Paulo, sexta, 22 de maio de 1998

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LUÍS NASSIF
A maturidade da siderurgia

Na próxima segunda-feira, o grande novelo das participações acionárias cruzadas no setor siderúrgico poderá começar a se desenrolar. De um lado, a Previ -o fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil- poderá começar a desenrolar um dos grandes novelos do mercado de capitais brasileiro: a série de participações cruzadas que tem no setor siderúrgico. Esse mesmo movimento está sendo conduzido no âmbito da Companhia Vale do Rio Doce -outro grande acionista do setor. De outro, vence o prazo para a Acesita avaliar a proposta feita pela Usinor.
Esse lance ocorre em um momento de profundas alterações no cenário. A privatização gerou uma primeira etapa, que foi da reestruturação das companhias privatizadas. Agora, entra-se na segunda, que é a fase do amadurecimento, quando os grupos começam a pensar processos de fusão e incorporação, buscando ganhos de escala.
Da parte da Previ, a intenção é definir uma estrutura acionária menos complexa, que permita maximizar os investimentos. Da parte da Vale, definir sua vocação de maneira mais clara. A empresa foi subdividida em cinco unidades de negócio, das quais pelo menos três apresentam problemas:
Papel e celulose - A Bahia Sul é uma empresa no chamado estado da arte. Mas entrou em operação em um período de baixa nas cotações internacionais de celulose, resultando daí endividamento oneroso.
Alumínio - O projeto Albrás já nasceu endividado. Na época, a Vale estava em grandes negociações com capitais japoneses, e sua entrada no projeto deveu-se a contrapartidas comerciais. Resultou um acordo de acionistas que exige aprovação unânime para cada medida, emperrando a reestruturação.
Siderurgia - A Vale entrou no setor por conta de crédito junto à extinta Siderbrás, utilizado nos leilões de privatização. Acabou participando da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), Companhia Siderúrgica de Tubarão (CST) e Açominas.
Obviamente, nada que ameace a solidez da Vale.
Fator Acesita
Nesse quadro de reestruturações entra a Acesita. Única empresa controlada pelos fundos de pensão -a Previ tem 23% do capital-, a Acesita acabou sucumbindo a uma estratégia atrevida, de assumir a liderança no setor siderúrgico.
A empresa tinha US$ 500 milhões de passivos e levantou mais US$ 514 milhões para ingressar em um processo de superinvestimento que a levou a adquirir participações na Sifco, Villares e forjarias pequenas, além da CST.
Hoje em dia encontra-se em um quadro de quase insolvência técnica. É companhia pequena, que produz produtos de alta qualidade, mas sem escala, em um mercado com superoferta global.
Dias atrás, o presidente da Acesita, Wilson Brunner, anunciou acordo de negociação com a Usinor, grupo francês que fatura US$ 15 bilhões/ano, muito forte em aços especiais. A idéia é uma injeção de US$ 260 milhões no capital da Acesita, e US$ 385 milhões para adquirir metade da participação da Acesita na CST.
Fator CST
O que está em jogo, mais do que a Acesita, é a própria CST. A empresa fabrica placas -o produto mais básico da cadeia siderúrgica-, com uma das melhores qualidades e preços do mundo. Ela foi concebida para produzir 12 milhões de toneladas e hoje produz 4,5 milhões -demonstrando espaço para expansão. Quem adquirir a CST habilita-se a se tornar forte concorrente da CSN e da Usiminas.

E-mail: lnassif@uol.com.br



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