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China quer eliminar intermediários
FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL
Como pano de fundo da crise da
soja entre Brasil e China, encerrada ontem, o governo de Pequim
desenvolve uma estratégia para
eliminar os poderosos intermediários que controlam o mercado
exportador de soja no Brasil.
As quatro maiores exportadoras de soja do país -as multinacionais ADM, Bunge, Cargill e
Dreyfuss- detêm entre 60% e
80% das vendas brasileiras do
produto, estimadas em 6 milhões
de toneladas para a China.
Desde 2003 -antes do início da
crise da soja-, os chineses fizeram contatos com produtores
brasileiros para eliminar a intermediação das multinacionais.
Embora tenham avançado, essas conversas esbarraram na exigência dos produtores brasileiros
de serem financiados pelo governo chinês, da mesma forma com
que obtêm capital das "tradings".
Segundo a Folha apurou com
representantes dos exportadores,
os chineses teriam de montar
operação no país e financiar a
produção, se quiserem comprar
diretamente dos brasileiros.
Segundo os chineses, as negociações diretas permitem maior
controle das operações, inclusive
da qualidade dos carregamentos.
Sem estrutura
Os produtores menores de soja
que trabalham com as "tradings"
não têm condições de fazer exportação direta para a China, diz
César Borges de Souza, vice-presidente em exercício da Abiove (Associação Brasileira das Indústrias
de Óleos Vegetais), entidade que
congrega as quatro multinacionais que operam no país. "As empresas menores não têm estrutura
para fazer essa operação. Para
vender para a China, é preciso ter
escritórios naquele país, na Europa e no Japão. As "tradings" são especializadas, e não é à toa que estão no mundo todo."
Uma empresa de menor porte,
segundo sua avaliação, não pode
correr riscos de pagar um frete
elevado e depois ser informada de
que, por algum motivo, o produto
não entrou no mercado chinês.
"Por isso, a orientação é que os
exportadores sejam zelosos nos
negócios com a China. Não podem ficar tão eufóricos com as exportações."
Durante a crise da soja, as "tradings" foram diretamente atingidas pela decisão da China de suspender as compras do Brasil. As
vendas para o mercado chinês
correspondem a cerca de 30% das
exportações brasileiras de soja.
Na avaliação dos exportadores,
a crise foi motivada por problemas econômicos da China. "Há
muita especulação, mas, aparentemente, eles [os chineses] pararam de comprar do Brasil porque
a demanda deles diminuiu, e ficaram com estoques levados", afirma Borges de Souza.
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