São Paulo, terça-feira, 22 de junho de 2004

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China quer eliminar intermediários

FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL

Como pano de fundo da crise da soja entre Brasil e China, encerrada ontem, o governo de Pequim desenvolve uma estratégia para eliminar os poderosos intermediários que controlam o mercado exportador de soja no Brasil.
As quatro maiores exportadoras de soja do país -as multinacionais ADM, Bunge, Cargill e Dreyfuss- detêm entre 60% e 80% das vendas brasileiras do produto, estimadas em 6 milhões de toneladas para a China.
Desde 2003 -antes do início da crise da soja-, os chineses fizeram contatos com produtores brasileiros para eliminar a intermediação das multinacionais.
Embora tenham avançado, essas conversas esbarraram na exigência dos produtores brasileiros de serem financiados pelo governo chinês, da mesma forma com que obtêm capital das "tradings".
Segundo a Folha apurou com representantes dos exportadores, os chineses teriam de montar operação no país e financiar a produção, se quiserem comprar diretamente dos brasileiros.
Segundo os chineses, as negociações diretas permitem maior controle das operações, inclusive da qualidade dos carregamentos.

Sem estrutura
Os produtores menores de soja que trabalham com as "tradings" não têm condições de fazer exportação direta para a China, diz César Borges de Souza, vice-presidente em exercício da Abiove (Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais), entidade que congrega as quatro multinacionais que operam no país. "As empresas menores não têm estrutura para fazer essa operação. Para vender para a China, é preciso ter escritórios naquele país, na Europa e no Japão. As "tradings" são especializadas, e não é à toa que estão no mundo todo."
Uma empresa de menor porte, segundo sua avaliação, não pode correr riscos de pagar um frete elevado e depois ser informada de que, por algum motivo, o produto não entrou no mercado chinês. "Por isso, a orientação é que os exportadores sejam zelosos nos negócios com a China. Não podem ficar tão eufóricos com as exportações."
Durante a crise da soja, as "tradings" foram diretamente atingidas pela decisão da China de suspender as compras do Brasil. As vendas para o mercado chinês correspondem a cerca de 30% das exportações brasileiras de soja.
Na avaliação dos exportadores, a crise foi motivada por problemas econômicos da China. "Há muita especulação, mas, aparentemente, eles [os chineses] pararam de comprar do Brasil porque a demanda deles diminuiu, e ficaram com estoques levados", afirma Borges de Souza.


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