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Disputa na indústria ameaça preços
ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Há um jogo de forças entre dois
lobbies da indústria que pode acabar em aumento nos preços de
alimentos ao consumidor a partir
do mês de agosto.
Ocorre que devem ser alteradas
regras na cobrança de impostos
de empresas de alimentos (arroz,
café, laticínios), que irão perder
uma antiga bonificação fiscal. A
mudança faz parte de uma medida provisória (MP) a ser votada
nos próximos dias e planejada pelo Ministério da Fazenda. Com
ela, o setor perde direito a um crédito na cobrança da Cofins (Contribuição para o Financiamento
da Seguridade Social) e do PIS
(Programa de Integração Social).
A questão é que, em um artigo
dessa mesma MP, será concedida
isenção na cobrança da Cofins para empresas de fertilizantes e defensivos agrícolas.
Sem entenderem a medida e irritados com a decisão, líderes da
indústria da alimentação pressionaram lideranças do governo nas
últimas semanas e foram a público ontem criticar a mudança.
"Isso só pode ser resultado de
um mau assessoramento da parte
técnica do governo. A decisão é
totalmente descabida", disse Edmundo Klotz, presidente da Abia
(Associação Brasileira da Indústria da Alimentação).
"É uma barbeiragem sem tamanho. Das duas, uma: ou o nosso
pequeno fornecedor vai pagar essa perda ou o consumidor vai ser
afetado. A indústria não tem como absorver isso", diz Jairo Quartero, representante do Sindarroz,
entidade da indústria do arroz.
O que os incomoda, na prática,
é que, mesmo afirmando que o
consumidor deve arcar com esse
peso, os fabricantes sabem que
eles podem ser os mais atingidos.
Até existe a possibilidade de o fornecedor negociar o repasse dessa
perda para a loja e conseguir promover reajustes, mas as chances
de sucesso são pequenas.
O varejo e o atacado de alimentos, com forte poder de barganha,
vão tentar barrar o repasse.
Pelas contas de Denis Ribeiro,
economista da Abia, com a nova
MP, o reajuste médio de mercadorias da cesta básica pode variar
de 3% a 8%, dependendo do item.
A inflação medida pelo IPCA do
IBGE registrará um aumento de
0,51 ponto percentual a partir de
agosto com a alteração, diz ele.
Na ponta do lápis, a situação era
a seguinte: o fornecedor de itens
da cesta básica como arroz, óleos,
carnes e café tinha o direito, desde
2003, a um crédito de 80% sobre a
Cofins e de 70% sobre o PIS.
Exemplo: o fabricante de arroz
compra o insumo de um produtor rural e paga R$ 100. Com o
"bônus", ele ganhava um crédito
sobre o valor final da compra.
Se a MP for aprovada, o fornecedor não terá mais esse ganho e
pode negociar reajustes.
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