São Paulo, terça-feira, 22 de junho de 2004

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Disputa na indústria ameaça preços

ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Há um jogo de forças entre dois lobbies da indústria que pode acabar em aumento nos preços de alimentos ao consumidor a partir do mês de agosto.
Ocorre que devem ser alteradas regras na cobrança de impostos de empresas de alimentos (arroz, café, laticínios), que irão perder uma antiga bonificação fiscal. A mudança faz parte de uma medida provisória (MP) a ser votada nos próximos dias e planejada pelo Ministério da Fazenda. Com ela, o setor perde direito a um crédito na cobrança da Cofins (Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social) e do PIS (Programa de Integração Social).
A questão é que, em um artigo dessa mesma MP, será concedida isenção na cobrança da Cofins para empresas de fertilizantes e defensivos agrícolas.
Sem entenderem a medida e irritados com a decisão, líderes da indústria da alimentação pressionaram lideranças do governo nas últimas semanas e foram a público ontem criticar a mudança.
"Isso só pode ser resultado de um mau assessoramento da parte técnica do governo. A decisão é totalmente descabida", disse Edmundo Klotz, presidente da Abia (Associação Brasileira da Indústria da Alimentação).
"É uma barbeiragem sem tamanho. Das duas, uma: ou o nosso pequeno fornecedor vai pagar essa perda ou o consumidor vai ser afetado. A indústria não tem como absorver isso", diz Jairo Quartero, representante do Sindarroz, entidade da indústria do arroz.
O que os incomoda, na prática, é que, mesmo afirmando que o consumidor deve arcar com esse peso, os fabricantes sabem que eles podem ser os mais atingidos. Até existe a possibilidade de o fornecedor negociar o repasse dessa perda para a loja e conseguir promover reajustes, mas as chances de sucesso são pequenas.
O varejo e o atacado de alimentos, com forte poder de barganha, vão tentar barrar o repasse.
Pelas contas de Denis Ribeiro, economista da Abia, com a nova MP, o reajuste médio de mercadorias da cesta básica pode variar de 3% a 8%, dependendo do item. A inflação medida pelo IPCA do IBGE registrará um aumento de 0,51 ponto percentual a partir de agosto com a alteração, diz ele.
Na ponta do lápis, a situação era a seguinte: o fornecedor de itens da cesta básica como arroz, óleos, carnes e café tinha o direito, desde 2003, a um crédito de 80% sobre a Cofins e de 70% sobre o PIS. Exemplo: o fabricante de arroz compra o insumo de um produtor rural e paga R$ 100. Com o "bônus", ele ganhava um crédito sobre o valor final da compra.
Se a MP for aprovada, o fornecedor não terá mais esse ganho e pode negociar reajustes.


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