São Paulo, terça-feira, 22 de junho de 2004

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ENDIVIDAMENTO

Pela 1ª vez desde 94, governo coloca no mercado internacional papel que paga a variação da taxa Libor

País emite US$ 750 mi com juros "flutuantes"

NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Pela primeira vez desde 1994, o governo brasileiro emitiu ontem títulos pós-fixados no mercado internacional para financiar sua dívida externa. O empréstimo foi de US$ 750 milhões e tem prazo de vencimento de cinco anos.
Os papéis lançados pelo país pagarão aos investidores juros de 5,75% ao ano, mais a variação da Libor, taxa utilizada como referência para esse tipo de operação no mercado externo. Atualmente, isso equivale a 7,31% ao ano.
Na prática, a emissão de títulos pós-fixados favorece os investidores no caso de uma alta dos juros no exterior, pois, nesse cenário, o país irá pagar mais pela dívida contraída ontem.
Na semana que vem, por exemplo, o Federal Reserve (o banco central dos EUA) decide se eleva ou não os juros norte-americanos, que estão em 1% ao ano. A expectativa é que as taxas subam para conter pressões inflacionárias no país. O lançamento de títulos pós-fixados protege os investidores dessas variações nas taxas.
Desde 1994, quando foi encerrada a reestruturação da dívida decorrente da moratória dos anos 80, o país só emitia títulos prefixados no exterior -ou seja, papéis cujos juros são conhecidos desde a data de seu lançamento. O Banco Central, responsável pela transação, não comentou a razão de adotar esse mecanismo.
A transação de ontem foi intermediada pelos bancos Goldman Sachs e Merrill Lynch.
Foi a segunda emissão de títulos da dívida externa feita pelo Brasil neste ano. Em janeiro, o país havia lançado papéis no valor de US$ 1,5 bilhão. Esses títulos têm prazo de 30 anos e pagam juros de 8,75% ao ano. Naquela ocasião, a situação do mercado internacional era mais tranqüila. O risco Brasil, na época, estava em torno de 400 pontos -ou seja, os juros pagos pelo Brasil no exterior estavam quatro pontos percentuais acima dos pagos pelos EUA. Nas últimas semanas, o risco ultrapassou os 600 pontos.
De acordo com o BC, o governo irá lançar, neste ano, US$ 4 bilhões em títulos da dívida externa. Com as duas operações já fechadas até agora, resta, portanto, US$ 1,75 bilhão em bônus a ser lançado pelo país até dezembro.
O dinheiro captado pela emissão de títulos no mercado externo é depositado nas reservas internacionais do país. As reservas são usadas para pagar os juros e as parcelas da dívida externa.


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