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"Não poderia trair a indústria", diz Amorim
Representantes dizem que ofereceram o máximo possível, mas se criticam mutuamente pelo colapso na negociação
Brasileiro reclama que a proposta de EUA e Europa previa corte de 58% nas
tarifas de importação de bens industriais
Sergio Moraes -28.jul.06/Reuters
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Susan Schwab, a negociadora americana, e Amorim brincam durante visita dela ao Brasil |
DO ENVIADO ESPECIAL A POTSDAM
O ministro Celso Amorim
explica assim a sua resistência
ao cerco europeu/americano
para um corte amplo das tarifas
industriais dos países em desenvolvimento:
"Eu não poderia fazer um
acordo em termos que eu mesmo considero uma traição à indústria brasileira, ao Mercosul
e aos países em desenvolvimento".
Declaração épica para fechar
um dia que começara bem mais
ameno com citação ao dramaturgo italiano Luigi Pirandello,
autor da peça "Assim é se lhe
parece".
De fato, cada parte da negociação parecia achar que tinha
feito o máximo possível para
um acordo.
O europeu Peter Mandelson,
por exemplo, dizia que as propostas agrícolas tanto da própria Europa como dos EUA
criaram "uma zona de pouso",
embora não exatamente o aeroporto, "justa" e que "vai ao limite do que a União Européia
pode fazer".
Não é assim que parece a Celso Amorim: "O aeroporto deles
ficou fora do nosso radar".
Ou, menos metaforicamente:
"As concessões eram muito pequenas e não significavam real
acesso a mercado". Logo, "não
poderiam ser tomadas como
moeda de troca" para concessões na área industrial.
Proposta
Amorim também reclama
que a proposta de EUA e União
Européia pressupunha um corte, na média, de 58% nas tarifas
de importação de bens industriais, quando "os países em desenvolvimento nunca cortaram mais de 40% em todas as
rodadas anteriores".
Na sua opinião, o mundo rico
"queria extrair sempre mais
para cada minúscula concessão".
Não é assim que parece para
Mariann Fischer Boel, a comissária européia para Agricultura: "Esprememos o limão até a
última gota", diz ela. E ainda
usa o argumento de que a proposta européia para as cotas de
carne equivalia a tudo o que a
Argentina exporta atualmente.
Já os EUA acham que sua
proposta para redução dos subsídios não tinha nada de minúscula. Segundo Susan Schwab,
cortar os subsídios para US$ 15
bilhões ou US$ 17 bilhões (números nunca formalmente colocados à mesa) significa reduzir o cheque que Washington
deu a seus produtores agrícolas
em sete ou cinco dos últimos
nove anos, respectivamente.
O indiano Kamal Nath também tem o seu "assim é se lhe
parece": lembra que a Índia aumentou suas importações de
bens agrícolas em 40% e, de
bens industriais, em 35%. "E
ainda têm apetite para mais
acesso a mercado?", pergunta.
(CLÓVIS ROSSI)
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