São Paulo, sexta-feira, 22 de junho de 2007

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"Não poderia trair a indústria", diz Amorim

Representantes dizem que ofereceram o máximo possível, mas se criticam mutuamente pelo colapso na negociação

Brasileiro reclama que a proposta de EUA e Europa previa corte de 58% nas tarifas de importação de bens industriais


Sergio Moraes -28.jul.06/Reuters
Susan Schwab, a negociadora americana, e Amorim brincam durante visita dela ao Brasil


DO ENVIADO ESPECIAL A POTSDAM

O ministro Celso Amorim explica assim a sua resistência ao cerco europeu/americano para um corte amplo das tarifas industriais dos países em desenvolvimento:
"Eu não poderia fazer um acordo em termos que eu mesmo considero uma traição à indústria brasileira, ao Mercosul e aos países em desenvolvimento".
Declaração épica para fechar um dia que começara bem mais ameno com citação ao dramaturgo italiano Luigi Pirandello, autor da peça "Assim é se lhe parece".
De fato, cada parte da negociação parecia achar que tinha feito o máximo possível para um acordo.
O europeu Peter Mandelson, por exemplo, dizia que as propostas agrícolas tanto da própria Europa como dos EUA criaram "uma zona de pouso", embora não exatamente o aeroporto, "justa" e que "vai ao limite do que a União Européia pode fazer".
Não é assim que parece a Celso Amorim: "O aeroporto deles ficou fora do nosso radar".
Ou, menos metaforicamente: "As concessões eram muito pequenas e não significavam real acesso a mercado". Logo, "não poderiam ser tomadas como moeda de troca" para concessões na área industrial.

Proposta
Amorim também reclama que a proposta de EUA e União Européia pressupunha um corte, na média, de 58% nas tarifas de importação de bens industriais, quando "os países em desenvolvimento nunca cortaram mais de 40% em todas as rodadas anteriores".
Na sua opinião, o mundo rico "queria extrair sempre mais para cada minúscula concessão".
Não é assim que parece para Mariann Fischer Boel, a comissária européia para Agricultura: "Esprememos o limão até a última gota", diz ela. E ainda usa o argumento de que a proposta européia para as cotas de carne equivalia a tudo o que a Argentina exporta atualmente.
Já os EUA acham que sua proposta para redução dos subsídios não tinha nada de minúscula. Segundo Susan Schwab, cortar os subsídios para US$ 15 bilhões ou US$ 17 bilhões (números nunca formalmente colocados à mesa) significa reduzir o cheque que Washington deu a seus produtores agrícolas em sete ou cinco dos últimos nove anos, respectivamente.
O indiano Kamal Nath também tem o seu "assim é se lhe parece": lembra que a Índia aumentou suas importações de bens agrícolas em 40% e, de bens industriais, em 35%. "E ainda têm apetite para mais acesso a mercado?", pergunta. (CLÓVIS ROSSI)


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