São Paulo, domingo, 22 de junho de 2008

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Estratégia de bancos para atrair clientes preocupa o governo

BC pede que instituições financeiras sejam mais cautelosas na abordagem de consumidores que nunca fizeram empréstimo

Prazo de financiamento tem que ser compatível com o da captação da instituição financeira, diz integrante do Banco Central


DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Uma preocupação do Banco Central é a estratégia usada pelos bancos para abordar clientes que ainda não fizeram algum tipo de empréstimo. Levados pela corrida contra a concorrência do sistema financeiro, trazem para o mercado de crédito potenciais inadimplentes no futuro.
"A concorrência gera irresponsabilidade. De um lado, o cliente tem que receber educação financeira para saber seu limite. De outro, a instituição financeira tem que ter responsabilidade", afirma o chefe do Departamento de Monitoramento do Sistema Financeiro e de Gestão da Informação do Banco Central, Cornélio Pimentel.

Crédito farto
A aposentada Edna Ferreira, 80, recebe regularmente telefonemas de uma funcionária de sua agência do Banco do Brasil com a oferta de crédito consignado. Na última abordagem, a funcionária ofereceu um empréstimo de R$ 14 mil. A aposentada quase aceitou para "ajudá-la", mas a filha interveio e impediu que ela fizesse uma dívida sem precisar.
"Não é de hoje que os bancos não têm a menor prudência ao conceder crédito, vide o cheque especial e o crédito pessoal. Basta abrir uma conta para já ter aquele limite de crédito disponível -e com juros altíssimos, como são os do cheque especial. As taxas são muito altas, e o banco não tem nenhuma garantia", critica Francisco Pessoa, da LCA Consultores.
Também é a concorrência que leva financeiras e bancos a oferecerem prazos de financiamento de automóveis acima de cinco anos. Para Pimentel, do Banco Central, o prazo de financiamento tem que ser compatível com o da captação da instituição financeira. Se o banco comprar um CDB de cinco anos, esse deveria ser o limite do empréstimo, defende.
"Não faz sentido financiar um veículo em 84 meses. Esse problema está começando a tomar relevância. O prazo médio para um carro é de 24 meses. Faz em 80 meses quem não tem renda", diz Pimentel.

Inadimplência
De acordo com dados do Banco Central, o índice de inadimplência nas operações de crédito pessoal estava em 5,1% em abril, menor que os 5,8% registrados em janeiro de 2007. Entram nessa conta as parcelas com atraso superior a 90 dias.
Entre os que pegaram financiamento para a aquisição de veículos, o índice de inadimplência para dívidas com atraso acima de três meses estava em 3,4% em abril. Se forem considerados os empréstimos com parcelas vencidas entre 15 e 90 dias, a inadimplência subirá para 7,4% do total.
No total, a inadimplência nos empréstimos para pessoas físicas fechou abril em 7%, no caso das dívidas com atraso superior a 90 dias, e em 6,6%, quando se consideram prestações vencidas entre 15 dias e 90 dias. Em janeiro do ano passado, a inadimplência nos empréstimos para pessoa física com atraso acima de 90 dias estava em 7,5% do volume emprestado.
Já no caso dos financiamentos com atraso de 15 dias a 90 dias, os dados do BC mostram que, em janeiro do ano passado, a inadimplência estava em 6,6%. Subiram para 7,1% em abril e recuaram para 6% em dezembro, quando parte do pagamento do 13º salário costuma ser usado para colocar em dia as dívidas em atraso.
Dados da Fecomercio-SP (Federação do Comércio do Estado de São Paulo), divulgados na semana passada, mostram que o nível de inadimplência em São Paulo ficou em 33% neste mês, dois pontos percentuais acima de maio -no mesmo período do ano passado, o índice era de 41%.


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