São Paulo, sábado, 22 de julho de 2006

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depoimento

Embarque no exterior provoca revolta resignada

FÁBIO VICTOR
EM LONDRES

Justamente quando parece surgir uma luz no fim da pista para a Varig, são trevas inacreditáveis que acompanham os passageiros que tentam voar nestes dias pela companhia. Eu vi a treva kafkiana ontem no aeroporto de Heathrow, em Londres.
Como quase todos, o vôo Londres-São Paulo, RG8757, que sairia às 22hs, foi cancelado. A Varig precisava, então, endossar o bilhete para que uma outra companhia aérea transportasse seus náufragos. Fui à loja, no terminal 3. A fila, às 19h30, era curta, mas caótica, e cada pequena tragédia particular a tornava mais infernal do que tantas outras bem maiores que inundavam o aeroporto àquela altura.
Era uma revolta resignada a dos náufragos. Todos ouviam dos funcionários que a companhia não pagaria hotel nem transporte para quem precisasse pernoitar em Londres - algo praticamente inevitável, já que raros passageiros conseguiram ser acomodados em vôos de outras empresas.
"A Varig não tem dinheiro nem pra pagar os funcionários, como vai pagar hotel?", disse uma das atendentes no meio da fila, o escárnio soando como algo banal. "A senhora paga o hotel, pega a conta e depois tenta receber do seguro de viagem."
"Vou botar na Justiça," retrucou a náufraga, que tinha uma conexão por Milão e cujas malas estavam perdidas.
Um casal jovem, com sotaque mineiro, que dizia estar ali desde as 16hs, abriu um sorriso aliviado quando lhe deram a solução de voar via Nova York. Pouco depois, mudaram a opção: teriam de dormir em Londres por conta própria, pegar um vôo para Miami hoje cedo, de Miami ir para Manaus, e de lá para São Paulo, chegando na segunda-feira. O casal fechou a cara de novo.
Um senhor ao lado nem com essa opção contava, já que não tinha visto para os Estados Unidos. "Mas me coloquem em qualquer vôo para qualquer lugar da Europa. Quero sair daqui hoje", implorou. "Mas o senhor depois volta como para o Brasil?", perguntou a mocinha, tentando ser amável. Ele não soube responder e deixou o balcão.
Eu só queria pegar o endosso, o que me custou uma hora, pois a Varig teve de reemitir meu bilhete perdido -a base de Londres é a única da companhia talvez do mundo que ainda não trabalha com tíquete eletrônico, pelo que queria me cobrar setenta libras. "Mas vocês cancelam o vôo, não pagam nem um metrô para os passageiros e querem cobrar uma reemissão de bilhete?!", argumentei. Acabaram sem cobrar.
Mas continuo em Londres, não sei até quando.


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