São Paulo, sábado, 22 de julho de 2006

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Sadia desiste de comprar a Perdigão

Jefferson Bernardes/Prewiew.com
Linha de produção da Perdigão em Marau (Rio Grande do Sul)


Decisão foi tomada ontem, após recusadas duas ofertas para a aquisição; "Quem perdeu foi o país", diz presidente da Sadia

Executivo afirma que decisão é irrevogável; fundo de pensão Previ, maior acionista da Perdigão, não comenta

JANAÍNA LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL

A Sadia revogou ontem a oferta pela Perdigão. Em fato relevante, a companhia justificou a iniciativa pelas "reiteradas recusas manifestadas por acionistas integrantes do grupo de controle" da concorrente.
O texto, da forma como escrito, foi uma estocada nos sócios da Perdigão que, a rigor, não têm o bloco de controle. A empresa pertence ao Novo Mercado -suas ações são pulverizadas. Inexiste, portanto, a figura de um grupo de acionistas que a comande.
O presidente da Sadia, Walter Fontana, disse à Folha que a decisão é irrevogável e que a companhia não pretende calcar sua estratégia de crescimento em novas investidas de compra, semelhantes à tentativa de adquirir a Perdigão.
"Quem perdeu foi o país", avaliou Fontana. Ele lamentou a rejeição da oferta, feita pela Sadia, por parte dos acionistas da Perdigão, mas disse considerar que a experiência foi boa para o mercado brasileiro e para sua companhia. "Recebemos vários elogios por ter agido dentro das regras do mercado", afirmou.
A Perdigão não quis se pronunciar sobre o fato relevante da Sadia. Até o fechamento desta edição, a Previ (fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil), maior acionista da Perdigão, também se manteve em silêncio.
Na segunda-feira passada, a Sadia formalizou uma oferta hostil -a primeira do gênero no país- pela Perdigão. A proposta, embasada em estudo do Bradesco, era pagar R$ 27,88 por ação.
Assim, no caso de compra de 100% dos papéis, a Sadia teria de desembolsar R$ 3,73 bilhões. Esse valor seria corrigido pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), mesmo indicador que baliza as metas de inflação, até a quitação.

Para competir
A Sadia justificou a oferta dizendo que pretendia criar uma parceria "para competir em igualdade de condições com concorrentes internacionais em setor considerado estratégico para o país".
No mesmo dia, o presidente da Perdigão, Nildemar Secches, informou que a oferta seria submetida aos acionistas. Deixou claro, todavia, que o preço estava abaixo da perspectiva dos executivos. Baseados em relatórios de outras instituições financeiras, eles consideravam razoável um preço na faixa de R$ 35 por ação.
Na terça-feira, a Perdigão comunicou a rejeição pelo lance da Sadia. Mas a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), órgão regulador do mercado financeiro, em comunicado, ordenou aos acionistas da Perdigão que manifestassem a recusa em separado. Foi o que aconteceu.
O grupo de acionistas que recusou formalmente a proposta era formado por sete fundos de pensão e pela Weg Participações. Juntos, eles são donos de 55,38% da Perdigão.
Na noite de quinta-feira, a Sadia mostrou-se disposta a pagar R$ 29 por ação. Dessa forma, a proposta global cresceu de R$ 3,73 bilhões para R$ 3,88 bilhões. Menos de uma hora depois, a Previ recusou a nova oferta. Ontem, a Sadia desistiu.

Gigante
Se as conversas tivessem prosperado, teria sido criada uma gigante com receita líquida anual superior a R$ 12 bilhões, dos quais 50% seriam provenientes de exportações.
Por conta da oferta da Sadia, as ações ordinárias da Perdigão dispararam 17,86% na segunda-feira passada, para R$ 27,11. Ontem, o papel terminou o pregão com baixa de 6,12%, sendo negociado a R$ 26,80. As ações da Sadia também terminaram o dia em declínio. O papel baixou 1,8%, para R$ 6.


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