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Ministério estuda desoneração lenta
Para evitar que redução de encargos na folha de pagamento cause inflação, governo prevê "diluir" medida em até dez anos
Na opinião do secretário de Acompanhamento Econômico, apresentar a proposta antes da reforma tributária pode atrapalhar
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Para evitar que a desoneração da folha de pagamento venha acompanhada de efeitos
colaterais na economia, o Ministério da Fazenda estuda
adotar a medida de forma lenta
e gradual. Uma das possibilidades em análise é aliviar a folha
de pagamento para setores intensivos em mão-de-obra em
um prazo de dez anos.
A medida seria combinada
com um aumento, também
progressivo, da tributação dos
setores intensivos em capital. A
Secretaria de Acompanhamento Econômico avalia que, se a
mudança for feita agora, poderá acarretar em aumento da inflação no curto prazo.
"Esse é o impacto que mais
preocupa de imediato. A médio
prazo, há aumento do emprego,
da formalização e da competitividade", declarou à Folha o secretário de Acompanhamento
Econômico, Nelson Barbosa.
Entre os cenários traçados pela
secretaria, está o de a desoneração ser "embolsada" pelos
setores beneficiados, ao passo
que a elevação de carga seria
repassada integralmente aos
preços pelos setores afetados.
Em 2004, o governo mudou
a legislação da Cofins, elevando
a alíquota e tributando produtos importados. A medida teve
desdobramentos na inflação, e
o Banco Central acabou sendo
obrigado a elevar os juros.
"Uma das estratégias possíveis para minorar isso seria fazer de forma gradual, e não de
uma vez só. Seria estabelecido
um período de dez anos porque
aí dilui no tempo e, às vezes, o
impacto nem aparece", declarou Barbosa.
A desoneração da folha de
pagamento vem sendo analisada pelo governo desde o primeiro mandato de Lula. A intenção do governo era incluir a medida no PAC (Programa de
Aceleração do Crescimento),
mas, devido à complexidade da
mudança, a opção foi adiá-la.
Com a valorização do real e a
choradeira de setores exportadores intensivos em trabalho, o
assunto voltou à baila, e o ministro Guido Mantega (Fazenda) chegou a marcar data para
o anúncio. Novamente, a dificuldade de fechar um modelo
levou o governo a postergar a
adoção da medida. Agora, ele já
fala em deixar a mudança para
a reforma da Previdência ou
para a reforma tributária.
"Na parte técnica, isso já foi
bem avaliado, quanto custa desonerar a folha e quanto é preciso buscar de recursos para
compensar. Temos o impacto
que isso pode ter na economia.
Agora é a questão do melhor
momento político. Colocar a
proposta antes da reforma tributária pode acabar atrapalhando", afirmou Barbosa.
Segundo os cálculos do governo, a cada ponto percentual
retirado da contribuição previdenciária sobre a folha de pagamento (atualmente em 20%),
há uma perda de R$ 3,5 bilhões.
A idéia do governo é compensar essa perda com a elevação
de um imposto indireto. Atualmente, o tributo que melhor se
encaixaria seria o PIS/Cofins.
"Mas, se a reforma tributária
tiver sucesso, vai ser um IVA
[Imposto sobre Valor Agregado]", analisa o secretário.
(JULIANNA SOFIA)
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