São Paulo, domingo, 22 de julho de 2007

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Ministério estuda desoneração lenta

Para evitar que redução de encargos na folha de pagamento cause inflação, governo prevê "diluir" medida em até dez anos

Na opinião do secretário de Acompanhamento Econômico, apresentar a proposta antes da reforma tributária pode atrapalhar

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Para evitar que a desoneração da folha de pagamento venha acompanhada de efeitos colaterais na economia, o Ministério da Fazenda estuda adotar a medida de forma lenta e gradual. Uma das possibilidades em análise é aliviar a folha de pagamento para setores intensivos em mão-de-obra em um prazo de dez anos.
A medida seria combinada com um aumento, também progressivo, da tributação dos setores intensivos em capital. A Secretaria de Acompanhamento Econômico avalia que, se a mudança for feita agora, poderá acarretar em aumento da inflação no curto prazo.
"Esse é o impacto que mais preocupa de imediato. A médio prazo, há aumento do emprego, da formalização e da competitividade", declarou à Folha o secretário de Acompanhamento Econômico, Nelson Barbosa. Entre os cenários traçados pela secretaria, está o de a desoneração ser "embolsada" pelos setores beneficiados, ao passo que a elevação de carga seria repassada integralmente aos preços pelos setores afetados.
Em 2004, o governo mudou a legislação da Cofins, elevando a alíquota e tributando produtos importados. A medida teve desdobramentos na inflação, e o Banco Central acabou sendo obrigado a elevar os juros.
"Uma das estratégias possíveis para minorar isso seria fazer de forma gradual, e não de uma vez só. Seria estabelecido um período de dez anos porque aí dilui no tempo e, às vezes, o impacto nem aparece", declarou Barbosa.
A desoneração da folha de pagamento vem sendo analisada pelo governo desde o primeiro mandato de Lula. A intenção do governo era incluir a medida no PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), mas, devido à complexidade da mudança, a opção foi adiá-la.
Com a valorização do real e a choradeira de setores exportadores intensivos em trabalho, o assunto voltou à baila, e o ministro Guido Mantega (Fazenda) chegou a marcar data para o anúncio. Novamente, a dificuldade de fechar um modelo levou o governo a postergar a adoção da medida. Agora, ele já fala em deixar a mudança para a reforma da Previdência ou para a reforma tributária.
"Na parte técnica, isso já foi bem avaliado, quanto custa desonerar a folha e quanto é preciso buscar de recursos para compensar. Temos o impacto que isso pode ter na economia. Agora é a questão do melhor momento político. Colocar a proposta antes da reforma tributária pode acabar atrapalhando", afirmou Barbosa.
Segundo os cálculos do governo, a cada ponto percentual retirado da contribuição previdenciária sobre a folha de pagamento (atualmente em 20%), há uma perda de R$ 3,5 bilhões. A idéia do governo é compensar essa perda com a elevação de um imposto indireto. Atualmente, o tributo que melhor se encaixaria seria o PIS/Cofins. "Mas, se a reforma tributária tiver sucesso, vai ser um IVA [Imposto sobre Valor Agregado]", analisa o secretário.
(JULIANNA SOFIA)


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