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Apesar da queda do dólar, americanos elevam idas à Europa
Em 12 meses, moeda caiu 8,9% ante o euro, mas turistas mantêm planos de passar férias do outro lado do Atlântico
Norte-americanos gastaram US$ 3,8 bi em serviços ligados a viagens na Europa no 1º tri, 5,5% a mais do que em 2006
MARK LANDLER
DO "NEW YORK TIMES", EM HEIDELBERG
Um dia depois que Michael
Kingsley chegou à romântica
cidade universitária de Heidelberg (Alemanha), descobriu
que não estava no pique necessário para desfrutar das ruas
calçadas com pedras, das casas
de madeira com janelas enfeitadas por flores e nem mesmo
do castelo sobre a colina.
Kingsley havia esquecido a
bateria e o carregador de sua
câmera em um hotel em Londres e sabia que, em sua condição de turista, comprar substitutos por aqui doeria em seu
bolso. O prejuízo? US$ 143. Em
sua cidade, Falls Church, nos
EUA, ele diz, o custo não teria
excedido os US$ 100.
Para os americanos em visita
à Europa nas férias de verão, a
queda acentuada do dólar ante
o euro e a libra esterlina transformou preços assustadores
em parte inevitável da rotina
turística -a diária do hotel em
que os Kinsgley se hospedaram
em Londres era de US$ 500;
cinco bombons minúsculos da
Harrod's custavam US$ 10.
"Não tem problema", disse
Kingsley, 59, com um riso resignado. "Só terei de trabalhar
alguns anos a mais para pagar
por essas férias." Sua mulher,
Laura, fez o que pôde para reconfortá-lo: "É dinheiro de
brinquedo", disse.
Passados cinco verões desde
o início do longo declínio do dólar, os americanos já se acostumaram a cafés de US$ 5 e contas de três dígitos no restaurante. Mas a mais recente queda do
dólar, a US$ 0,72 diante do euro
e a US$ 2,01 diante da libra,
transformou o que era um simples choque em uma forma peculiar de assombro turístico.
Para Kaelon Kroft, da Califórnia, a maior causa de espanto foi o preço da Coca-Cola, em
Paris. "Acabamos de pagar
9,50 por uma lata em um café.
No nosso hotel, o bar servia um
copo de Coca por 4." "Isso é
mais de US$ 5", disse sua mulher, Kristi. Na verdade, o preço é pouco mais de US$ 5,50.
Danos
Os Kroft e os Kingsley tiveram de encurtar suas férias na
Europa a fim de limitar os danos causados pelo aperto no
câmbio. Mas não consideraram
seriamente a hipótese de cancelar as férias e seu otimismo e
determinação de aproveitar ao
máximo as oportunidades foram ecoados em muitas entrevistas com turistas norte-americanos, da Irlanda à Itália.
A tendência também é refletida pelas estatísticas de turismo de França, Alemanha, Espanha e outros países, segundo
as quais o número de americanos na Europa cresceu neste
ano, apesar da erosão no valor
do dólar. Os especialistas dizem que isso atesta a persistência e a crescente afluência dos
turistas norte-americanos, e o
atrativo permanente da Europa como destino turístico.
"Os norte-americanos que
visitam a Europa tendem a ter
nível mais elevado de educação
e renda mais alta, de modo que
o câmbio os afeta menos", disse
Joachim Scholz, do conselho de
turismo alemão. "Mesmo os
mochileiros têm mais dinheiro
do que no passado, se você considerar o preço dos albergues."
Os americanos gastaram US$
3,8 bilhões em serviços ligados
a viagens na Europa no primeiro trimestre deste ano, 5,5%
acima dos mesmos meses do
ano passado. Em 2006, eles adquiriram US$ 22,8 bilhões em
serviços ligados a viagens, quase 10% a mais do que em 2002,
quando dólar e euro estavam
próximos da paridade.
Isso deve representar alívio
para os empresários de hotelaria e restaurantes europeus, já
que muitos especialistas em
câmbio dizem que a moeda
americana ainda não caiu tudo
o que deve cair ante o euro.
Do outro lado
Do outro lado do Atlântico, o
dólar fraco encorajou um boom
de turismo europeu nos EUA. E
as mudanças no câmbio estimulam inversão no fluxo de comércio, com as exportações
americanas ganhando força
apesar das queixas cada vez
mais insistentes dos europeus
quanto ao prejuízo que o dólar
barato vem causando à competitividade de sua indústria.
Nos últimos 12 meses, o dólar
caiu 8,9% diante do euro e 9,9%
diante da libra esterlina. Mas a
erosão se tornou mais dramática nas últimas semanas, depois
que muitos americanos já haviam reservado suas viagens à
Europa. Ainda assim, a maioria
deles parece ter decidido manter o plano de férias.
"Muitos norte-americanos
adquirem seus pacotes nos
EUA e os pagam em dólares, de
modo que nem percebem a diferença", disse Thierry Baudier, presidente do conselho
nacional de turismo francês.
"Quando eles chegam, é tarde
demais para reconsiderar."
Mark Trotter, professor na
Califórnia, está conduzindo 27
de seus alunos em uma excursão por Madri e Barcelona e
disse que se sentiu alarmado
com a queda do dólar nas duas
últimas semanas. Mas ninguém desistiu da viagem -de
fato, o grupo atual é o maior que
ele já conduziu à Europa.
"Lembro que fiz essa viagem
por US$ 2,1 mil ainda em
2003", contou Trotter. "Neste
ano, custou US$ 2,8 mil. Mas,
para ser sincero, os pais não hesitam por um segundo."
Ajustes
É certo que os turistas estão
fazendo alguns ajustes em seus
itinerários e em seus hábitos de
consumo. Paris cada vez mais
se torna destino de viagens de
final de semana. Os Kroft decidiram não prolongar sua estadia lá, ao contrário do que planejavam, devido ao custo. Em 2008, a família de quatro pessoas provavelmente optará pelo Havaí ou pelas ilhas Virgens,
onde o dólar é moeda corrente.
O aperto que a queda do câmbio causa é mais doloroso para
os americanos que vivem na
Europa, mas têm salários em
dólar. Eles sofrem erosão na
renda real que, em certos casos,
não é compensada integralmente por seus empregadores.
Jennifer Aquino, que vive em
Madri, disse que sente o aperto
quando faz compras para a casa, paga aluguel ou sai para jantar. "É assustador. Isso me fez
pensar duas vezes sobre minha
decisão de construir uma vida
na Europa." Para alguns, porém, há até a sensação de que a
reversão é justa. Linda Miller,
de Honolulu, visita freqüentemente a Europa. "Nós sempre
acreditamos que os EUA estavam levando alguma vantagem
indevida", diz, relembrando como ela e o marido, Stephen, haviam vivido com conforto em
viagens passadas à Europa.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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