São Paulo, terça-feira, 22 de julho de 2008

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Para BC, negociações salariais podem pressionar preços

SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Banco Central inicia hoje mais uma reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) de olho no que considera um teste de fogo para economia.
Neste segundo semestre, nada menos do que cerca de 300 negociações salariais estarão em curso, entre elas as de categorias fortes como metalúrgicos, bancários, petroleiros, comerciários e químicos. O saldo das conversas entre patrões e empregados terá impacto direto na renda nacional, fonte de preocupação para o BC.
O medo dos diretores que integram o Copom é que o ambiente de mais dinheiro no bolso incentive ainda mais o consumo. Num momento de crescimento econômico, isso faria com que os trabalhadores aceitassem mais facilmente elevações de preços. Por outro lado, as empresas não teriam dificuldades de repassar o aumento do custo com a folha.
Essa é a pior combinação possível para inflação, na avaliação do BC. O tema vem sendo sutilmente destacado nas atas das últimas reuniões do comitê, mas sua importância cresceu no último encontro.
Reajustes salariais acima da inflação podem prolongar a alta dos preços e exigir juros maiores. Ao lado do crédito, o aumento na renda tem sustentado o crescimento da demanda.
Para a economista-chefe do banco Real, Zeina Latif, o aumento real da massa de salários pode disseminar a inflação no país, que já sofre com a alta dos alimentos e das commodities minerais no mundo todo. "Isso faria com que os impactos de segunda ordem citados pelo BC se propagassem na economia", diz, referindo-se a reajustes em setores não influenciados diretamente pela alta recente dos preços no exterior.
No ano passado, 96% dos 715 acordos e convenções coletivas firmados com diferentes categorias profissionais conseguiram, no mínimo, que os salários fossem corrigidos integralmente pela inflação. E, em 88% deles, ocorreram ganhos reais, segundo levantamento feito pelo Dieese (Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Sócio-Econômicos).
Segundo José Silvestre Prado de Oliveira, coordenador técnico do Dieese, não se espera um percentual muito menor neste ano. A diferença, para ele, é que o recrudescimento da inflação pode levar a negociações mais duras, e o tamanho do reajuste real deverá cair.
"Não existe o risco de não se recompor a inflação. De abril para cá, a alta da inflação contaminou o ambiente de negociações, mas as categorias estão conseguindo recomposição dos salários mais ganhos reais."
Segundo Silvestre, em 2007, mais de 48% dos acordos resultaram em aumentos reais entre 1% e 3%. "Esse percentual deve cair um pouco", diz.
Considerando a média dos salários e a quantidade de trabalhadores envolvidos, as negociações do segundo semestre têm um peso maior para a massa salarial total da economia. "Ainda assim, o BC não pode culpar os trabalhadores. Tivemos ganhos reais em 2005, 2006 e 2007 e não se falou nisso [de alimentar a inflação]."


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