São Paulo, terça-feira, 22 de julho de 2008

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Biodiesel provoca alta no diesel e pressiona inflação

Combustível fica 2,1% mais caro em dois meses

JULIANA ROCHA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A exigência do governo federal de elevar o percentual de biodiesel na mistura do diesel, em tempos de alta das commodities, fez com que o preço do combustível subisse 2,1% na bomba em julho, em comparação com o preço médio de maio. O reajuste tem efeito cascata na inflação, porque provoca elevação dos custos do frete e dos produtos no atacado até chegar ao varejo. O setor de logística responde por 76% do consumo de diesel no país.
Preocupado com o impacto na inflação, o Ministério da Fazenda monitora a escalada semanal dos preços dos combustíveis de perto. A Folha apurou que o reajuste do diesel em julho ficou dentro da expectativa da equipe econômica. Os técnicos da Fazenda projetavam que, ao aumentar o percentual obrigatório de biodiesel na mistura do diesel de 2% para 3%, o reajuste de preços seria também de 2% a 3%.
A Fazenda esperava, ainda, reajuste de 11% no diesel de maio a julho. O reajuste nos últimos três meses foi de 11,6%. O impacto dessa alta de preços no IPCA -índice usado no controle da meta de inflação- é de 0,02%. A projeção de aumento nos últimos três meses inclui o reajuste de 15% na refinaria, praticado pela Petrobras em maio. A variação cai para o consumidor final por causa do desconto da Cide-Combustíveis.
Para um técnico da Fazenda, o preço do diesel não deve subir mais no segundo semestre. Ele pondera que a cotação internacional da soja estacionou e não há projeção de reajustes abruptos até o fim do ano.
O secretário de Petróleo e Gás do Ministério de Minas e Energia, José Lima de Andrade Neto, não arrisca projeções para o segundo semestre. Ele lembra que na primeira semana de agosto haverá um leilão de biodiesel para a fabricação de diesel do quarto trimestre do ano. O resultado, segundo ele, dará uma indicação de como os preços vão se comportar.
Andrade admite que a nova fórmula da mistura do diesel e a escalada de preços das commodities pesaram no aumento.
Segundo o presidente do Sindicom (Sindicato das Distribuidoras de Combustível), Alíseo Vaz, o aumento do preço do biodiesel foi de cerca de 70% no leilão para o terceiro trimestre, de R$ 1,80 o litro para R$ 3,10. "Quase 80% desse reajuste foi culpa do aumento da soja no período", disse.

Repasse integral
O presidente do sindicato das distribuidoras lamenta a decisão do governo de aumentar o uso de biodiesel no diesel neste momento. Ele disse que as distribuidoras pretendem repassar todo o reajuste para o consumidor final. "Isso afeta principalmente o custo para o caminhoneiro. Não temos como segurar esse custo nas distribuidoras. É tudo repassado."
Vaz também acredita que o ritmo de aumento de preços registrado desde maio não deverá se manter. Para ele, o impacto dos reajustes de commodities e da mudança na fórmula da mistura já foi inteiramente repassado ao consumidor.
Mais otimista, a ANP (Agência Nacional do Petróleo), responsável pela coleta de preços dos combustíveis, prevê queda do diesel até o fim do ano. A agência rejeita também a justificativa de que as commodities agrícolas, como a soja, sejam responsáveis pelo aumento.
"O reajuste no preço do diesel, nas últimas semanas, ainda é, em parte, reflexo do aumento de 15% no preço do diesel nas refinarias, em maio. O impacto do aumento da mistura de 2% para 3% do biodiesel no diesel foi mínimo. A ANP entende que esse reajuste é transitório e até o final do ano o preço do diesel deverá cair um pouco", disse a ANP, em nota.


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