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LUÍS NASSIF
Paulino e a Eletrobrás
A propósito da coluna "O
avô da crise energética"
-que atribuía parte da crise
energética à decisão do ex-presidente Itamar Franco de proibir
reajuste de tarifas elétricas em período inflacionário-, recebo correspondência intrigante do ministro de Minas e Energia da época, Paulino Cícero. Intrigante
porque, a pretexto de rebater o
que escrevi, Paulino confirma integralmente tudo o que publiquei.
O que se disse aqui na coluna?
1) Que Itamar Franco havia impedido reajuste tarifário, o que
deixou a Eletrobrás apertada; 2)
que o então presidente da companhia, José Luiz Alqueres, e o então
ministro de Minas e Energia,
Paulino Cícero, montaram uma
operação ruinosa de venda de
parte do capital da empresa.
Antes disso, trabalhando no
BNDES como diretor, Alqueres
pretendera vender ações ordinárias da companhia, que o banco
tinha em carteira. Alertei que se
corria o risco de repetir o que
aconteceu com a Telebrás, que teve ações vendidas a preço de banana, antes da privatização.
Alqueres me procurou e informou que haveria uma série de
eventos que aumentariam substancialmente o valor da Eletrobrás. Segundo ele, a intenção do
BNDES era dar alguma liquidez
ao papel para valorizar a sua carteira, quando os eventos ocorressem.
Pouco tempo depois Alqueres
saiu do BNDES e assumiu a presidência da Eletrobrás, com Paulino como seu chefe imediato.
Anunciou-se, então, não uma pequena venda de papéis da Eletrobrás, para dar liquidez, mas a
venda de 10% do capital da empresa, em condições ruinosas.
O cálculo foi feito tomando-se a
média do valor de mercado de
abril, sem nenhuma espécie de
correção, em um período de inflação elevadíssima, de 30% ao mês.
Depois o valor foi congelado por
mais 30 dias, até 31 de maio, data
do pagamento. Mostrei na época:
"Por cerca de US$ 360 milhões
permitiu-se a conversão de um
patrimônio que, tomando-se por
base critérios internacionais, poderia seguramente valer US$ 2,9
bilhões". Mais: "Para efeito de
subscrição, as ações ordinárias estavam cotadas a Cr$ 2.400,00. No
dia do vencimento do prazo de
subscrição, o mercado já pagava
Cr$ 5.320,00. Portanto bastaria
subscrever o aumento de capital e
vender em seguida as ações para
lucrar 122% instantaneamente".
O que diz o ex-ministro Paulino? Reclama, primeiro, das críticas feitas ao governo Itamar. Diz
que Itamar foi o "salvador" da
Eletrobrás, devido ao programa
de reestruturação do setor conduzido por Eliseu Rezende. De fato,
foi um trabalho essencial para a
reestruturação do setor. Justamente porque esse programa promoveria uma valorização das
empresas não se poderia queimar
capital com vendas antecipadas.
Depois nega que Itamar tenha
achatado as tarifas do setor. "(...)
Toda essa formidável inadimplência foi gerada pela insuficiência tarifária, que pontuou o governo Collor". No dia 14 de dezembro de 1992 fiz uma coluna
sobre os problemas do setor, em
cima de uma conversa com o então ministro Paulino Cícero: "As
restrições tarifárias impostas pela
decisão do presidente da República em atrasar os reajustes (...)
obrigarão o setor a correr mais
depressa na busca da verdade tarifária e da redução de custos das
estatais", declarou Paulino. Ora,
o presidente era Itamar Franco. O
achatamento tarifário que promoveu na época é fato público e
notório.
Quanto à operação em si, o que
diz Paulino? Que "a gestão patrimonial do governo federal é feita
pela Secretaria do Tesouro, que é
do Ministério da Fazenda, e não
do Ministério de Minas e Energia".
Trata-se de um solene sofisma.
Quando a operação aconteceu,
cobrei uma posição do presidente
da República e ele incumbiu Paulino e Alqueres de dar as explicações. Eles tinham a prerrogativa
de definir os preços. A explicação
de Alqueres -dada na presença
de Paulino- foi que relatório do
Banco de Boston mostrava baixas
perspectivas para o setor. Disse-lhe que a alegação não tinha pé
nem cabeça, posto que o analista
máximo do setor era ele próprio,
presidente da Eletrobrás, que
poucos meses antes me informara
sobre mudanças estruturais que
valorizariam todo o setor -o que
de fato acabou ocorrendo.
Sua segunda alegação, então,
foi que, com a compressão tarifária decretada por Itamar Franco,
a estatal não tinha dinheiro sequer para comprar papel. E que,
por isso, a operação teria se tornado inevitável. Tudo isso está registrado nas colunas da época.
Internet: www.dinheirovivo.com.br
E-mail - lnassif@uol.com.br
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