São Paulo, domingo, 22 de agosto de 2004

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RETOMADA

Mercado para candidatos a cargos de direção cresce 29% no ano; profissionais voltam às empresas com salários maiores

Economia em alta valoriza passe de executivos

FÁTIMA FERNANDES
CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Por seis meses, Ricardo Mayrinck Pereira, 42, executivo da área financeira, viveu de "terceirização" -prestou serviço na área de informática. Foi a opção encontrada após ficar desempregado de fevereiro a outubro de 2003.
Em abril deste ano, voltou a trabalhar com carteira assinada. A convite da multinacional Storagetec, empresa de armazenamento de dados, aceitou o cargo de diretor financeiro por um salário anual de R$ 400 mil -ou R$ 33 mil por mês-, fora benefícios.
Demitido em junho de uma companhia do setor de tintas, o executivo Paulo Sérgio Geraldo, 41, teve quatro ofertas para ocupar cargos de direção.
Optou pela empresa Saint-Gobain Abrasivos, onde começou a trabalhar como diretor mundial de compras na última segunda-feira. O salário, mantido em sigilo, é 10% maior do que o anterior. "Vou cuidar de um setor que movimenta R$ 400 milhões por ano."
As histórias desses profissionais revelam a recuperação do mercado de trabalho de executivos. De janeiro a julho deste ano, a oferta de vagas para executivos de nível de gerência ou direção subiu 29% na comparação com igual período do ano passado.
Levantamento da Laerte Cordeiro Consultoria em Recursos Humanos, a partir de anúncios de jornais de São Paulo, mostra que nos primeiros sete meses deste ano foram ofertadas 908 vagas. No mesmo período do ano passado foram 704. "Os executivos voltaram a ser procurados, como reflexo da retomada de alguns setores da economia", diz Laerte Cordeiro, diretor-presidente.
Quem se recolocou no mercado está ganhando até mais. "O aumento salarial foi, em média, de 12% a 20%. Há casos de profissionais que conseguiram elevar em até 40% o salário mensal", afirma Gutemberg B. de Macedo, da Gutemberg Consultores.
Neste ano, a consultoria já recolocou 57 executivos em empresas de várias atividades. A expectativa é que esse número passe de cem neste ano. Em 2003, foram 79.
"A procura por executivos aumentou 56% neste ano em relação ao ano passado", afirma Iêda Novais, sócia-diretora da Mariaca & Associates, especializada em recolocação de executivos.
"O nosso faturamento dobrou neste ano em relação ao ano passado", diz Guilherme Dale, consultor sênior da Spencer Stuart, consultoria de recrutamento de executivos e conselheiros.
"Dos 62 executivos com quem trabalhei nos últimos oito meses na área de "coaching" [orientação, treinamento e plano de carreira], a maioria já se recolocou, e muito bem, no mercado de trabalho", afirma José Carlos Figueiredo, consultor da Catho, especializada em recursos humanos.
Os profissionais mais procurados, segundo o levantamento da Laerte Cordeiro, são, por ordem, os de marketing, vendas, produção, finanças e de tecnologia da informação. Quem mais demanda esses profissionais são: indústrias, empresas de serviços, comércio e instituições financeiras.
"A área de exportação ficou congelada de 1994 até 2003. Só em meados do ano passado, os profissionais desse setor começaram a sair da geladeira", diz Gerson Correia, consultor da DBM.

R$ 1 milhão
A procura por executivos começou a aquecer, segundo nove empresas especializadas em recursos humanos, no primeiro trimestre deste ano, após uma crise de quase um ano e meio que atingiu em cheio o alto escalão das empresas. Um dos piores momentos foi entre março e outubro do ano passado, quando a economia se retraiu.
"Durante um bom tempo, telecomunicação era uma palavra feia. De repente, como em um estalo, as operadoras de telefonia e as companhias que trabalham com infra-estrutura para esse setor voltaram a procurar executivos. Estamos atrás de profissional de R$ 1 milhão por ano", diz David Ivy, vice-presidente da Korn Ferry, empresa de recrutamento.
No ano passado, segundo informa, os salários dos executivos não passavam de R$ 650 mil por ano, e não havia muitas oportunidades como as que surgiram neste ano.
"Para ter idéia da melhora, basta dizer que negociamos bônus de US$ 1 milhão, pago em suaves prestações, só para um executivo de telecomunicação sair da empresa em que estava", diz Ivy. A Korn Ferry tem vagas de R$ 60 mil/mês, mais bônus atrelado a performance e outros benefícios.

Mais talentos
A Simon Franco Recursos Humanos, que presta serviços às empresas na área de RH, informa que o mercado para executivos reagiu, mas a procura é por profissionais cada vez mais talentosos. "Esse mercado está mais seletivo. Para os profissionais diferenciados, há sempre emprego", afirma o "headhunter" Simon Franco, presidente da Simon Franco.
Celso Pegorim, 49, diretor de RH da Iob-Thomson, empresa de publicações, foi contratado há 60 dias, depois de trabalhar por quase dois meses como consultor. "Voltei para o mundo corporativo. O mercado de consultorias independentes está abarrotado", afirma. "O salário não sofreu grandes mudanças, mas os benefícios compensam", afirma.


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