São Paulo, domingo, 22 de agosto de 2004

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Reestruturação é a única saída, dizem analistas

DA REPORTAGEM LOCAL

Sem uma grande reestruturação operacional, uma ajuda do governo à Varig neste momento apenas adiaria a morte da empresa, na opinião de analistas ouvidos pela Folha.
O consenso é que, apesar de algumas mudanças terem sido feitas de um ano para cá, a aérea não fez a "lição de casa", ou seja, não cortou custos no ritmo e na intensidade necessários.
"Meu ponto de vista é que a reestruturação financeira da Varig é necessária, mas não suficiente para a empresa prosperar", diz André Castellini, consultor especializado da Bain & Company. "Como todas as companhias aéreas tradicionais, ela teria grande dificuldade de competir com empresas mais novas, como a TAM e a Gol, cujos custos são menores, e o nível do serviço prestado é tão bom ou melhor", completa.
Segundo Carlos Albano, analista de aviação do Unibanco, "da forma como a Varig está uma injeção de recursos não resolve".
"Precisa haver uma reestruturação operacional em todas as frentes, com redução de custos e aumento de receita. O problema da Varig não é só a falta de dinheiro, é a ineficiência operacional."
A necessidade de ajudar a empresa é motivo de divergências. Alguns analistas lembram que a falta de regulamentação do setor, que nos últimos anos abriu sem restrições os céus brasileiros para novas empresas operarem vôos domésticos e internacionais, canibalizou o mercado e foi um dos principais fatores determinantes da crise financeira da empresa.
Agora, o governo estaria consertando um erro cometido no passado. Outros argumentos são a importância da Varig como companhia brasileira de bandeira internacional e também o risco de, em caso de quebra, ninguém ter interesse em assumir linhas menos rentáveis, mas estratégicas, no mercado doméstico.
"A Varig não pode quebrar. A Transbrasil tinha apenas 4% do mercado quando parou de operar e causou transtornos. Se a Varig, que tem 30% do mercado doméstico, parar de operar amanhã, haverá um colapso", diz Marcelo Ribeiro, da corretora Pentágono.
Bolívar Pêgo Filho, economista do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), discorda. "É necessário uma visão mais racional da alocação dos recursos públicos. O governo tem de fazer a sua parte com a sociedade, e não ficar dando dinheiro para uma empresa que quebrou."


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