São Paulo, sábado, 22 de agosto de 2009

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Retomada tende a ser "muito lenta", diz presidente do Fed

Para Bernanke, nível de desemprego nos EUA ainda será elevado por muitos meses

Bolsa de Nova York atinge maior patamar desde outubro de 2008, também sob influência do aumento na venda de casas usadas


FERNANDO CANZIAN
DE NOVA YORK

Ben Bernanke, presidente do Fed (o BC dos EUA), deu ontem a mais taxativa indicação desde o agravamento da crise internacional, em setembro de 2008, de que tanto a economia americana quanto a de outros países estão na rota da recuperação. Mas avisou que ela será lenta e com o desemprego elevado por muitos meses.
"Depois da forte contração no ano passado, a atividade econômica parece estar se recuperando, tanto nos EUA quanto em outros países."
"As chances de volta do crescimento são boas", disse Bernanke, durante encontro com presidentes de bancos centrais e economistas de vários países em Jackson Hole (Wyoming).
E acrescentou: "Embora tenhamos evitado o pior, há desafios pela frente. Em um primeiro momento, a recuperação tende a ser muito lenta, com os níveis de desemprego baixando apenas gradualmente dos elevados patamares atuais".
O presidente do Fed destacou ainda que a área de crédito começa a "se normalizar" e que o antes "moribundo" mercado de emissão de títulos corporativos (para capital de giro) também volta "à normalidade".
No cenário internacional, países como França, Alemanha e Japão já deixaram a recessão para trás no segundo trimestre. Mas o crescimento no período foi anêmico (0,3% nos casos de França e Alemanha). E o desemprego permanece alto -em 9,4% e 7,7% nos dois países.
Nos EUA, o segundo trimestre ainda foi de retração, de 1%. Acredita-se que a economia tenha voltado a crescer a partir de julho. O desemprego, porém, está em 9,4%, e a maioria das previsões indica que ele ainda poderá aumentar antes de começar a recuar.
A expectativa de uma longa e frágil recuperação foi reforçada nesta semana pelas vendas abaixo do esperado, em julho, de redes gigantes de varejo nos EUA. Houve ainda aumento além do previsto nos pedidos de seguro-desemprego.
Mas a fala do presidente do Fed, somada à notícia de que a venda de casas usadas nos EUA teve em julho o maior aumento em dois anos, fizeram a Bolsa de Nova York atingir o mais elevado patamar desde outubro do ano passado.
O índice Dow Jones subiu 1,67%, para 9.506 pontos, e o S&P 500 teve valorização de 1,86%. O índice da Bolsa eletrônica Nasdaq subiu 1,6%.
No Brasil, a Bolsa de Valores de São Paulo subiu 1,58% e atingiu o maior nível desde julho de 2008.
Na esteira da recuperação das Bolsas, as commodities também subiram. O petróleo ultrapassou pela primeira vez em dez meses os US$ 74.

Imóveis
As vendas de imóveis residenciais usados cresceram 7,2% em julho, no quarto mês consecutivo de alta. Já o número de casas comercializadas no ano chegou a 5,24 milhões, o maior desde agosto de 2007.
A média nacional de preço dos imóveis comercializados foi de US$ 178,4 mil (R$ 330 mil), ainda 15,1% abaixo da média de julho de 2008.
A recuperação das vendas de casas se dá em um ambiente de juros para financiamentos muito baixos e com forte impulso de crédito estatal repassado a bancos, além de descontos tributários.
A partir de dezembro passado, o Fed baixou os juros básicos no país para um patamar entre zero e 0,25% ao ano. E bombeou cerca de US$ 1 trilhão na economia em financiamentos para empresas e a interessados em comprar imóveis ou veículos.
No caso dos imóveis, o comprador que não tem casa própria pode ter desconto tributário de US$ 8.000. No setor de veículos, chegam a US$ 4.500 os abatimentos para quem trocar um carro "bebedor" por outro mais econômico.
Mas as declarações ainda cautelosas de Bernanke indicam que o Fed deve manter os juros no atual patamar por um bom período, especialmente porque não há sinais de inflação no curto prazo. O suporte financeiro estatal na área de crédito também deve continuar por mais tempo.


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