|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Argentina tenta voltar ao mercado de crédito
País anuncia proposta de troca de títulos da dívida e busca reingressar no mercado internacional após calote
SILVANA ARANTES
DE BUENOS AIRES
O ministro da Economia da
Argentina, Amado Boudou, deu
ontem mais um sinal de que o
país busca ajustar suas contas e
voltar ao mercado global de
crédito ainda neste ano.
Ele anunciou que abrirá na
semana que vem uma troca de
bônus de curto prazo atrelados
à inflação por papéis com vencimento mais longo, em 2014. A
troca envolverá um total de 9
bilhões de pesos (US$ 2,3 bilhões). Pelo perfil dos papéis, a
oferta se dirige sobretudo a investidores locais.
"Esse é mais um passo para o
retorno [do país] aos mercados
financeiros e uma forma de fortalecer a posição financeira do
próximo ano, em relação ao peso da dívida sobre as contas públicas", afirmou o ministro.
O país vizinho afastou-se do
mercado global de crédito desde o calote da dívida, em 2002.
Após o colapso econômico de
2001, marcado por um cenário
interno de ameaça de hiperinflação e confisco de depósitos
bancários -o "corralito"-, a
Argentina decretou moratória.
Em 2005, sob a Presidência
de Néstor Kirchner (2003-2007), o país apresentou uma
proposta de troca da dívida pública em moratória, então calculada em US$ 81 bilhões. A
pressão da parcela dos credores
que não aceitaram a oferta (os
chamados "holdouts") é um desafio de Boudou para reaver a
confiança internacional.
O economista Aldo Abram,
diretor do Centro de Pesquisa
de Instituições e Mercados da
Argentina, avalia que "é muito
improvável o retorno da Argentina ao mercado de crédito ainda neste ano".
Para Abram, "não há tempo
suficiente para solucionar o
problema dos "holdouts" com
um refinanciamento ou uma
nova troca, nem tampouco para
implementar outras medidas
indispensáveis, como a melhora da relação com o FMI (Fundo Monetário Internacional], e
com o [grupo de nações credoras do] Clube de Paris".
Na avaliação do economista,
outro fator que dificulta a meta
do governo é "a incerteza que o
cenário político da Argentina
gera no exterior, com dúvidas
sobre sua governabilidade".
O governo Cristina Kirchner
saiu derrotado das eleições legislativas de junho passado e
perdeu a maioria no Congresso.
As próximas eleições presidenciais serão em 2011.
É também desafio de Boudou
recuperar a credibilidade do
Instituto de Estatísticas e Censos (Indec), suspeito de manipular os índices de inflação.
Junto com o anúncio da troca de bônus para a próxima semana, Boudou afirmou que entrará em funcionamento o conselho acadêmico convidado por
ele a supervisionar o Indec.
Ontem o instituto divulgou
índice de 8,8% de desemprego
-que aponta alta pela primeira
vez desde 2003, na comparação
com o ano anterior.
Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Crise encolhe bancos pequenos e médios Índice
|