São Paulo, sábado, 22 de agosto de 2009

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Argentina tenta voltar ao mercado de crédito

País anuncia proposta de troca de títulos da dívida e busca reingressar no mercado internacional após calote

SILVANA ARANTES
DE BUENOS AIRES

O ministro da Economia da Argentina, Amado Boudou, deu ontem mais um sinal de que o país busca ajustar suas contas e voltar ao mercado global de crédito ainda neste ano.
Ele anunciou que abrirá na semana que vem uma troca de bônus de curto prazo atrelados à inflação por papéis com vencimento mais longo, em 2014. A troca envolverá um total de 9 bilhões de pesos (US$ 2,3 bilhões). Pelo perfil dos papéis, a oferta se dirige sobretudo a investidores locais.
"Esse é mais um passo para o retorno [do país] aos mercados financeiros e uma forma de fortalecer a posição financeira do próximo ano, em relação ao peso da dívida sobre as contas públicas", afirmou o ministro.
O país vizinho afastou-se do mercado global de crédito desde o calote da dívida, em 2002. Após o colapso econômico de 2001, marcado por um cenário interno de ameaça de hiperinflação e confisco de depósitos bancários -o "corralito"-, a Argentina decretou moratória.
Em 2005, sob a Presidência de Néstor Kirchner (2003-2007), o país apresentou uma proposta de troca da dívida pública em moratória, então calculada em US$ 81 bilhões. A pressão da parcela dos credores que não aceitaram a oferta (os chamados "holdouts") é um desafio de Boudou para reaver a confiança internacional.
O economista Aldo Abram, diretor do Centro de Pesquisa de Instituições e Mercados da Argentina, avalia que "é muito improvável o retorno da Argentina ao mercado de crédito ainda neste ano".
Para Abram, "não há tempo suficiente para solucionar o problema dos "holdouts" com um refinanciamento ou uma nova troca, nem tampouco para implementar outras medidas indispensáveis, como a melhora da relação com o FMI (Fundo Monetário Internacional], e com o [grupo de nações credoras do] Clube de Paris".
Na avaliação do economista, outro fator que dificulta a meta do governo é "a incerteza que o cenário político da Argentina gera no exterior, com dúvidas sobre sua governabilidade".
O governo Cristina Kirchner saiu derrotado das eleições legislativas de junho passado e perdeu a maioria no Congresso. As próximas eleições presidenciais serão em 2011.
É também desafio de Boudou recuperar a credibilidade do Instituto de Estatísticas e Censos (Indec), suspeito de manipular os índices de inflação.
Junto com o anúncio da troca de bônus para a próxima semana, Boudou afirmou que entrará em funcionamento o conselho acadêmico convidado por ele a supervisionar o Indec.
Ontem o instituto divulgou índice de 8,8% de desemprego -que aponta alta pela primeira vez desde 2003, na comparação com o ano anterior.


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