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CÂMBIO
Analistas dizem que a moeda deve chegar em setembro a R$ 1,90, mas depende de atuação do governo
Só virada política pode segurar dólar
MARCELO DIEGO
RICARDO GRINBAUM
da Reportagem Local
A manobra executada pelo Banco Central anteontem, que evitou
a ultrapassagem da marca simbólica de dois reais por dólar, não
pode ser repetida sempre. Ao vender títulos com valor atrelado à
moeda norte-americana, o BC
acalmou o mercado, mas voltou a
alimentar sua dívida em dólares.
Para os economistas ouvidos
pela Folha, o câmbio só melhora
com sinais de virada no campo
político. Os analistas estão confiantes de que isso possa ocorrer e
que, em um mês, o teto do dólar
fique em torno de R$ 1,90.
"Em todo o mundo, intervenções no câmbio só dão resultado se forem alterados
os fundamentos que estão
provocando
problemas na
economia. E,
no caso brasileiro, a causa é
política", diz
José Júlio Senna, ex-diretor
do BC.
A grande razão que está levando bancos
e empresas a
comprar avidamente dólares ou títulos
atrelados à
moeda norte-americana é a
desconfiança
de que o governo não tem
mais força para
impor reformas e garantir um
ajuste fiscal definitivo. Além disso, há o medo do aprofundamento da crise na Argentina ou de
uma alta dos juros nos Estados
Unidos.
Se não ocorrer nenhuma surpresa, dizem os analistas, o calendário político pode trazer alívio.
"No dia 31, o governo apresenta
o Orçamento para o ano 2000. Há
uma análise de que o ajuste fiscal
deste ano se deve apenas a receitas
extraordinárias. É uma análise
equivocada. Os resultados de curto prazo têm sido bons e podem
continuar no ano que vem", afirma Carlos Kawall, economista-chefe do Citibank.
Apesar do temor difundido no
mercado e refletido no câmbio, os
economistas dizem que os fundamentos econômicos estão bons.
"A situação fiscal não é ruim, o
PIB (Produto Interno Bruto)
mostrou crescimento e a inflação,
a despeito dos aumentos de tarifas, está sob controle", afirma Rubens Sardenberg, economista do
ABN Amro Bank.
Para o ex-ministro Mailson da
Nóbrega, a situação política também é melhor do que parece. "Estão comparando a baixa popularidade do presidente Fernando
Henrique com a dos ex-presidentes Collor e Sarney. É um exagero", diz Nóbrega, que foi ministro
da Fazenda no final do governo
Sarney (88-89).
"No governo Sarney, havia a crise da dívida externa, a inflação estava alta e o presidente estava sendo abandonado pela base política.
O governo não tinha como inverter a situação."
Se o Brasil não está vivendo
uma forte crise política e econômica, como dizem os especialistas, por que
não diminui a
pressão sobre o
câmbio? "O
dólar está nitidamente superavaliado, mas
não se pode
descartar uma
nova alta porque tudo depende da percepção que o
mercado tem
da situação política", diz o ex-presidente do
BC Gustavo
Loyola.
Por isso, dizem os economistas, o governo precisa
dar sinais de
que tem força
para fazer as
reformas que
promovam o
ajuste fiscal.
Um efeito colateral de toda a
confusão no câmbio pode até ser
uma melhora da situação fiscal.
Com o dólar em alta, há pressão
por alta de preços. Os reajustes
corroem a renda da população
em geral, incluindo os salários do
funcionalismo público. "As contas públicas podem melhorar,
mas com custos para a população", diz Danny Rappaport, do
Banco Santander.
Para o economista Eduardo
Giannetti da Fonseca, professor
da Faculdade de Economia e Administração da USP, a grande inquietação é com uma desvalorização excessiva do real, atrelada a
economia aquecida e a juros baixos. "A experiência do início do
ano foi feita sob outras circunstâncias, com a economia desaquecida", afirma. Para ele, segurar os juros e reduzi-los mais (estão em 19,5% ao ano) é "a batalha
de vida ou morte" do BC adiante.
"É mais importante do que a crise
no câmbio."
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