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LUÍS NASSIF
A República Livre da Fazenda da Pedra
Esse povo do Nordeste, que tem
justo orgulho das suas raízes, não
economiza para enaltecer Antônio Conselheiro, quando este declarou independência do Brasil.
Mas lá na nossa região tivemos
também um levante bonito, que
quase culminou com a constituição da República Livre da Fazenda da Pedra.
O coronel José Custódio Dias de
Araújo, Zeca da Pedra, dono da
Fazenda da Pedra, era o maior
chefe político de Campestre, no
sul de Minas. A Pedra em questão
era uma portentosa pedra, no
meio de suas propriedades, de onde se avistavam muitas cidades
vizinhas. Quando Tiradentes foi
feito em picadinho, sua família
saiu da região de Ouro Preto e foi
se abrigar justamente na Fazenda da Pedra.
Nasceu lá em 1858 e morreu no
Rio em 1943. Foi vereador em
Campestre e concessionário da linha telefônica Poços-Campestre e
da Empresa de Luz Elétrica de
Campestre. Pertencia à mesma linhagem do capitão-mor de Machado, Custódio José Dias, participante da Segunda Junta Governativa de Minas, em 1822, e do
padre José Custódio Dias, senador do Império, que participou da
abdicação de Pedro I.
Era o chefe absoluto de Campestre até se meter com Arthur
Bernardes, o todo-poderoso presidente do Partido Republicano
Mineiro. Quando Bernardes assumiu, dentro do processo de renovação do PRM, sugeriu ao coronel Zeca que abrisse mão da
candidatura à Câmara estadual
em favor do próprio filho. O coronel não aceitou:
- Proponho que meu filho fique
na bitola estreita, candidatando-se à Câmara estadual, enquanto
eu vou para a bitola larga, a Câmara federal.
Bernardes não topou e romperam politicamente. A partir de
então o coronel sofreu perseguição política implacável, que culminou com a mudança das divisas municipais. O coronel acordou uma manhã e, em lugar de
Campestre, sua fazenda havia sido transferida para Machado.
Mudaram a pedra de município.
Anos depois, faleceu o presidente mineiro Raul Soares, sendo
substituído por Mello Vianna.
Em Belo Horizonte chegou a notícia que Zeca da Pedra havia comemorado a morte servindo
"cerveja para os miúdos, champanhe para os graúdos", e declarado a independência da República da Fazenda da Pedra. Conseguiu a adesão do padre local,
proibiu a entrada na cidade do
coletor de impostos, que nem seu
antepassado, e ficou esperando,
com batedores encarapitados na
pedra para observar a movimentação das tropas adversárias.
Você veja que não foi Itamar
quem inaugurou essa mania em
Minas de colocar PM para cercar
represa. Foi o coronel Zeca da Pedra, e para cercar a pedra. Imediatamente o PRM mandou tropa de 50 soldados incumbidos de
prender o Zeca e recuperar a pedra.
A tropa chegou em Poços de
Caldas e foi solicitar condução ao
delegado local. Este, de férias, havia sido substituído pelo interino,
José Luiz de Araújo Dias, dono da
companhia elétrica local, e mais
conhecido por Luiz da Pedra, filho do Zeca da mesma.
Nos anos de 1927 e 1928, o engenheiro Dias construiu uma estrada para automóveis de Poços a
Machado, passando por Campestre, financiada por seu pai, o coronel José Custódio Dias de Araújo, proprietário da Fazenda da
Pedra.
Enquanto providenciava a condução, Luiz da Pedra enviou
mensageiros para alertar o pai.
Zeca da Pedra juntou todo o dinheiro que tinha e fugiu para São
Paulo. Dali, para a Ilha da Madeira. Em São Paulo, com medo
de ficar com muito dinheiro na
mão, acabou adquirindo alguns
terrenos onde, anos depois, o governo paulista instalou o Aeroporto de Congonhas.
Os soldados da Força Pública
rumaram para Campestre, mas
não encontraram o Zeca. Ficaram alguns dias na cidade em
perfeita ordem, até o justo momento em que um italiano local,
dono de uma vinícola, teve a infeliz idéia de convidá-los a provar o
vinho. Produziu-se um terremoto
inédito na cidade. Os soldados
pararam o relógio da Matriz a tiro, invadiram uma fazenda das
imediações e praticaram tiro ao
alvo em uma vaca do fazendeiro
Bié Junqueira, mais conhecido
por Bié Calado, por gostar muito
de ouvir, e poucos terem ouvido
algum dia sua voz.
Bié Calado estava na fazenda
Recreio, de Poços de Caldas,
quando comunicaram o fuzilamento de sua vaca.
Ele disse:
- Canalhas!
E voltou a se calar.
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