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MERCADO TENSO
Governo dispensou US$ 4,3 bi porque pagaria juros e não poderia usá-los para segurar câmbio
Terceira parcela do FMI não seria útil
MARCIO AITH
de Washington
Ao contrário da mensagem que
o governo brasileiro pode ter tentado passar aos mercados ao
anunciar que não sacaria a terceira parcela do empréstimo organizado pelo FMI (Fundo Monetário
Internacional) no ano passado,
rejeitar dinheiro do Fundo não é
prova de tranquilidade financeira, muito pelo contrário.
Desde que instituiu o câmbio livre e revisou seu programa com o
Fundo no primeiro trimestre, o
governo se comprometeu com regras que limitam drasticamente a
possibilidade de intervenção no
câmbio e estabelecem níveis mínimos de reservas.
Portanto, o dinheiro da parcela
de US$ 4,3 bilhões do FMI não
poderia, de qualquer maneira, ser
usado para segurar o valor da
moeda. O governo levantaria esse
dinheiro e, provavelmente, seria
obrigado a assistir à desvalorização do real, como vem fazendo.
Diante de tal situação, rejeitar o
dinheiro foi uma estratégia rotineira que tem sentido somente
em outro plano. O plano da falta
de opções.
O país paga taxas de juros (de
mercado) sobre os empréstimos
do FMI que levanta. É mais interessante, portanto, buscar essa
terceira parcela só em casos extremos de crise no balanço de pagamentos, financiando importações
e pagando juros da dívida externa.
Nesse caso, a decisão do governo foi rotineira e lógica. Mas seu
anúncio, feito pelo diretor de Assuntos Internacionais do BC, Daniel Gleizer, revela uma contradição do governo.
A equipe econômica tem divulgado com destaque algumas decisões com relação ao programa do
FMI e escondido outras.
No dia 17 de junho passado, os
mercados ficaram sabendo pelo
presidente dos EUA, Bill Clinton,
que o Brasil havia decidido pagar
somente 30% da primeira parcela
de US$ 4,15 bilhões que pegou do
BIS (Banco para Compensações
Internacionais) e cujo pagamento
vencia naquele dia.
"O Brasil indicou que não seria
aconselhável pagar 100% das primeiras parcelas do acordo agora,
dada a persistência dos riscos e incertezas da economia global", disse Clinton ao Congresso.
Provavelmente por entender
que tal notícia poderia dar um sinal de fragilidade aos mercados
-embora ela também seja rotineira-, ela não foi anunciada no
Brasil
Agradecimentos
No FMI, a decisão brasileira de
não levantar a terceira parcela do
empréstimo foi vista com pouca
surpresa, embora o ministro da
Fazenda, Pedro Malan, tenha escrito cartas comunicando o fato a
autoridades norte-americanas
num clima de agradecimento e de
entusiasmo com a situação do
país.
A diretoria do Fundo está preocupada com o câmbio brasileiro,
e não com o volume de recursos
que o país levanta na instituição.
Além disso, o Fundo sabe que o
Brasil não é pioneiro na decisão:
Argentina, Peru, Uruguai, El Salvador e Cabo Verde fazem parte
da enorme lista de países que tiveram dinheiro liberado pelo FMI,
mas não o levantaram.
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