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LUÍS NASSIF
A ingenuidade política
Ser ingênuo em política é bom
ou mau sinal? É preferível o malicioso ao ingênuo, o dissimulado
ao de boa-fé? A julgar pelas "denúncias" envolvendo o governador do Espírito Santo, José Ignácio, é mau negócio ser transparente na vida pública.
Ignácio candidatou-se ao governo do Espírito Santo. Eleito, tinha dívida de campanha. Contratou um empréstimo de R$ 3,2
milhões junto ao Banco do Estado
do Espírito Santo (Banestes). No
vencimento, houve uma operação
bancária que permitiu que o empréstimo fosse quitado com doação de campanha, feita por duas
empresas especializadas em serviço público. A doação foi registrada no Tribunal Regional Eleitoral, assim como todas as despesas
de campanha.
Teria sido simples ao governador evitar o escândalo. Bastaria
ter montado a operação com um
banco privado ou indicado um
"laranja". Em vez disso, decidiu
fazer a operação com o banco de
seu Estado -do qual era cliente
há anos-, seguindo todos os procedimentos de crédito bancário,
apresentando garantias e pagando juros de mercado. O empréstimo foi quitado no prazo, trazendo lucro ao banco. Onde está o escândalo? Seguramente no arrombamento do direito constitucional do sigilo bancário. Mas não
foi isso o que ocorreu.
Bastou divulgar a operação em
forma de escândalo para que tudo parecesse escandaloso. Quando não se identificou nenhuma irregularidade, partiu-se para as
chamadas indagações acusatórias: por que duas empresas prestadoras de serviço público contribuiriam para a campanha de José
Ignácio? Pelo mesmo motivo que
empresas contribuem para as
campanhas de FHC, Lula, Ciro
Gomes, ACM, Covas, Britto, Garotinho etc. Ou toda contribuição
eleitoral é imoral ou não se pode
conferir às contribuições para a
campanha de José Ignácio uma
imoralidade que só é decorrência
da maneira escandalosa com que
se divulgou o fato.
É o mesmo caso das denúncias
do ex-ministro da Justiça Renan
Calheiros contra o governador de
São Paulo, Mário Covas. Calheiros saiu do governo agastado com
Covas. A carta remetida a Fernando Henrique é um conjunto
de suposições sobre as razões que
teriam levado Covas a criticá-lo
publicamente.
É um contra-senso imaginar
que o governador que controla o
segundo orçamento da República
vá patrocinar negócios no governo federal, ficando nas mãos de
um ministro de partido contrário.
Se tivesse que fazer negociatas,
Covas teria feito em seu próprio
Estado, com gente da sua confiança.
Tem alguma coisa de podre nesse modo de fazer notícia -que virou padrão internacional.
Língua-de-Trapo
Do notável analista Noel Rosa,
sobre a cena pública brasileira
atual: "Você me disse que a vizinha disse / que eu sempre disse
que você é louca. / Essa vizinha
que só faz trancinha / de falar sozinha, vive sempre rouca. / (...)
Encontrei ate quem garantisse /
que a vizinha disse que eu falei
demais. / E esse alguém que fala
mal de todo mundo / creio que no
fundo não e mau rapaz. / Que
bom seria se eu, face a face, / hoje
declarasse para a vizinha rouca /
que ela deve se chamar Língua-de-Trapo / quanto bate-papo!
quanto bate boca!".
Índex
Talvez fosse o caso de montar
um antiíndex, que valesse para
todos os órgãos de imprensa, para evitar a repetição de erros que
já foram retificados, mas permanecem soltos no ar, como ectoplasmas. Exemplos recentes:
* O cirurgião Roberto Pagura
não ressuscitou Cláudia Liz ou
Osmar Santos. No caso Liz, principalmente, Pagura limitou-se a
dar manutenção ao que havia sido feito no primeiro atendimento
e a propagandear o que não fez.
* O ex-ministro da Saúde de
Collor Alceni Guerra não saiu do
governo coberto de acusações. Foi
vítima de uma acusação -a
compra de bicicletas- que se revelou infundada. Foi absolvido
em todas as instâncias.
E-mail: lnassif@uol.com.br
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