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ENCONTRO
Wolfensohn, presidente da instituição, afirma que crises financeiras afetam basicamente os pobres
Problema da AL é desigualdade, diz Bird
MARCIO AITH
de Washington
O Bird (Banco Mundial) definiu
a desigualdade social como principal problema econômico da
América Latina e teme que os governos da região desperdicem a
oportunidade que a crise dos
mercados mundiais estaria dando a eles para desafiarem "as forças estabelecidas da sociedade" e
reformarem seus sistemas de
educação, Judiciários e financeiros.
A análise foi feita pelo presidente da instituição, James Wolfensohn, em entrevista que abriu ontem em Washington o encontro
anual do Bird e do FMI (Fundo
Monetário Internacional).
"As pessoas afetadas por crises
financeiras são basicamente os
pobres. E, embora exista uma alta
renda per capita na América Latina, o que se vê é uma enorme desigualdade. Tudo o que estamos
fazendo no continente visa obter
uma melhor distribuição (de renda)", disse ele.
Segundo Wolfensohn, é mais
fácil promover mudanças em situação de crises e a moderada recuperação dos mercados nos últimos meses tende a reduzir a pressão por mudanças. "Acho que, se
observarmos crises anteriores ao
redor do mundo, em especial na
América Latina, quando as coisas
começam a ficar róseas novamente as pessoas vão para os
mesmos padrões de comportamento de antes. É o comportamento humano. Quando há crises, você tem um motivo para
mudar. Quando a crise se vai, as
forças estabelecidas da sociedade
são menos ameaçadas, existe uma
menor pressão sobre elas."
O presidente do Bird fez referência a uma contradição clássica
dos indicadores econômicos da
região. O PNB (Produto Nacional
Bruto) per capita dos países da
América Latina (US$ 3.940) é o
maior entre todos os grupos de
países pobres e em desenvolvimento. No entanto, os indicadores sociais referentes à educação,
à saúde e ao desemprego na América Latina estão entre os mais
baixos do mundo.
Wolfensohn voltou a repetir a
preocupação com o aumento global da pobreza. "No final do milênio, teremos 6 bilhões de pessoas
no planeta, dos quais 3 bilhões viverão com uma renda inferior a
US$ 2 por dia e 1,3 bilhão de pessoas com menos de US$ 1 por dia.
A questão, para nós, é descobrir
como podemos reduzir o número
de pobres."
Se depender de Wolfensohn, as
reuniões conjuntas do FMI e do
banco que preside serão monopolizadas por discussões sobre
pobreza. Mas os mercados mundiais têm uma agenda própria para o evento.
Investidores têm criticado o
FMI por ter, surpreendentemente, apoiado o anúncio do governo
equatoriano de não repagar US$
96 milhões de sua dívida representada por títulos "Brady".
Depois de não respeitar um primeiro prazo de pagamento, o
Equador será considerado oficialmente inadimplente caso não pague esse valor até o dia 28 de setembro, ainda durante as discussões do Fundo. Caso confirmado,
será o primeiro calote com esse tipo de títulos desde que eles foram
criados, em 1985, como forma de
renegociar dívidas já vencidas dos
países da América Latina em crise.
Na semana passada, o IIF (Instituto de Finanças Internacionais),
instituição sediada em Washington que representa interesses de
300 dos maiores bancos do mundo, alertou que investidores em títulos poderão promover uma nova fuga de capitais dos mercados
emergentes caso o Equador confirme a moratória.
Segundo o texto de uma carta
enviada pela entidade ao FMI, a
perspectiva de uma moratória no
Equador e o aparente apoio do
Fundo a essa moratória poderão
reduzir ainda mais o fluxo de capitais para os mercados emergentes.
Segundo o IIF, esse fluxo já é
ruim. A previsão da instituição é
que o volume líquido dos empréstimos diretos e de investimentos
em títulos de economias emergentes deverá ficar em zero ou até
negativo em 1999, apesar da recuperação das economias asiáticas e
brasileira.
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