São Paulo, Quarta-feira, 22 de Setembro de 1999
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ENCONTRO
Wolfensohn, presidente da instituição, afirma que crises financeiras afetam basicamente os pobres
Problema da AL é desigualdade, diz Bird

MARCIO AITH
de Washington

O Bird (Banco Mundial) definiu a desigualdade social como principal problema econômico da América Latina e teme que os governos da região desperdicem a oportunidade que a crise dos mercados mundiais estaria dando a eles para desafiarem "as forças estabelecidas da sociedade" e reformarem seus sistemas de educação, Judiciários e financeiros.
A análise foi feita pelo presidente da instituição, James Wolfensohn, em entrevista que abriu ontem em Washington o encontro anual do Bird e do FMI (Fundo Monetário Internacional).
"As pessoas afetadas por crises financeiras são basicamente os pobres. E, embora exista uma alta renda per capita na América Latina, o que se vê é uma enorme desigualdade. Tudo o que estamos fazendo no continente visa obter uma melhor distribuição (de renda)", disse ele.
Segundo Wolfensohn, é mais fácil promover mudanças em situação de crises e a moderada recuperação dos mercados nos últimos meses tende a reduzir a pressão por mudanças. "Acho que, se observarmos crises anteriores ao redor do mundo, em especial na América Latina, quando as coisas começam a ficar róseas novamente as pessoas vão para os mesmos padrões de comportamento de antes. É o comportamento humano. Quando há crises, você tem um motivo para mudar. Quando a crise se vai, as forças estabelecidas da sociedade são menos ameaçadas, existe uma menor pressão sobre elas."
O presidente do Bird fez referência a uma contradição clássica dos indicadores econômicos da região. O PNB (Produto Nacional Bruto) per capita dos países da América Latina (US$ 3.940) é o maior entre todos os grupos de países pobres e em desenvolvimento. No entanto, os indicadores sociais referentes à educação, à saúde e ao desemprego na América Latina estão entre os mais baixos do mundo.
Wolfensohn voltou a repetir a preocupação com o aumento global da pobreza. "No final do milênio, teremos 6 bilhões de pessoas no planeta, dos quais 3 bilhões viverão com uma renda inferior a US$ 2 por dia e 1,3 bilhão de pessoas com menos de US$ 1 por dia. A questão, para nós, é descobrir como podemos reduzir o número de pobres."
Se depender de Wolfensohn, as reuniões conjuntas do FMI e do banco que preside serão monopolizadas por discussões sobre pobreza. Mas os mercados mundiais têm uma agenda própria para o evento.
Investidores têm criticado o FMI por ter, surpreendentemente, apoiado o anúncio do governo equatoriano de não repagar US$ 96 milhões de sua dívida representada por títulos "Brady".
Depois de não respeitar um primeiro prazo de pagamento, o Equador será considerado oficialmente inadimplente caso não pague esse valor até o dia 28 de setembro, ainda durante as discussões do Fundo. Caso confirmado, será o primeiro calote com esse tipo de títulos desde que eles foram criados, em 1985, como forma de renegociar dívidas já vencidas dos países da América Latina em crise.
Na semana passada, o IIF (Instituto de Finanças Internacionais), instituição sediada em Washington que representa interesses de 300 dos maiores bancos do mundo, alertou que investidores em títulos poderão promover uma nova fuga de capitais dos mercados emergentes caso o Equador confirme a moratória.
Segundo o texto de uma carta enviada pela entidade ao FMI, a perspectiva de uma moratória no Equador e o aparente apoio do Fundo a essa moratória poderão reduzir ainda mais o fluxo de capitais para os mercados emergentes.
Segundo o IIF, esse fluxo já é ruim. A previsão da instituição é que o volume líquido dos empréstimos diretos e de investimentos em títulos de economias emergentes deverá ficar em zero ou até negativo em 1999, apesar da recuperação das economias asiáticas e brasileira.



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